Tony Goes

'Éramos Seis' equilibra delicadeza e tragédia no primeiro capítulo

Nova novela da Globo estreou nesta segunda (30), na faixa das 18 horas

A novela 'Eramos Seis' - RaquelCunha

As primeiras cenas de “Éramos Seis” mostraram um passado idílico, como muita gente prefere lembrar. Um passado em que se convidava o carteiro para um cafezinho. Em que o maior problema que parecia afligir dona Lola (Glória Pires) era uma vizinha bisbilhoteira.

Claro que não era bem assim. Ainda no primeiro bloco do capítulo de estreia, uma sombra maior já se insinuou: as prestações da casa que Lola e seu marido Júlio (Antonio Calloni) compraram na elegante avenida Angélica. Mesmo com os dois se esfolando de trabalhar, o financiamento está cada vez mais difícil de ser pago. Para piorar as coisas, ele não recebeu o esperado bônus de final de ano (na década de 1920, não existia 13º salário).

A casa, quase uma mansão, é o cenário principal do romance de Maria José Dupré, e uma metáfora poderosa para os sonhos de ascensão da classe média. Júlio e Lola deram um passo maior do que as pernas, e sua luta para manter tanto o imóvel em dia como a família unida dão o mote do livro, que faz parte do DNA cultural da cidade de São Paulo.

A história é tão boa que já foi adaptada várias vezes para a TV. A última, em 1994, foi a melhor novela da história do SBT, com esmerada reconstituição de época e uma esplêndida Irene Ravache no papel principal. A memória dessa produção, ainda fresca para parte do público, é um dos obstáculos que a versão da Globo tentará superar.

Silvio de Abreu e Rubens Ewald Filho assinaram o texto do folhetim do SBT. O primeiro, hoje diretor de dramaturgia da Globo, foi quem decidiu por esta nova adaptação do livro da Sra. Leandro Dupré (como ela assinava as primeiras edições), agora a cargo de Angela Chaves.

A trama original não é exatamente leve. O próprio título já implica que alguns dos seis originais não chegarão até o final. Resta saber como Angela Chaves e sua equipe adequarão a saga de dona Lola para um horário em que muitas crianças estão diante da TV.

A roteirista já avisou que tornará Lola menos submissa, e que salpicará toques feministas em outras personagens. É normal que uma obra antiga sofra atualizações e acréscimos quando vai para a TV – foi o que aconteceu com as outras encarnações televisivas de “Éramos Seis”.

Como costuma acontecer nas estreias das novelas da emissora, quase que só o núcleo principal apareceu neste primeiro capítulo. As parentes de Lola que moram em Itapetininga – a mãe, Maria (Denise Weinberg) e as irmãs, Clotilde (Simone Spoladore) e Olga (Maria Eduarda Carvalho) – surgiram rapidamente na tela. Mas já são um ponto de tensão: a iminente chegada das três a São Paulo, para uma visita ao resto da família, deixou Júlio mais nervoso do que de costume.

O episódio terminou com o marido de Lola sentindo as dores de uma úlcera. Foi o teaser de uma das tragédias que estão por vir. Mas não foi, nem de longe, uma sequência espetacular como as que a Globo gosta de colocar nas estreias de suas novelas.

Nesse sentido, “Éramos Seis” tem cara de folhetim de outras eras, em que o ritmo era mais suave e as emoções mais delicadas. Talvez seja o que o público procure neste momento.