Tony Goes

O Doutrinador não é um herói, ele é maluco, diz o ator Kiko Pissolato

Depois de um longa-metragem, o personagem ganha sua própria série de TV

Kiko Pissolato em cena do longa "O Doutrinador" - Aline Arruda/Divulgação

Em 2013, enquanto manifestações de protesto tomavam as ruas de todo o Brasil, um vingador mascarado começou a chamar atenção na internet. Era o Doutrinador, criado por Luciano Cunha: um militar da reserva que, desgostoso com os políticos corruptos do país, resolve fazer justiça com as próprias mãos.

O primeiro álbum com as HQs do personagem saiu naquele mesmo ano, e outros dois se seguiram. O sucesso foi tão grande que gerou o filme “O Doutrinador”, lançado em novembro de 2018. E também uma série com o mesmo nome, que estreia neste domingo (1º) no canal pago Space.

Tanto o longa como o programa de TV foram rodados ao mesmo tempo pela mesma equipe criativa, capitaneada pelo diretor Gustavo Bonafé (“Legalize Já”). Nos dois produtos, o protagonista é encarnado pelo ator Kiko Pissolato (das novelas “Amor à Vida” e “Os Dez Mandamentos”).

Com sete episódios, a série é uma versão expandida do que se viu nos cinemas, mas com mais aprofundamento, novos personagens e até alguns desfechos diferentes. 

Mas a origem do Doutrinador é igual nas duas telas: diferentemente dos quadrinhos, ele é Miguel Montessant, um policial de elite que perde a filha pequena. Atingida por uma bala perdida, a garota não consegue ser atendida em um hospital público. Desesperado, Miguel passa a eliminar os poderosos que desviaram as verbas da saúde para os próprios bolsos.

Kiko Pissolato tem porte atlético e sempre praticou várias modalidades de luta, da capoeira ao muay thai. Essas habilidades ajudaram-no não só a conquistar o papel, como até a dispensar o dublê nas cenas em que o pau come solto.

O ator não concorda que o Doutrinador seja um herói. “O cara é um assassino, é um maluco”, diz ele em conversa com este repórter. “Não chega a ser um psicopata, porque não é frio. Mas é um perturbado, que passou por um choque emocional”.

De fato, os métodos do Doutrinador são bastante questionáveis. Ele põe em prática, de maneira espetacular, o que pregam alguns setores extremistas, como o desrespeito às leis e às instituições.

Por isto mesmo, os produtores tomaram alguns cuidados. Ao contrário do que acontece nos quadrinhos, os políticos da série não têm correspondentes claros na vida real. A cidade em que transcorre a ação é a fictícia Santa Cruz. E o lançamento do filme, programado para o começo de setembro do ano passado, foi adiado para depois do segundo turno das eleições, para escapar de qualquer suspeita de tentativa de influência nos resultados.

A série já tem prevista uma segunda temporada, mas pode ser que Kiko Pissolato não participe. “Em cada um dos livros, o Doutrinador tem uma identidade secreta diferente. É um personagem que lembra o Fantasma de Lee Falk, que passa de pai para filho”.

Enquanto isso, o ator prepara o lançamento de seu primeiro livro infantil, “Dino Vegx”, sobre um dinossauro vegetariano. E, em frente às câmeras, encarna um tipo oposto ao Doutrinador: Álvaro, um professor de história cheio de ideais, em “Sala dos Professores”. Trata-se de uma série cômica ainda em produção, com estreia marcada para 2020 no canal CineBrasilTV.

“O Álvaro tem o mesmo combustível do Miguel: a indignação”, conta Kiko. “Mas a raiva dele se manifesta em reivindicações, de maneira pacífica. A violência não é solução para nada. Nem mesmo para a corrupção”.