Tony Goes

Internautas atacam imprensa e Rodrigo Faro por causa da morte de Gugu Liberato

Jornalistas foram chamados de abutres, e o apresentador, de hipócrita

Os apresentadores Rodrigo Faro e Gugu Liberato - Leonardo Oliveira Viana / Fábio Guinalz
São Paulo

O súbito desaparecimento de Gugu Liberato causou uma justificada comoção em todo o Brasil. O apresentador, uma das figuras mais populares do país, sofreu um acidente em sua casa em Orlando, nos EUA, na quarta passada (20), e teve sua morte confirmada na sexta (22).

Na tarde de quinta (21), as redações dos jornais já tinham a informação de que o estado de Gugu era gravíssimo e, provavelmente, irreversível. Mas não havia nenhuma declaração oficial da família, do hospital ou da assessoria do apresentador.

Só notícias desencontradas, com detalhes que, depois, seriam desmentidos. Por exemplo: Gugu teria caído do telhado de sua mansão enquanto pendurava enfeites de Natal, o que se revelou falso mais tarde. 

Como é de praxe nessas situações, muitos jornalistas correram a levantar dados sobre a biografia de Gugu Liberato e a preparar textos sobre sua longa carreira. Isto é perfeitamente normal: um veículo precisa estar preparado, se e quando a morte de uma pessoa famosa for confirmada, para dar o máximo de informações sobre o falecido a seus leitores, ouvintes ou espectadores.

Mas muitos internautas não entendem que isso faz parte da nossa profissão. Vários colegas foram xingados de “abutres” nas redes sociais quando seus textos a respeito de Gugu foram publicados, assim que a morte do apresentador foi confirmada.

“Ah, quer dizer então que já estava pronto? Que vergonha!”, reclamavam alguns. Sim, estava. Celebridades mais velhas costumam ter seus obituários prontos com muita antecedência nos grandes jornais: é uma prática comum da imprensa, e assumida tranquilamente. Quando Fidel Castro morreu, em 2016, o New York Times publicou todos os obituários preparados para o eventual falecimento do ditador cubano, escritos ao longo de seis décadas.

Estar preparado não significa torcer pelo pior, mas também existe o desejo natural de dar um furo. Um site da Bahia soltou a inacreditável manchete “Gugu morre, assessoria nega”, desrespeitando uma regra informal que vigora entre a imprensa mais séria: a notícia da morte deveria partir da família.

Naquele momento – começo da noite de quinta-feira – a mãe de Gugu, dona Maria do Céu, de 90 anos, ainda estava a caminho de Orlando, e temia-se que ela soubesse da notícia pela internet antes de chegar ao hospital onde estava internado seu filho.

No domingo, quando todas as emissoras de TV se desdobravam em homenagens ao apresentador, um outro episódio curioso aconteceu. Rodrigo Faro foi flagrado pelas câmeras perguntando como estava a audiência de seu programa na Record, justamente quando era exibido um vídeo lembrando a trajetória de Gugu.

O programa Hora do Faro do último domingo (24) foi ao vivo em homenagem a Gugu Liberato, que morreu em decorrência de uma queda sofrida em casa. - Record TV

“Hipócrita!”, gritou o tribunal online. Quer dizer então que Faro não se deixou dominar pela emoção? Pior: numa prova de cinismo e ganância, ele estava mesmo era preocupado com o Ibope de A Hora do Faro?

Sinto dizer que, se se estivesse emocionadíssimo, Rodrigo Faro não teria condições de comandar seu programa – uma tarefa complexa, que exige que o apresentador reparta sua atenção entre uma infinidade de detalhes. Ainda mais quando a atração é transmitida ao vivo, como era o caso.

Faro agiu, isto sim, como um profissional. Em uma situação parecida, o próprio Gugu Liberato não teria feito diferente. Esteja onde estiver, Gugu deve estar orgulhoso de seu pupilo.

É difícil dizer se os internautas que criticaram a imprensa e Rodrigo Faro são ingênuos, ou se estão extravasando um ressentimento injustificado.

Ninguém gosta de dar más notícias, mas este também é um papel dos jornalistas. E a emoção, muitas vezes, se imiscui à objetividade, mas não é obrigatória. Incrível que ainda exista gente que não saiba disso.