Em disputa apertada, Holanda confirma favoritismo e vence o Eurovision
Final de festival teve apresentação de Madonna, muita tecnologia e canções fraquíssimas
O Eurovision, o festival da canção em que competem quase todos os países da Europa e arredores, segue um padrão manjado. As músicas concorrentes costumam ser bem fraquinhas: pop genérico cantado em inglês básico, sem nada de muito especial.
Já as performances são espetaculares. Os candidatos, em geral, são muito bem preparados. Alguns já são famosos em seus países de origem, outros seguem carreira desde criancinhas.
Mas o que faz a diferença é a tecnologia. Todo o estado da arte é usado no gigantesco palco: efeitos de última geração, projeções, labaredas, o escambau. Lances teatrais também são bem-vindos. Em 2012, a Rússia foi representada por um bando de velhinhas tirando pão do forno.
“Amar pelos Dois”, que deu a vitória a Portugal dois anos atrás (e depois serviu de tema de abertura para a novela “Tempo de Amar”, da Globo), foi um ponto fora da curva. A delicada melodia defendida por Salvador Sobral não contou com pirotecnias para vencer.
No entanto, não rendeu frutos. Tanto em 2018 como neste ano, o Eurovision regressou à alegre mediocridade de sempre. A atual campeã, “Arcade”, cantada pelo holandês Duncan Laurence, já era apontada como a favorita pelas casas de apostas, mas não tem nada de mais. Não passa de uma baladinha insossa.
O resultado só foi definido no último segundo. A organização do festival mudou as regras da apuração, para manter o suspense pelo maior tempo possível. Nos júris profissionais, ganhou a Macedônia do Norte com “Proud”, outra balada anódina. Os votos do público definiram o triunfo da Holanda, que irá sediar o festival do ano que vem.
Vai ser um país-sede menos polêmico que o de 2019. Israel sofreu ameaças de boicote, pressão para que os artistas não se apresentassem, ataque de hackers palestinos e protestos em geral. Mas, na hora do show, só os islandeses da banda Hatari levantaram faixas e bandeiras em favor da Palestina. Dois bailarinos de Madonna também surgiram de mãos dadas, com as bandeiras de Israel e da Palestina nas costas de suas jaquetas. Mais nada.
Madonna, que se apresentou enquanto os votos eram contabilizados, é justamente a razão pela qual esta edição será mais lembrada. Raramente o Eurovision atrai estrelas desse calibre. Mas Madge está promovendo seu álbum que sai em junho, “Madame X”. Além disso, a cantora tem uma ligação espiritual com Israel. Um milhão de dólares a mais na conta bancária também ajudaram na decisão.
Mesmo com apenas duas músicas, a apresentação do maior nome feminino do pop não desapontou. A primeira foi “Like a Prayer”, incluída porque Madonna também está celebrando o 30º aniversário de seu disco do mesmo nome. A encenação lembrou a que ela fez no Met Gala de 2018, com escadarias e monges encapuzados. O novo arranjo deixou o clima ainda mais solene, mas vá lá. Variar é preciso.
Em seguida foi a vez de “Future”, divulgada nesta sexta (17) nas plataformas de streaming. Um reggae assumido, cantado ao lado do rapper Quavo. Uma escolha ousada e interessante, e que não combinava em nada com sua antecessora. Bem de Madonna fazer essas misturas.
E assim terminou mais um Eurovision, sem dramas nem novidades. Mas a popularidade do festival não para de crescer: graças à internet, a audiência global nunca foi tão grande. O formato já tem similares no Oriente Médio e no leste da Ásia. Há planos para uma versão americana, com os estados competindo entre si.
Por que não um “Brasilvisão”? Seria divertido. Alguém se habilita?