Rosana Hermann

Força, Emilio! Vai ficar tudo bem

Como alguém expõe uma doença se a família pediu para não publicar?

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Conheci Emilio Surita nos anos 80. Trabalhei muitos anos com ele na rádio Jovem Pan FM. Escrevi incontáveis quadros de humor: Aulas de Inglês com Maguila, Caqui & Amora, A Sabichona, Djalma Jorge, todas as paródias da rádio, todos os temas de verão, inverno, as canções de final de ano.

Fizemos discos juntos, fiz todas as letras (exceto uma) do CD de humor que foi um hit, lancei livro de piadas, fizemos shows. Foi uma época revolucionária, em que o humor de rádio estava absolutamente no auge.

Mas o grande, o imenso sucesso que fiz com Emilio, foi o Boi na Linha. O programa de trotes que marcou época. Começamos em meados dos anos 80 e atravessamos a década de 90. Fazíamos uma parceria imbatível, era realmente impressionante. As pessoas morriam de rir com os trotes do Boi na Linha. O comentário que mais ouvíamos era "quase bati o carro de tanto rir".

Emílio Surita no 'Pânico', da rádio Jovem Pan - @Pânico no Instagram

Continuei na rádio depois que o Boi na Linha acabou, continuei escrevendo e criando e depois fui para o Pânico na TV. E lá fiquei até 2008. O Pânico, nessa época, era um laboratório de comunicação. Embora o programa fosse aos domingos, envolvíamos a imprensa, a mídia, durante toda a semana, inventando factoides, fazendo documentários. Foi realmente um período de muita criatividade e, acredite se quiser, de ativismo por muitas causas.

Nesses anos todos de convívio, vi o começo de namoro do Emilio com Pepela, vi seus filhos nascerem, frequentei sua casa. Emilio era meu amigo. Meu parceiro. Atravessei toda a década de 90 na rádio, virei roteirista do Pânico na TV e lá fiquei até 2008, quando fui convidada para apresentar o Atualíssima na Band.

Quando contei que ia sair da rádio para apresentar um programa diário ao vivo na TV, Tutinha ficou louco da vida e desejou tudo de pior para mim. Isso porque Tutinha me conhece desde 1983 e foi meu padrinho de casamento.

Mesmo não trabalhando mais na Jovem Pan nem no Pânico, durante muitos anos eu mandava emails para o Emilio, com ideias, links legais, novidades da internet. Achei que seria assim para sempre. Mas não foi.

Os contatos foram minguando. Mesmo assim eu me considerava uma amiga. Até que nossas visões de mundo se tornaram totalmente antagônicas. Um abismo ideológico surgiu entre nós, como uma voçoroca que vai consumindo tudo e deixa apenas um vazio.

Nesta quarta soube de todo o caso do jornalista que, contra um pedido da família, gravou um vídeo falando da doença de Emilio. Fiquei revoltada. Como alguém tem o desrespeito de expor uma doença se a família claramente pediu para ninguém publicar? Tentei ver alguns outros vídeos do mesmo canal e quase vomitei. Um absurdo maior que o outro, um desserviço, um nojo.

Horas depois, sintonizei no Pânico e vi um Emilio fragilizado, dizendo que está bem e que vai fazer o tratamento. Vi também um vídeo de apoio a ele gravado pelo ex-presidente, figura que considero das mais abjetas de nossa história.

E, no entanto, apesar de todas as divergências ideológicas, apesar de estarmos em espectros políticos diametralmente opostos, desejo tudo de melhor para Emilio. Torço para que ele fique bom, para que a doença regrida.

Mandei uma mensagem para Pepela. Não recebi resposta. Mas não faz mal, Emilio já está incluído em minhas preces. E, a essa altura, os anjos da guarda que enviei já estão cuidando dele.