Rosana Hermann

Capivara Filó, Agenor Tupinambá e Luisa Mell: nada é o que parece

Gostar de um animal silvestre não é prendê-lo ou transformá-lo em brinquedo

Agenor Tupinambá e sua capivara Filó - Agenor Tupinambá no Instagram

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Entre os dias 30 de abril e 1º de maio, as buscas no Brasil por capivara Filó, de acordo com o Google Trends, foram muito mais numerosas do que por Gisele Bündchen, que esteve na famosa festa do Met Gala na segunda-feira à noite. Entre os dias 28 a 30 de abril, o animal ganhou até de Anitta que, aliás, também esteve no evento em Nova York.

O interesse se explica. A capivara "adotada" como pet pelo influenciador amazonense Agenor Tupinambá, que tinha vídeos no TikTok com dezenas de milhões de visualizações, causou uma comoção nacional ao ser apreendida pelo Ibama. Depois de protestos populares, envolvimento de políticos e uma mobilização gigantesca nas redes sociais, a capivara foi devolvida a seu tutor.

A história ainda envolveu Luisa Mell, que teria se posicionado contra a permanência de Filó com Agenor e, por isso, foi atacada em seus perfis. Luisa também foi acusada de ter denunciado o caso para o Ibama, o que ela nega. Uma deputada que defendia a permanência de Filó com Agenor, acabou por atacar o Ibama também.

O curioso nessa confusão é que nada é o que parece, como se tudo fosse uma grande ficção criada por "narrativas" compradas pelo público.

Agenor, por exemplo, não é o personagem simplório que muitos supunham pelas imagens singelas dele com Filó em situações "fofas". Ele é estudante universitário, filho de pecuaristas criadores de búfalos. Nada a ver com a ideia de um "ribeirinho de baixa renda" que se diverte tomando banho de rio com sua capivara de estimação.

Filó, a capivara, é um roedor que vive em bandos, não é um animal domesticável que pode ser transformado em pet. Gostar de um animal silvestre não é prendê-lo ou transformá-lo em brinquedo, mas permitir que ele viva livre na natureza, junto com os seus.

Luisa Mell, que criticou tanto Agenor quanto o Ibama, também se viu envolvida em outro caso, o do Instituto Luisa Mell, que mudou o nome para Caramelo depois de acusar a ativista de nunca ter feito nenhuma doação para a instituição. No meio dessa treta, muita gente descobriu que, além de a ONG não ser dela, o nome da ativista não é Luisa Mell, mas Marina Zatz.

Nem vou mencionar a deputada estadual Joana Darc (União Brasil-AM), que, ao ficar ao lado de Agenor e contra o Ibama, fez denúncias sobre vacinas que nem tinham ligação com a capivara.

A história toda serve para mostrar o quanto as pessoas estão confusas e se envolvem em casos romantizados que nada têm a ver com a realidade. É compreensível que, diante de notícias duras e violentas, muita gente escolha se alienar com assuntos comezinhos, mas acreditar em ilusões não vai melhorar a vida da gente em nada.

Enquanto nos distraímos produzindo opiniões sobre a tutela da capivara Filó, indígenas estão sendo dizimados, brasileiros estão morrendo por balas perdidas, jovens estão se mutilando em plataformas que não se responsabilizam por seus conteúdos.

Claro que precisamos de entretenimento, de coisas leves, de humor. Eu também amo bichos e acho a Filó fofinha. Mas sei que o melhor para ela é viver em liberdade na natureza. E que o melhor para nós todos, como sociedade, é lutar contra a desinformação e exigir que as plataformas se responsabilizem pelos conteúdos disseminados. Porque uma coisa é certa: não vamos acabar com as fake news fugindo para o mundo de ilusão. Porque de ilusão, também se morre.