'Amor de Mãe' estreia com overdose de mulheres guerreiras
Nova atração da Globo na faixa das 21 horas é a primeira novela da autora Manuela Dias
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
A mulher guerreira é o epicentro da teledramaturgia brasileira. Nem sempre foi assim: nossas novelas já fizeram muito sucesso com histórias de falsas viúvas e empregadas vingativas. Mas, de uns anos para cá, impulsionada pela fragmentação da audiência, a mulher guerreira se tornou a heroína de quase todos os folhetins que estão no ar.
Na Globo, ela se tornou obrigatória. Está presente na faixa das 18 horas (a dona Lola de “Éramos Seis”) e na das 19 (a Paloma de “Bom Sucesso”). Na das 21 horas, a Maria da Paz de “A Dona do Pedaço” acaba de ceder seu lugar a nada menos do que três batalhadoras: Lurdes (Regina Casé), Thelma (Adriana Esteves) e Vitória (Taís Araújo), as protagonistas de “Amor de Mãe”, que estreou nesta segunda (25).
Manuela Dias, das minisséries “Justiça” e “Ligações Perigosas”, debuta como autora principal de uma novela diretamente no mais nobre dos horários, uma façanha que nem Walcyr Carrasco ou João Emanuel Carneiro conseguiram. Mas tem a responsabilidade de segurar os ótimos índices alcançados no Ibope por sua antecessora, que reverteram o viés de baixa que o carro-chefe da emissora vinha enfrentando há alguns anos.
Talvez por isto “Amor de Mãe” tenha três fortalezas femininas em primeiro plano. Variantes da mulher trabalhadora, algo romântica, mas 100% dedicada aos filhos, que a Globo acredita ser o único personagem capaz de interessar à maior parte do público, composto por mulheres que acreditam serem trabalhadoras, algo românticas e 100% dedicadas aos filhos.
O primeiro bloco da nova novela foi inteiramente voltado à apresentação do trio central. A primeira foi Lurdes, que parece uma mistura de duas nordestinas feitas pela carioca Regina Casé no cinema: a sertaneja Darlene de “Eu Tu Eles” (2000) e a doméstica Val de “Que Horas Ela Volta” (2015).
Regina, que estava fora do ar há quase três anos, desde que seu programa “Esquenta” acabou, compõe a personagem com desenvoltura.
Lurdes é guerreira-de-raiz: matou o marido por acidente, durante a briga que sucedeu a descoberta por ela de que que ele vendera um dos filhos, e não se arrepende de nada. Criou as três crianças que lhe restaram e mais uma filha adotiva com sacrifício, mas as agruras da vida não lhe tiraram o bom humor.
A simpática Lurdes conta sua saga ao longo de uma entrevista de emprego, um bom recurso dramático para tanta exposição. Sua patroa em potencial é a advogada Vitória (Taís Araújo), e que bom ver uma patroa negra contratando uma empregada branca na TV brasileira.
Mas Vitória só é mãe em sonhos: perdeu seu bebê quando a gravidez já ia adiantada, empurrada pela mãe da vítima de um cliente que ela conseguiu absolver no tribunal.
O tripé se completa com Thelma (Adriana Esteves), a quem Lurdes salva de ser atropelada depois que sai da casa de Vitória. Thelma sentiu-se tonta no meio da rua porque tem um aneurisma na cabeça: a notícia lhe é dada no hospital, e as perspectivas de cura são mínimas. Ela então se desespera, pois já perdeu o marido em um incêndio, e não quer deixar sozinho o filho, Danilo (Chay Suede), apesar de ele já ser bem crescidinho.
Esses dramas foram contados com agilidade pelo diretor José Luiz Villarim, mas também sem nenhum brilho especial. O que talvez se revele uma qualidade da novela: são o texto e os atores que irão emocionar, e a câmera não tentará ofuscá-los.
Personagens e tramas secundárias foram introduzidos no segundo bloco, mas só a morte provocada por Magno (Juliano Cazarré) causou maior interesse. O filho mais velho de Lurdes viu uma mulher sendo estuprada na rua, e lutou com o violador. Acabou jogando-o com força demais ao chão, emulando a maneira como sua mãe matou seu pai.
Foi um capítulo movimentado, e bastante promissor. Não teve o impacto do começo de “Avenida Brasil” (2012), ainda o atual paradigma do gênero, mas foi muito mais claro e coeso que o de novelas mais recentes.
Nas redes sociais, a repercussão de “Amor de Mãe” foi largamente positiva. Dados preliminares apontam um pico de audiência de 35 pontos na Grande São Paulo, maior do que a da estreia de “A Dona do Pedaço”. Cada ponto do Kantar Ibope corresponde a 73 mil domicílios).
Pelo jeito, o público ainda não enjoou das mulheres guerreiras.