Thiago Stivaletti

Treze anos depois de 'Cisne Negro', Natalie Portman reencontra o sucesso no streaming

Atriz vive jornalista investigativa numa das melhores séries do ano, 'A Mulher no Lago', suspense sobre racismo e sororidade nos anos 1960

Ícone fechar

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Cena da primeira temporada da série 'A Mulher no Lago', com Natalie Portman - Divulgação

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

Natalie Portman parecia ter sofrido a famosa maldição do Oscar –aquela segundo a qual o ator ou a atriz vê sua carreira declinar depois de ganhar a estatueta dourada. Após "Cisne Negro" (2011), que lhe valeu o Oscar de melhor atriz, nenhum de seus filmes autorais teve a mesma repercussão –nem mesmo o ótimo "Segredos de um Escândalo", em que rivaliza com Julianne Moore, esnobado pelo público e pela Academia de Hollywood. (OK, ela foi a mocinha boba dos filmes do Thor, mas o sucesso ou fracasso dos filmes da Marvel nunca dependeu dela).

Mas a maré virou. A exemplo de Nicole Kidman, Portman reencontrou o caminho do sucesso no streaming. Ela é a protagonista de uma das melhores séries do ano até agora, "A Mulher no Lago", na Apple TV+.

A história se passa em Baltimore em 1966, mostrando o difícil convívio entre negros e judeus num mundo cheio de racismo e preconceito de classe. Poderia ser um ótimo filme noir dos anos 1950, mas com um detalhe: o protagonismo das mulheres na ficção não era nada típico há 70 anos.

Portman é Maddie Schwartz, uma dona de casa de classe média alta que está muito entediada com sua vidinha pacata, entre compras em lojas de departamentos e a educação do filho adolescente. Formada em jornalismo, ela sonha em exercer a profissão. Um dia, ao ter que comprar um vestido de emergência, seu olhar cruza o de Cleo Johnson (Moses Ingram), uma mulher negra que trabalha como "modelo vivo" nas vitrines de uma grande loja.

Naquele mesmo dia, uma menina judia que frequentava a sua sinagoga aparece morta perto de um lago onde ela costumava ficar com garotos em sua adolescência. A partir daí, o destino das duas mulheres começa a se cruzar de forma misteriosa.

O crime é o sacode que faltava para Maddie virar a vida de cabeça para baixo. Ela se separa, para desespero do marido e do filho –atitude bem rara nos anos 1960– e se muda para um apartamento caindo aos pedaços em pleno bairro negro.

Ela é a única branca num raio de muitos quarteirões e ainda se envolve com um policial do bairro. Começando do zero na carreira com mais de 40, vira estagiária no jornal local, na certeza de que vai conseguir investigar o tal assassinato.

Mas um segundo crime bagunça tudo, e sabemos dele desde a primeira cena da série. Quem narra a história toda é Cleo, que anuncia de cara que também foi assassinada. Sua morte talvez tenha a ver com seu segundo emprego: além da loja, ela trabalhava no clube de jazz do poderoso Shell Gordon, um mafioso que protege a comunidade negra de Baltimore com o dinheiro que consegue em seus negócios ilegais.

Por meio dessas duas personagens que pouco se encontram, a diretora Alma Ha’rel, de origem israelense como Natalie, consegue falar de sororidade e de racismo sem que seus personagens precisem fazer um textão de Instagram sobre esses assuntos. Quando a série poderia perder fôlego, o quinto e o sexto episódios trazem reviravoltas surpreendentes, com uma sequência impressionante de um delírio da cabeça de Maddie.

Curiosidades: o namorado de Maddie na adolescência é vivido por David Corenswet, ator que será o próximo Superman no filme que estreia no ano que vem. Nas sequências em que aparecem com 17 anos, os dois tiveram o rosto rejuvenescido com uma nova tecnologia cada vez mais usada em Hollywood –mas, ao contrário de filmes como "O Irlandês", desta vez o resultado ficou bem natural.

Foi o suficiente para que fãs de "Star Wars" já pedissem a volta de Portman como Padmé, a mãe de Luke Skywalker e Léa, em futuros filmes da saga, com carinha de 25 anos. Rezo para que isso não aconteça –afinal, Natalie merece personagens bem mais complexos do que os dos filmes de George Lucas.

"A Mulher no Lago"
Seis episódios já disponíveis na Apple TV+
Último episódio disponível nesta sexta (23)