Rosana Hermann
Descrição de chapéu Eleições 2022 feminicídio

Excelências, aprendam a respeitar as mulheres!

Debate com candidatos à Presidência virou um show de misoginia

Candidatos à Presidência Felipe D’Avila (Novo), Lula (PR), Simone Tebet (MDB), Jair Bolsonaro (PL), Soraya Thronicke (União Brasil) e Ciro Gomes (PDT) - Marlene Bergamo - 28.ago.22/Folhapress

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Não foi um debate entre presidenciáveis, foi um show grotesco de desrespeito às mulheres. Tão grotesco que o machismo atropelou todos os assuntos e ficou ali, exposto, pairando no ar, no meio do cenário.

A primeira agressão gratuita foi contra a jornalista Vera Magalhães. Vera fez uma pergunta muito bem estruturada sobre vacinas, e o candidato à reeleição, Jair Bolsonaro, despejou um balde de ofensas absurdas, dizendo que Vera "dorme pensando nele", que deve ter "alguma paixão por ele" e que ela seria uma "vergonha para o jornalismo brasileiro". Quando a senadora e candidata Simone Tebet defendeu Vera, Bolsonaro atacou-a também, dizendo que ela era "uma vergonha para o Senado". O que assistimos ali pode ser definido por uma palavra: misoginia

O termo, todos conhecem, é composto pelas palavras de origem grega"miseó", ódio, e '"gyné", mulher, e, ao pé da letra significa ódio às mulheres. Como conceito, engloba o desprezo, preconceito e aversão a tudo o que diz respeito ao feminino, como o termo "fraquejada" que Bolsonaro usou para se referir ao fato de ter tido uma menina depois de quatro filhos.

Ciro mencionou essa história e Bolsonaro contra-atacou desenterrando uma frase dita por Ciro duas décadas antes, de que a função mais importante de sua então mulher, Patricia Pillar, seria a de "dormir com ele". Ciro respondeu que Bolsonaro corrompeu todas as suas ex-mulheres. Ou seja, eram homens falando sobre e por suas ex-mulheres num debate para expor planos de governo de pessoas que pretendem ocupar o cargo de Presidente do Brasil!

Na segunda-feira (29), Patricia Pillar foi ao Twitter dizer que ela fazia questão de falar por ela mesma. Certa ela.

Bolsonaro tentou amenizar seus ataques machistas, considerados um gol contra por sua equipe, com mais sexismo: mencionou a primeira-dama, a quem foi dada uma missão de apoio e não de protagonismo em sua campanha.

No meio das discussões, o candidato Felipe D'Avila, representando a elite dominante de homens brancos, tentou se enturmar no assunto de políticas pública para mulheres e mencionou uma 'Leia Maria da Paz', deixando claro que ele não sabe nem o nome correto: Maria da Penha.

Entre discussões de Lula, Ciro, Bolsonaro e Felipe D'Avila, Simone Tebet e Soraya Thronicke se juntaram para aproveitar os holofotes, quase formando a dupla Presidencianeja Simone e Soraya. Foram bem. Mostraram-se corajosas, fizeram os comentários e críticas necessárias. Vale lembrar, a título de contexto, que Simone Tebet foi a favor do impeachment da presidenta Dilma e que ambas votaram em Bolsonaro em 2018, embora as duas hoje se coloquem como opositoras ao atual governo.

O debate foi bem de audiência, mas não foi um bom espetáculo. Apesar do bom trabalho de todos os apresentadores, mediadores e arguidores, teve problemas de áudio, falta de intervenção quando ocorreram as grosserias, brigas na plateia. E ficou visível a falta de representatividade, já que além de não termos candidatos negros, não tinha nenhuma jornalista preta, nenhuma apresentadora preta.

Fomos dormir tensos, preocupados, desalentados, inseguros com o Brasil. Nosso único alento foi saber que Anitta tornou-se a primeira artista solo do Brasil a ganhar um prêmio de melhor clipe de música latina. Essa, sim, representa o protagonismo feminino. Ela, sim, conseguiu nos envolver.

Para os senhores misóginos, fica o recado: Excelências, aprendam a respeitar as mulheres!