Jojo Todynho mentiu, sim
Enganar o público não é algo dos tempos atuais e, muitas vezes, é usado como técnica
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O personagem mais conhecido do ator Hugh Laurie, o Dr. House, dizia uma frase icônica: "Todo mundo mente".
Mentimos por diversos motivos: para não ter que dar longas explicações, para evitar assuntos que não queremos discutir, para ter alguma vantagem, por vaidade, por conveniência. Os exemplos são muitos e, recentemente, Jojo Todynho acrescentou mais um a essa longa lista quando mentiu para que as pessoas não a perturbassem.
A cantora tinha dito a seus fãs que estava fazendo dieta e exercícios físicos e havia conseguido perder peso e que, em função desse novo estilo de vida, teria desistido de fazer uma cirurgia bariátrica. Jojo mentiu, porque como ela mesma admitiu, continuou fazendo todo o processo de exames preparatórios.
No dia 8 de agosto, ela se internou e fez o procedimento. Disse aos fãs que está bem e assumiu que mentiu. Também fez questão de deixar claro que não foi por medo do cancelamento que escondeu a verdade, mas porque quem toma as decisões em sua vida é ela —e não a internet.
Achei honesto ela assumir que mentiu, já que, no mundo midiático e das redes sociais, pouca gente tem essa coragem. Celebridades e influenciadores mentem o tempo todo, seja por orientação dos empresários, para se preservarem, para construir uma determinada imagem, por preguiça de explicar a verdade ou por interesses comerciais.
Mentir para o público, aliás, não é algo dos tempos atuais. Nas décadas de 1980 e 1990, por exemplo, um dos expedientes mais comuns era mentir sobre salários e cachês de ensaios sensuais. Muitas artistas que posavam para antigas revistas masculinas aumentavam muito o valor de seus contratos na hora de divulgar quanto receberam. A ideia era "valorizar o passe", como se diz no jargão dos jogadores de futebol.
A mesma técnica acontece hoje, só que em relação plataformas de conteúdo adulto, quando modelos dizem ter faturado milhões em poucos dias com uma nova conta num site ou app. Isso faz com que as pessoas acreditem que ela é um sucesso, gerando curiosidade e mais assinaturas. É a famosa mentira que acaba virando verdade, a profecia que se concretiza.
Influenciadores também já foram pegos em mentiras clássicas: a pessoa faz uma lipo e depois diz que fez reeducação alimentar. Ou usa cinta modeladora e atribui a cintura à sua rotina de exercícios. Há também as mentiras convenientes de casais de fachada. Às vezes, a emissora quer promover uma novela, uma série ou um filme e finge que dois atores do elenco estão namorando só pela divulgação. E ainda tem os casamentos que são meros contratos de interesse, vendidos como paixão.
Algumas mentiras escondem sentimentos de medo e vergonha, o que é perfeitamente compreensível em casos sensíveis. A pessoa pode não se sentir à vontade para compartilhar uma dificuldade de engravidar, por exemplo, e esconde o fato de ter feito um tratamento de fertilização.
Sem contar os casos de doença mesmo. Recentemente, um médico muito famoso comentou numa rede social que é comum que pessoas que sofrem de transtornos alimentares inventem que têm intolerância a glúten e lactose, sem nunca terem tido um diagnóstico médico desses fatos, apenas para não comerem certos alimentos sem contestação da sociedade.
Mentir, enfim, como Jojo Todynho fez, é humano, é totalmente compreensível. O que é mais difícil de aceitar é que a mentira se torne tão frequente que vire a regra, e não a exceção. Que a mentira se torne um hábito a tal ponto que as pessoas escolham ser enganadas.
Seria muito triste se chegássemos a esse ponto porque, como cantava Renato Russo, mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira. Taí uma grande verdade.