Tony Goes

Primeiro capítulo de 'Vai na Fé' não dá ênfase à religião da protagonista

Nova novela das 19h da Globo estreia sem cenas mirabolantes

Sheron Menezzes caracterizada como a personagem Sol de 'Vai na Fé' - Globo/João Miguel Júnior

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Desde que a Globo anunciou, alguns meses atrás, que a protagonista de sua nova novela das 19 horas seria uma mulher evangélica, muito se discutiu o assunto na imprensa.

A emissora, de fato, está acenando a uma parcela considerável e crescente da população, depois de décadas de um certo descaso. Mas, pelo que se viu no capítulo de estreia de "Vai na Fé", que foi ao ar nesta segunda (16), a religião não é um dos pilares da trama.

Bem que a autora Rosane Svartman avisou: o fato de Sol ser evangélica é só um componente a mais de sua personalidade, e não seu eixo principal. Vivida por Sheron Menezzes, a personagem é mais uma variante da mulher batalhadora de classe baixa, uma protagonista frequente das novelas brasileiras nos últimos anos.



Neste primeiro episódio, Sol aparece cantando –com uma linda voz– no coral da igreja que frequenta com a família. Em seguida, ela pede ajuda ao pastor para conseguir emprego para o marido. Algo comum em muitos templos evangélicos, que funcionam como autênticos centros comunitários.

A igreja apresentada é bonita, colorida, bem iluminada, e em nenhum momento vemos o pastor pedindo dinheiro aos fiéis. "Vai na Fé", evidentemente, não pretende fazer nenhuma crítica a nenhuma religião, e nem teria por quê. Afinal, se Sol fosse católica, ninguém reclamaria se o padre não aparecesse em cena molestando meninos.

Pois, além de atrair o público evangélico, "Vai na Fé" tem uma missão oposta e simétrica: atrair o espectador que tem preconceito contra este segmento.

Sol vende quentinhas na rua, e sofre com as batidas frequentes da polícia. No momento, também é a única provedora de sua família: seu marido Carlão (Ches Moais) perdeu o emprego na pandemia, e se sente mal por não encontrar trabalho. Um drama comum a milhões de famílias brasileiras.

Outros núcleos foram introduzidos neste primeiro episódio. Quem teve mais destaque foi a advogada Lumiar, que marca o retorno de Carolina Dieckmann às novelas depois de um hiato de quatro anos. Mais bonita do que nunca, a atriz passou a firmeza necessária para sua personagem, uma respeitada criminalista, sem apelar para os clichês da mulher durona.

Lumiar dá aulas na faculdade de Direito onde Jenifer, filha mais velha de Sol e Carlão, feita por Bella Campos, começa a estudar. Chamou a atenção a quantidade de colegas e até rivais que Jenifer tem lá, um tipo de ambiente que não costuma ser explorado por novelas. Há um certo clima de "Malhação" no ar, que deixa patente a intenção da Globo de falar com o mais arredio de seus alvos: os adolescentes, que andam trocando a TV aberta por séries no streaming.