Qual o limite da fofoca?
Agir sem ética, sem empatia, não é entretenimento, é perversão
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Sem hipocrisia: todo mundo gosta de fofoca. Pode ser fofoca de famoso, de gente comum ou até de quem a gente nem conhece. Em nossa defesa, muitos estudos provam que a fofoca tem função evolutiva, funciona como cola social e regula as interações do grupo, porque a fofoca pode sinalizar quem é ou não é de confiança. E mais, ao olhar a fundo os detalhes da vida alheia, dos comportamentos e relacionamentos das pessoas, estamos balizando a nossa vida também.
Esses últimos dias têm nos servido com muitos temas para fofocar. A gravidez da atual namorada de Neymar, a separação de Cauã Raymond e Mariana Goldfarb depois de sete anos (com ela publicando primeiro e ele confirmando depois), o fim do namoro da Luciana Gimenez (nem sei com quem) ou o povo criticando Viih Tube e Eliezer porque eles não mostram o rosto da bebê.
Além dos assuntos de momento, tem aqueles que continuam em aberto e são altamente fofocáveis. Eu, por exemplo, que sempre gostei da Isis Valverde, não entendo até agora como foi que ela resolveu se relacionar com o ex- da Wanessa. Eles já se conheciam? Ela era amiga do casal? Eles se encontraram por acaso? Não sei, ainda não entendi como isso aconteceu.
Além da vida dos famosos, temos também o BBB 23, que existe exatamente para alimentar esse desejo humano de falar e julgar o comportamento alheio. É pra isso que eles se expõem em áudio e vídeo, dia e noite. A gente assiste e faz fofoca. É pra isso que pagamos o pay-per-view.
Em todos esses casos, estamos comentando fatos que os próprios envolvidos admitem ou divulgam. Neymar e a namorada falam sobre a gravidez, publicam fotos para os fãs. Viih Tube e Eliezer estão o tempo inteiro mostrando suas vidas. Mariana avisou da separação de forma aberta, em suas redes sociais. Não estamos invadindo a intimidade de ninguém, somos meros palpiteiros e comentaristas. Sobretudo, não estamos fazendo mal a eles, mesmo que alguns comentários possam ofender.
Também nesta semana, tivemos um exemplo lamentável, de outra natureza, que passou do status de "fofoca" e expôs de forma cruel o relacionamento da querida Preta Gil, que veio à público dizer o quanto estava abalada com a exposição a que foi submetida.
E isso, num momento em que ela está em tratamento contra um câncer, fragilizada por um episódio seríssimo de septicemia. Confesso que fiquei muito preocupada com a possibilidade de que esse episódio atrapalhe o proceso de cura da artista. Mas tenho fé em que ela vai se curar.
Mas aí vem a pergunta: pode tudo em nome de audiência? Tudo é permitido para conseguir cliques e views? Pode ser aceitável, apenas para saciar nossa curiosidade, expor um segredo de uma garota que foi estuprada, engravidou e optou por entregar o bebê para adoção? Faz sentido que, como sociedade, normalizemos o vazamento de fotos da autópsia de Marilia Mendonça, sabendo o tamanho da dor que isso causará a sua família? A resposta é não, não pode. Tem que existir um limite.
Porque agir sem ética, sem empatia, não é entretenimento, é perversão, uma condição em que a pessoa perde tanto sua humanidade que só é capaz de sentir prazer quando causa dor ao outro.