Homofobia contra Matheus Ribeiro é jurássica e em breve estará extinta
Jornalista irá processar colega que o insultou nas redes sociais
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Aproximem-se, meninos e meninas. Venham ver algo que, quando vocês forem maiorzinhos, estará praticamente extinto. Só não cheguem perto demais, porque vocês podem se machucar.
Observem as declarações homofóbicas e racistas do jornalista Luiz Gama. Ele bloqueou o acesso a seu perfil no Twitter aos não-seguidores, mas seus tuítes ofensivos foram salvos e podem ser lidos logo abaixo.
“Putz! Onde o Brasil vai parar? Queimar a rosca agora é moda. Um apresentador de telejornal de qualidade média virou a bola da vez no jornalismo nacional só porque revelou que sua rosquinha está à disposição. A qualidade profissional que se f…”
Gama está se referindo a seu conterrâneo Matheus Ribeiro, da TV Anhanguera de Goiás, que ancorou o Jornal Nacional do dia 9 de novembro. Matheus integra o time de 27 jornalistas, um de cada unidade da federação, que a Globo convidou para apresentar as edições de sábado do JN, em comemoração aos 50 anos do telejornal.
Matheus Ribeiro é homossexual assumido. No entanto, faz pouco tempo que saiu do armário. Foi só no dia 10 de outubro, a menos de um mês de sua aparição no JN, que ele revelou, em seu perfil no Instagram, estar namorando Yuri Piazzarollo, da Força Nacional de Segurança.
Portanto, é totalmente despropositado dizer que Matheus chegou ao JN apenas por ser gay. Ele já havia sido convidado para a bancada do noticiário antes de se assumir.
E é insultuoso dizer que “sua rosquinha está à disposição”. Luiz Gama ainda compartilha do pensamento jurássico de que todos os homossexuais são passivos sexualmente, dispostos a se entregar a qualquer um. Matheus Ribeiro tem namorado, portanto não está “à disposição”.
Fora que “queimar a rosca” não é moda. A humanidade queima a rosca há milênios. Modas passam, e o que está acontecendo agora não é passageiro. O fim do predomínio dos homens brancos heterossexuais é uma tendência irreversível, apesar dos retrocessos pontuais.
Não contente com os ataques gratuitos a Matheus Ribeiro, Luiz Gama também partiu para cima de Maju Coutinho, a nova âncora do Jornal Hoje, também da Globo. “Tem uma fraquíssima em rede nacional só por causa da cor de pele”, grunhiu ele, ignorando a longa carreira da apresentadora.
Gama também se esqueceu que, recentemente, o STF equiparou a homofobia ao racismo. Matheus Ribeiro irá processá-lo nas áreas cível e criminal.
Nesse imbróglio todo, espanta a atitude inicial da rádio BandNews FM de Goiânia, onde Gama integrava a equipe Feras do Esporte. Na semana passada, quando estourou o escândalo, a emissora soltou um comunicado alegando que “não interfere nas opiniões de seus colaboradores e/ou prestadores de serviço em redes sociais”.
Racismo e homofobia não são “opiniões”. São crimes que precisam ser punidos. Foi só nesta segunda (18) que a BandNews FM anunciou que irá substituir Luiz Gama, que é terceirizado. Num país mais sério do que o nosso, ele teria sido afastado sumariamente.
Este dia chegará. Enquanto isto, é preciso conservar em formol as diatribes que Gama expeliu, para que sejam estudadas pelas gerações vindouras.
Elas se horrorizarão, como hoje muitos de nós (não todos) se horrorizam com os anúncios de venda de escravos publicados em jornais do século 19.
A escravidão foi abolida, mas deixou marcas profundas. Racismo e homofobia também estão em processo de extinção, apesar da onda reacionária que varre o mundo ter feito com que fósseis vivos como Luiz Gama se sentissem autorizados a expressar seus preconceitos.
Eles não perdem por esperar. Mais da metade dos alunos das universidades públicas brasileiras são negros. Daqui a pouco, eles estarão no mercado. E no poder.
As pesquisas também comprovam que a garotada de hoje encara com tranquilidade a visibilidade LGBTQ+. Eles não estão nem aí se alguém queima a rosca ou deixa de queimar. Não se sentem ameaçados. Mas Luiz Gama se sente, e com razão. Em breve ele estará extinto.