Tony Goes

'O que os artistas estão vivendo é quase uma perseguição política', diz Alexandra Richter

Atriz está em cartaz em São Paulo com o monólogo cômico 'Uma Loira na Lua'

Alexandra Richter - Instagram/alexandrarichteroficia

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Alexandra Richter caiu na estrada. Mais especificamente, na estrada que liga Campinas, onde a atriz está morando, à capital paulista, para onde vem nos finais de semana, atuar no monólogo "Uma Loira na Lua".

A peça é uma nova versão do espetáculo que ela estrelou em 2004, no Rio de Janeiro, e que lhe rendeu uma virada profissional. "Eu já tinha 36 anos e ninguém me chamava para nada", conta Alexandra. "Depois de 'Uma Loira na Lua', fui convidada pelo Maurício Sherman para trabalhar no Zorra Total, na Globo, e a minha carreira finalmente deslanchou".

Seguiram-se diversos papéis marcantes, no teatro, no cinema e na TV. Alexandra ficou três anos em cartaz com a peça "Divã", ao lado de Lília Cabral. Também fez Iesa, a irmã de dona Hermínia na trilogia de filmes "Minha Mãe é uma Peça".

"Trabalhar com Paulo Gustavo foi uma honra e uma alegria", diz. "Ele era uma explosão de alegria, sempre preocupado com todo mundo. Fiquei muito mexida, desde a internação dele, e demorei para aceitar sua morte. Hoje estaríamos fazendo a série 'Minha Mãe É uma Peça' para o Globoplay. Eu nem teria feito a novela".

Alexandra se refere a "Além da Ilusão", atual ocupante da faixa das 18 horas na Globo, que termina nesta sexta-feira (19). Seu papel na trama é o da divertida Julinha Figueiredo Andrade, uma mulher viciada em jogo que, por causa disso, não pode por os pés no cassino do marido.

"Foi maravilhoso receber o convite para esta novela. Eu andava muito triste com a pandemia e a morte do Paulo Gustavo. O elenco começou a ensaiar em agosto e setembro de 2021, todo mundo de máscara. Quando finalmente entramos em estúdio, estávamos todos muito unidos".

As gravações terminaram em julho passado, e agora Alexandra está 100% dedicada a "Uma Loira na Lua". A peça, que deveria ter entrado em cartaz em março de 2020, foi adiada por causa da pandemia. Finalmente estreou no dia 5 de agosto passado, no teatro Opus, em São Paulo, onde fica até 25 de setembro. Depois, faz um fim de semana em Campinas e excursiona pelo interior de São Paulo.

"Tive que mudar o texto, por causa da pandemia. Antes, a personagem Marli de Bangu vendia um plano de assistência funeral. Ela mostrava um caixão pintado no estilo do Romero Britto, que tinha até frigobar. Não tenho condição de fazer essa piada nesse momento. Agora ela vende terrenos na Lua".

O espetáculo também passou por uma depuração. Estreou com uma hora e meia de duração, mas já perdeu meia hora. Ficou mais ágil e, para Alexandra, menos cansativo.

"Uma Loira na Lua" é uma espécie de retrospectiva da carreira da própria Alexandra. Entre os vários personagens que interpreta está o de uma atriz que, para sobreviver, faz telegramas falados e se veste de bicho em festas infantis. "Eu fiz muito disso", ri ela. "Fui galinha, pata, garça, as penosas todas".

Também é um tributo às grandes comediantes femininas do passado. Uma delas é evocada em cena: Lucille Ball, a pioneira da sitcom americana. Alexandra faz um esquete inspirado no famoso teste para um comercial de xarope, um dos momentos mais engraçados da série "I Love Lucy".

Lucille e nomes como Marília Pera, Dercy Gonçalves, Zezé Macedo, Marina Miranda, Dirce Migliaccio e muitas outras são lembradas no final do espetáculo. "Algumas delas foram grandes estrelas. Outras, nem tanto. Quis prestar minha homenagem a todas".

Alexandra e seu marido Ronaldo, que trabalha na área de inteligência artificial de uma grande empresa farmacêutica, estão morando em Campinas por causa da filha Gabriela, que estuda medicina na cidade. Ela está adorando seu novo endereço, mas se preocupa com o futuro do país.

"O momento atual é um dos piores que já vivemos. Não sei como alguém consegue defender esse governo e achar que está bom. A população está faminta, a fome voltou a assolar o Brasil, tem pessoas revirando lixo".

"Além do mais, há um projeto para destruir a cultura, a ciência e o meio ambiente", acrescenta Alexandra. "O que os artistas estão passando é quase uma perseguição política. Por isto, eu torço muito para que as pessoas tenham discernimento na hora de votar. Não podemos dar continuidade ao que estamos vivendo".