Tony Goes

Comediante na porta do Alvorada era ação promocional da nova grade da Record

Márvio Lúcio, o Carioca, estreia no Domingo Espetacular entrevistando Bolsonaro

Márvio Lucio no Palácio da Alvorada (Brasília) - Instagram/@carioca

A Record lança uma nova programação no próximo domingo (8). A maior novidade é o “Domingo Show”, que foi totalmente reformulado e agora será apresentado por Sabrina Sato. No mesmo dia, estreia a segunda temporada de “Th Four Brasil”, sob o comando de Xuxa Meneghel. O programa “Hoje em Dia” passa a ser exibido também aos domingos, a “Hora do Faro” começa mais cedo e o “Domingo Espetacular” ganha um novo contratado: o humorista Márvio Lúcio, mais conhecido como Carioca.

Fazendo jus ao nome da atração, Carioca protagonizou uma ação espetacular na manhã desta quarta (4). Saltou de um carro oficial, saindo do palácio do Planalto, vestido como Bolsonabo, a paródia que faz do presidente da República. A claque de Bolsonaro adorou. Os jornalistas que fazem plantão ali todos os dias, não.

Por que era mais um achincalhe à imprensa. Só que nenhum repórter mordeu a isca. Carioca ofereceu bananas a eles. Nenhum aceitou. Pediu, várias vezes, que lhe fizessem perguntas. Ninguém fez. Foi o equivalente a uma apresentação “flopada” de stand-up, quando a plateia não ri mesmo com o comediante implorando para ela rir.

É verdade que, em suas redes sociais, Jair Bolsonaro está colhendo aplausos e agradecimentos pela suposta “leveza” que traz ao cargo supremo da nação. Mas, fora da bolha do presidente, a repercussão foi péssima –ainda mais em um dia em que foi anunciado o pífio PIB de 2019.

Carioca entrevistou Bolsonaro na noite de terça (3). Tomou café da manhã com o presidente na manhã de quarta (4) e então sugeriu aparecer no lugar dele na porta do Alvorada. Duvido que houvesse a intenção explícita de desviar a atenção do PIB, que só foi divulgado enquanto os dois se alimentavam.

Deve ter sido, portanto, coincidência. E das mais infelizes: Bolsonaro não só demonstrou mais uma vez seu despreparo para a função que cumpre, como também seu desinteresse. Ele não está nem aí. Mais grave é o caso do Carioca. Um humorista não pode, nunca, jamais, em hipótese alguma, se colocar a serviço dos poderosos. Lembra da Dilma Bolada? Pois é. Foi tragada pelo vórtex espaço-tempo.

Desde a Grécia antiga, o humor é um instrumento de crítica social. Serve para denunciar um comportamento negativo. O humor político, então, tem como função primordial incomodar os poderosos. Ao se aliar a eles, o humor se dilui, perde a graça, fica sem rumo. Vira a extinta revista satírica “Krokodil”, da extinta União Soviética –nenhuma das duas deixou boas lembranças.

Câmeras da Record circulavam ao redor de Carioca enquanto ele cometia sua triste performance. A emissora acha que está nadando de braçada, tornando-se quase um órgão oficial de comunicação do governo. Tanto ela como o ex-humorista estão cometendo o equívoco de se identificarem com um governante que tem tudo para acabar mal.