Tony Goes

Com mortes de Paulo José e Tarcísio Meira, país perde dois gigantes em 24 h

Atores tiveram longas carreiras na TV e cinema, e papéis inesquecíveis

Programa Encontro com Fátima, da Globo, mostra Tarcísio Meira (à dir.) e Paulo José (à esq.), mortos em menos de 24 horas - Reprodução

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Não é fácil ser brasileiro, ainda mais em 2021. Pandemia, inflação e falta de civilidade são apenas três dos muitos males que nos afligem. De quarta (11) para quinta-feira (12), então, ficou ainda mais difícil. Em menos de 24 horas, perdemos dois dos nossos maiores atores de todos os tempos: Paulo José e Tarcísio Meira. Dois talentos muito diferentes entre si, o que comprova a vitalidade das nossas artes cênicas.

O gaúcho Paulo teve seus maiores papéis no cinema, principalmente nas décadas de 1960 e 1970, mas emplacou pelo menos um personagem icônico na TV: o faz-tudo Shazan, da inesquecível dupla com Xerife (Flávio Migliaccio), surgida na novela “O Primeiro Amor”, de 1972, e depois protagonista de seu próprio seriado infanto-juvenil.

O paulista Tarcísio também fez muitos filmes, mas entrou para a história como o maior galã da TV brasileira. Porque era o pacote completo: além da indispensável beleza física para os papéis românticos, também tinha carisma e um talento que foi sendo burilado aos poucos.

A beleza de Paulo José era mais “normal”, mais da vida real, e tornava crível seus papéis de mulherengo em longas como “Todas as Mulheres do Mundo” (1966) ou “Cassy Jones, Magnífico Sedutor” (1972). Mas suas maiores armas eram a voz, quase sempre tranquila, e o olhar, instigante e vulnerável, à procura de respostas ou de uma rota de fuga.

Olhar e voz também eram pontos fortes de Tarcísio, mas em outro registro. Complementavam à perfeição o rosto esculpido, que fariam dele um grande astro em qualquer país do mundo. É tentador imaginar o que poderia ter feito em Hollywood.

Ambos saíram de cena relativamente cedo. Paulo José teve a carreira abreviada pela doença de Parkinson, que ele levava na galhofa –chamava-a de “Parkinson de diversões”. Mesmo assim, teve pelo menos dois papéis marcantes na última década. Um deles foi como o pai de Selton Mello em “O Palhaço”, de 2011, filme dirigido pelo ator que agora faz D. Pedro 2º na novela “Nos Tempos do Imperador”. O outro foi o Benjamin Machado da novela “Em Família”, de 2014, escrito sob medida por Manoel Carlos: assim como seu intérprete, o personagem também enfrentava o mal de Parkinson.

A despedida de Tarcísio foi mais longa. Ele foi se tornando raro na TV, com poucas novelas completas nos últimos 10 anos. No remake de “Saramandaia” (2013), fez par romântico com Fernanda Montenegro. Em “A Lei do Amor” (2016), foi criticado por viver um homem 20 anos mais novo. O resto foram participações especiais, muitas vezes num capítulo só.

Galeria

A morte de nenhum dos dois nos pegou de surpresa. Fora de circulação há algum tempo, Paulo José passou dois meses internado antes de sucumbir a uma pneumonia, no início da noite desta quarta (11). Tarcísio estava intubado há uma semana, com Covid-19, no hospital paulistano Albert Einstein, e morreu na manhã de quinta (12). Quis o destino que esses dois gigantes nos deixassem em questão de horas.

Curiosamente, mesmo trabalhando na mesma emissora por décadas a fio, os dois se cruzaram pouco profissionalmente. O encontro mais marcante foi justamente na última cena de “Um Anjo Caiu do Céu”, novela da faixa das 19 horas escrita por Antonio Calmon e exibida pela Globo em 2001.

“Um dia nos encontraremos lá”, diz Alceu, vivido por Paulo José, apontando para o céu. Responde então João Medeiros, o personagem de Tarcísio Meira: “Mais cedo do que você pensa”.