'Pior que a quarentena é aturar Bolsonaro falando besteira', diz a atriz Guida Vianna
No ar em duas novelas, ela também está em série inspirada em letras de Aldir Blanc
Atriz de trabalhos bissextos na televisão, de repente Guida Vianna pode ser vista em duas novelas ao mesmo tempo. Às 19h30, ela aparece na tela da Globo como a empregada doméstica Cida, na reprise de "Totalmente Demais" (2015-2016). Às 21h30, na mesma emissora, Guida encarna Isolina, vizinha de Griselda em "Fina Estampa" (2011-2012).
“Foi uma bênção”, diz ela em uma entrevista, por telefone. "Num momento em que tantos artistas estão sem fazer nada, eu tenho a sorte de estar recebendo por dois trabalhos antigos [a Globo costuma pagar aos atores 20% do salário original quando uma novela é reprisada]".
Na próxima semana, Guida também participa de um episódio da série "Imagem Vinil", que estreia nesta quinta (4) no canal pago Prime Box Brazil, às 21 horas. Criado e dirigido por Frederico Cardoso, o programa se inspira nas letras de Aldir Blanc para o disco “Aldir Blanc e Maurício Tapajós”, lançado em 1984, para contar histórias ambientadas no bairro carioca da Tijuca, a terra natal do compositor. Gravada há três anos, a série já estava prevista para estrear em junho, mesmo antes da morte de Blanc em maio passado.
Guida Vianna não tem um nome facilmente reconhecido pelo público, mas costuma ser assediada nas ruas. "Acho que me identificam pela minha voz", ri ela. "Quando entro num táxi e digo 'Humaitá', o bairro onde eu moro no Rio, o motorista se vira e pergunta: a senhora não é aquela da novela?".
Nos últimos três anos, Guida esteve em cartaz com a peça "Agosto", do dramaturgo americano Tracy Letts. Ela interpretava a matriarca Violet, o papel de Meryl Streep no filme "Álbum de Família" (2013), baseado no mesmo texto teatral. Foi a primeira protagonista de sua longa carreira, e lhe rendeu vários prêmios. Entre 2018 e 2019, Guida ainda foi a Firmina da novela "O Sétimo Guardião" (Globo, 2018-2019).
A boa fase tinha tudo para continuar em 2020. Guida planejava atuar ao lado de Ricardo Kosovski na peça “Os Mesmos”, escrita pelo filho deste, Pedro Kosovski. Também estava escalada para a sitcom "Casa Paraíso", que ainda deve estrear no Multishow.
"Faço uma das residentes de uma casa de repouso. Leandro Hassum é o terapeuta ocupacional e a Cacau Protásio, a cuidadora. Gravamos o piloto, mas o resto da temporada teve que ser adiado por causa da pandemia. Talvez a gente volte a gravar em setembro. Quase todo o elenco é do grupo de risco!"
Guida, aliás, está em dois desses grupos: além de ter 65 anos, também é asmática. Por isto, só tem saído de casa uma vez por semana. Mas não está sozinha: sua filha Júlia Barros, de 36 anos, veio passar a quarentena com a mãe.
"Não tem nada de bonito nessa pandemia, com tantos mortos", reflete ela. "Mas pelo menos a natureza está tendo um tempinho para se recuperar. Aqui em volta de casa ficou cheio de passarinho, de macaco, de tucano."
E as lives, a onda do momento? "Ah, me chamaram para fazer algumas, mas recusei. O universo mandou a gente parar! Acho que os jovens, que têm energia de sobra, têm mais é que fazer mesmo. Tenho até visto algumas, como as entrevistas de Fábio Porchat com políticos, que são ótimas."
A atriz também tem lido muito e visto muitas séries. Também mantém o vício pelos jornais, e se indigna com as notícias que vêm de Brasília. "Estão tentando desmontar o Sistema S, o que é um absurdo. O Sesc é o verdadeiro ministério da Cultura do Brasil. Se fizerem muitos cortes, vão afetar artistas de todas as linguagens: músicos, atores, artistas plásticos."
"Bolsonaro não tem apreço pela Cultura. Não importa quem assuma a secretaria: ninguém vai conseguir fazer nada. E depois vamos levar de 10 a 20 anos para desfazer a tragédia que está sendo este governo." E conclui: "pior do que essa quarentena, é ter que aturar o presidente falando besteira todos os dias".