Tony Goes

BBB 21: Trajetória de Rodolffo na casa mostrou como funciona o racismo estrutural

Sertanejo eliminado também teve atitudes machistas e homofóbicas

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Rodolffo Matthaus ainda não entendeu direito porque saiu do Big Brother Brasil. Dizer que a ficha não caiu não descreve com precisão o que aconteceu. O cantor sertanejo foi atropelado por uma jamanta e agora está perguntando se alguém anotou a placa.

A trajetória do goiano dentro da casa mais vigiada do Brasil foi exemplar no sentido de que expôs os mecanismos internos do racismo, do machismo e da homofobia que sustentam a índole nacional. Rodolffo cresceu e vicejou dentro deste sistema que privilegia os homens brancos heterossexuais como ele.

Simpático, bonitão e bem-humorado, o rapaz sabia, talvez de maneira inconsciente, que encarna o brasileiro “ideal”. O padrão que encarna as supostas qualidades que todos deveríamos ter, inclusive as físicas. A régua que mede os desvios de todos os demais.

Seus muitos preconceitos vazaram a conta-gotas da maneira que achamos socialmente aceitável: em tom de galhofa, com um sorriso nos lábios. Ou então para defender a suposta honra ultrajada de um colega, tão branco e hétero quanto ele.

Rodolffo achou que Carla Diaz traiu Arthur quando a atriz não se ofereceu ao sacrifício no lugar do crossfiteiro. Disse que Fiuk não entraria de saia em nenhuma boate de Goiânia. Reclamou das “cachorradas” de Gil, que costuma ter faniquitos quando se sente desrespeitado. E, num momento que vai entrar para a história da nossa TV, comparou o cabelo de João Luiz ao de um homem das cavernas.

Nenhum desses comentários foi feito “com a intenção de machucar”. Rodolffo não se vê como um bully. Não percebe que, ao “brincar” – põe aspas nisso – com o cabelo de João, não está mexendo com um indivíduo, mas humilhando milhões e milhões de pessoas.

Isso é resultado do racismo estrutural. Negros e brancos ainda vivem largamente separados no Brasil, e estes últimos continuam se vendo como maioria. Sentem-se autorizados a zoar das características de quem percebem como diferentes.

Ainda persiste no país o mito de que somos um paraíso racial. Aqui todos vivem em harmonia, e os episódios racistas são isolados. O racismo estrutural é perverso porque permite, a nível pessoal, que ninguém se sinta racista.

Ninguém precisa discriminar, maltratar ou bater. O sistema se encarrega de manter os privilégios dos brancos sem que eles (quase nunca) precisem recorrer a violência física ou verbal.

Rodolffo não percebeu na hora que sua piadinha feriu João porque o professor mineiro não reagiu. Tampouco notou que a indireta de Ludmilla durante o show de sábado (3) era para ele.

Quando finalmente foi confrontado, durante o Jogo da Discórdia de segunda (5), reagiu de forma covarde apelando para os próprios cabelos crespos e os do pai.

Levou sermão de Camilla, levou sermão de Tiago Leifert. Tentou se reconciliar com João, mas não pareceu sincero. Foi expulso com pouco mais da metade dos votos do público, o que não deixou de ser uma surpresa: as enquetes online apontavam para uma disputa apertadíssima entre ele e seu amigo Caio.

É fácil imaginar Rodolffo como o campeão de BBBs de outros anos. Figuras execráveis, muito piores do que ele, foram coroadas em edições anteriores. Mas pode ser que o Brasil – ou parte dele – esteja mudando.

Talvez estejamos abrindo os olhos para o racismo recreativo, o machismo cordial e a homofobia brincalhona que permeiam nosso cotidiano. Talvez o próprio Rodolffo também esteja. Talvez.