Não importam as regras, não importa o prêmio final. O que decide mesmo o sucesso de um reality show é a escolha do elenco. Os participantes precisam "render televisão": têm que ter personalidades marcantes e trajetórias interessantes, que gerem engajamento com o público.

A esse mix de qualidades nós damos hoje o nome de "narrativa". De onde veio o jogador, e o que ele quer? Dizer que ele sempre sonhou em ganhar R$ 1,5 milhão não basta. É preciso mais.

Nos últimos anos, o BBB foi rico em narrativas. O Brasil se encantou com Thelma de Assis em 2020: a médica negra competente e batalhadora, amiga de todos, mas sempre disposta a defender com elegância seus pontos de vista. A edição de 2021 gerou dois fenômenos de popularidade: Gil do Vigor, carismático e engraçado, e Juliette, a moça-cacto e eventual vencedora do programa.

Todos esses participantes vieram do Pipoca, o grupo de anônimos que se contrapõe ao Camarote, formado por celebridades. Desde que essa divisão passou a vigorar, nenhum famoso chegou em primeiro lugar. Mas este ano pode ser diferente.

O grupo Pipoca vai mal das pernas. Ninguém ali se destacou. E olha que a produção seguiu a receita habitual, misturando beldades e tipos supostamente exóticos. Houve uma tentativa clara de replicar Gil do Vigor com a escalação de Vinícius. Eslovênia também parecia estar posicionada para ser a nova Juliette. Nenhum dos dois chegou lá.

Pior: nenhum dos dez pipoqueiros tem uma narrativa mais consistente do que "sempre sonhei em participar do Big Brother e quero muito ganhar esse prêmio". Dessa forma, saíram em desvantagem em relação ao pessoal do Camarote, todos já razoavelmente conhecidos.

Arthur Aguiar quer se redimir depois dos adultérios que cometeu. Jade Picon usa a inteligência e o carisma que a fizeram ter mais de 18 milhões de seguidores nas redes sociais. Tiago Abravanel entrou na casa como uma espécie de colchão humano, para amortecer os conflitos e pregar o amor. Goste-se ou não, são todas narrativas válidas.

A que não valeu foi a de Naiara Azevedo. A cantora foi ao BBB para turbinar a carreira e promover uma música que gravou com Marília Mendonça. A estratégia vazou antes mesmo do programa estrear, angariando a antipatia de boa parte do público.

Uma vez lá dentro, Naiara se mostrou inconveniente, insegura e infantil. Falou de boca cheia, pisou de salto na mão de Eliezer e esmurrou uma placa de madeira para que esta se encaixasse nos pinos durante uma prova. Gerou memes instantâneos e bastante diversão. Vai fazer falta.

Quem não faria falta alguma seria Lucas, que escapou deste último paredão na Prova Bate e Volta. O Barão da Piscadinha se acha irresistível, e que só isto já basta para permanecer no jogo. Tomara que seja eliminado em breve.

Nesta quarta-feira (9) serão revelados os nomes dos integrantes da Casa de Vidro, que será instalada na sexta (11) no jardim da casa. A internet especula que Inês Brasil ou Karol Conká estarão entre eles, mas Boninho já avisou que serão novos membros do Pipoca. Ou seja, ilustres desconhecidos.

A Casa de Vidro já foi usada diversas vezes pelo BBB, e sempre serviu para dar uma chacoalhada nos rumos da competição. Talvez nunca tenha sido tão necessária quanto agora: o grupo Pipoca está murcho e sem sal. Que venham novas narrativas, pois.