Anitta, Vera, Jéssica: Famosa ou anônima, não é fácil ser mulher no Brasil
Queremos ser o que bem entendermos, ter autonomia sobre nossas vidas
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Anitta é certamente uma das brasileiras mais famosas de sua geração. Gata, gostosa, talentosa, rica, poderosa, tudo o que uma mulher pode sonhar em ser. Certamente sua vida é um mar de rosas. Certo? Errado! No dia 6 de setembro, Anitta desabafou no Twitter que "se sentir usada é uma bosta". E, como sua vida é monitorada por todos os fãs, muitos associaram a indireta ao fato de a cantora ter deixado de seguir seu (até então) namorado, Murda Beatz, e apagado fotos com ele. Ele também teria dado unfollow nela. A vida amorosa de uma estrela tão grande não deve ser fácil. Nem sua vida política.
Desde que assumiu publicamente seu voto nas próximas eleições nesse Brasil polarizado, Anitta virou alvo constante dos oponentes de seu candidato. E, antes que alguém comente, sim, ter dinheiro ajuda a contratar bons advogados para entrar com processos contra quem a ofende, mas a dor é a mesma.
A política também tem sido fonte de muita violência contra mulheres jornalistas, alvo preferencial de muitos políticos e autoridades agressivas. A jornalista Amanda Klein esteve nas capas dos portais por ter feito uma pergunta legítima ao chefe do Executivo que também é candidato à reeleição e ter sido hostilizada. A mesma coisa aconteceu com a jornalista Vera Magalhães, apresentadora do Roda Viva, durante o debate dos presidenciáveis. O caso de Vera teve desdobramentos que ainda estão em curso. No evento do bicentenário da Independência no Rio de Janeiro, um cartaz imenso com o rosto de Vera e uma frase ofensiva foi colado num guindaste gigante estacionado em Copacabana. Esse tipo de agressão se perpetua e inflama ainda mais os haters que a atacam.
A violência pode vir sob outras formas, como o assédio. A repórter Jéssica Dias, também nesta quarta-feira (7), foi assediada por um torcedor do Flamengo que a beijou no ar, enquanto ela falava com a âncora no estúdio. Uma coisa inadmissível.
E isso não acontece só com mulheres famosas, que são figuras públicas. Acontece com todas as mulheres, de todas as formas, o tempo todo. São violências que vão desde o fato de receber salários menores pelo mesmo trabalho desempenhado pelos homens, a controle de nossas palavras, roupas, corpos, pensamentos, passando pelo grande pesadelo do assédio. O assédio que todas nós conhecemos. O olhar de cobiça que não desejamos, a frase lasciva que não pedimos, a brincadeira constrangedora que nunca solicitamos, a invasão dos nossos corpos que não permitimos.
Temos lutado incessantemente por direitos femininos e feito algumas conquistas. Mas os avanços têm recuado também. Os índices de feminicídio cresceram em 2022. A cada seis horas uma mulher é assassinada no Brasil. Não dá para aceitar.
Estamos exaustas do machismo estrutural e covarde que vê na mulher um alvo, uma presa, um objeto, uma posse. Queremos ser o que bem entendermos, queremos ter autonomia sobre nossas vidas. A gente só quer ter o direito de existir, experimentar a vida, do jeito que bem entendermos. Se a gente quiser ser gostosa, intelectual, princesa, vilã, gênia, poderosa, desbocada, séria, divertida, todas ou nenhuma dessas coisas. A gente decide. E ninguém tem direito de nos invadir por essas escolhas.
Que setembro sirva de inspiração para que cada uma de nós declare a sua independência.