Harry e Meghan se expõem na mídia para criticar família real e a mídia
Príncipe britânico repete a tática de sua mãe, a princesa Diana
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Afinal, o que querem o príncipe Harry e sua mulher, a ex-atriz americana Meghan Markle? Existe uma expressão em inglês, sem tradução exata para a nossa língua, que resume o objetivo do casal: eles querem "eat their cake and have it". Querem comer o bolo, mas também deixá-lo intacto.
O duque e a duquesa de Sussex, outros dos títulos nobiliárquicos do casal, vêm fazendo uma grande investida de relações públicas desde o começo de dezembro passado. Primeiro, lançaram a série "Harry & Meghan" na Netflix. Ao longo de seis episódios, eles relatam, em primeira pessoa, como se conheceram, como foi o namoro e o noivado, e os problemas que Meghan passou a enfrentar assim que entrou para a família real britânica.
Por um lado, integrantes do próprio clã Windsor a teriam infernizado com insinuações e piadas de cunho racista. Por outro, a implacável imprensa popular britânica, famosa pelo sensacionalismo e irresponsabilidade, publicava reportagens sobre o temperamento "intratável" da duquesa. Ela suspeita de que essas duas instituições, nobreza e mídia, estariam agindo em conjunto.
Nesta terça (10) será publicado, no exterior, o livro "Spare", uma autobiografia de Harry. O título, que pode ser traduzido como "estepe", se refere ao fato de que a função institucional do príncipe é ser o substituto eventual de seu irmão mais velho William —uma possibilidade cada vez mas remota, já que os três filhos do herdeiro oficial do trono estão à frente de Harry na linha de sucessão.
"Spare" traz várias revelações. Uma delas pode tornar Harry alvo preferencial de terroristas islâmicos: ele admite que matou cerca de 25 talibãs ao longo das seis missões que cumpriu na guerra no Afeganistão.
Outras são relativamente chocantes, como a admissão de que ele já cheirou cocaína. E também há as que resvalam para a categoria "mais do que eu queria saber", como o fato de o príncipe ter tido seu pênis congelado durante uma viagem ao Polo Norte em 2011.
Mas tudo isso são detalhes perto do que parece ser o objetivo maior do livro: atacar a família real, especialmente o príncipe William. As queixas contra o irmão mais velho, mais cioso de seus deveres oficiais e preocupado em ser ofuscado pela popularidade do irmão caçula, parecem dar o tom de "Spare".
Harry e Meghan acusam o Palácio de Buckingham de não os ter protegido quando os tabloides do Reino Unido pintaram a ex-atriz como uma megera. Um deles publicou uma carta pessoal dela para o pai, com quem tem más relações. Quem vazou o documento? O caso rendeu um longo processo judicial, afinal vencido por Meghan, mas deixou cicatrizes profundas no casal.
No entanto, ao mesmo tempo em que reclamam de terem sua privacidade invadida, o casal não foge da mídia. Se quisessem, talvez pudessem levar uma vida discreta como a do príncipe Edward, o irmão mais novo do rei Charles, que raramente é notícia. Mas eles preferiram se expor e tomar conta da própria narrativa.
Além do mais, Harry e Meghan não querem mais os deveres que ser um membro da família real acarreta, mas gostariam de manter o mesmo padrão de vida. Mansões cinematográficas, viagens em jatinhos, acesso imediato aos poderosos do mundo inteiro. Tudo isto custa caro, e o dinheiro precisa vir de algum lugar.
Pelo jeito, está vindo da minissérie da Netflix e do livro "Spare". Harry repete a mesma estratégia de sua falecida mãe, a princesa Diana, que deu entrevistas devastadoras sobre sua intimidade para atingir seu ex-marido e a amante deste, a atual rainha consorte Camilla Parker-Bowles. No final, porém, pode-se dizer que Diana foi vítima dessa própria mídia que ela tentou controlar.
Ou seja: Harry e Meghan estão fazendo um jogo arriscado, na tentativa de se manterem sob os holofotes e, quem sabe, se vingarem de seus desafetos. Para que lado a corda vai arrebentar? A relação do príncipe com sua família pode estar definitivamente estremecida. Mas, a longo prazo, é a própria monarquia britânica, uma instituição cada vez mais incongruente, que corre sé rio perigo.