'Parot': Ator argentino Michel Brown fala de seu personagem dúbio na série
Disponível na Paramount+, produção espanhola tem roteiro premiado
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Em 2006, o Tribunal Supremo da Espanha (equivalente ao nosso STF), julgou um recurso apresentado por Henri Parot, um ex-integrante do ETA condenado a 26 penas diferentes. Somadas, elas chegavam a 4.800 anos de prisão.
O terrorista queria que elas fossem reunidas numa única condenação, e que ele pudesse ser libertado ao completar 30 anos de encarceramento –a pena máxima prevista pela legislação espanhola.
A corte decidiu exatamente o contrário, gerando assim uma jurisprudência conhecida como Doutrina Parot, que retardava a libertação de prisioneiros condenados por crimes graves, como atentados e estupros.
No entanto, em 2013, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos anulou esta doutrina, levando à soltura imediata de quase uma centena de presos. A comoção foi geral, porque violadores e assassinos de crianças de repente voltaram à circulação.
Este é o pano de fundo da série espanhola “Parot”, cuja primeira temporada está disponível na plataforma Paramount+. Na trama, acontece algo que não ocorreu na vida real: um misterioso mascarado começa a eliminar alguns dos criminosos libertados, matando-os da mesma maneira como eles mataram suas vítimas.
A polícia sai, então, em busca desse vingador. Ao mesmo tempo, a inspetora Isabel Mora –vivida por Adriana Ugarte, do filme “Julieta”– se vê perseguida pelo mesmo homem que a violentou quando ela era adolescente.
Esta dubiedade deu a “Parot” o prêmio de melhor roteiro no Festival de Séries de Berlim, no início deste ano. E nenhum personagem é tão dúbio quanto Roberto Plaza, um ex-prisioneiro condenado por estupro e assassinato, vivido pelo ator argentino Michel Brown –famoso em toda a América Latina desde que, em 2003, estrelou a novela colombiana “Paixões Ardentes”, disponível na Netflix.
“O espectador não sabe se fica com raiva do personagem, ou se tem vontade de lhe dar um abraço”, comenta Brown. Plaza precisa de ajuda psiquiátrica para se reintegrar à sociedade, e é atendido pela terapeuta Andrea Llanes –justamente a mãe de Isabel Mora. Não demora para ele misturar as bolas e se envolver com a médica. “É a relação mais distorcida que eu já vivi numa série”.
Um personagem tão complexo geralmente demanda tempo para o ator construí-lo, mas a pandemia não permitiu isto. “Não fizemos leitura de mesa, nem ensaiamos muito”, conta Brown, que passou três meses em Madri rodando “Parot”, no final de 2021. Ele acrescenta que admirava há anos a atriz espanhola Blanca Portillo, que interpreta Andrea, mas nunca haviam trabalhado juntos. “Ela não tinha tempo para ensaiar, porque estava em turnê com uma peça. Mal nos conhecemos e já saímos filmando. Mas é um monstro como profissional. Muito generosa e sempre disposta a arriscar”.
Para completar, logo no primeiro dia o diretor pediu que Brown tentasse algo contrário ao que o ator havia imaginado: fizesse de Roberto Plaza um tipo atormentado, frágil, pouco seguro de si. “Na hora eu me assustei, mas deu certo. A minha própria vulnerabilidade como ator contribuiu para a do personagem”.
Depois de uma sequência de vilões e figuras sombrias –recentemente, Michel Brown encarnou o violento conquistador espanhol Pedro de Alvarado na série “Hernán”, sobre a conquista do império asteca– o ator sorri aliviado quando lembra que seu último trabalho foi uma comédia, a ainda inédita “Cecilia”. “Essa variedade é justamente o que nós, atores, buscamos”.
Nos planos de Michel Brown para o futuro, há um musical a ser feito no México, do qual ele ainda não pode entrar em detalhes. E a vontade de trabalhar no Brasil, um sonho acalentado há alguns anos.