Humor na TV aberta: Ele morreu ou foi para o concorrente?
Televisão não dá conta de oferecer o volume de humor que consumimos hoje
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Todos os programas infantis que um dia povoaram as manhãs da TV brasileira desapareceram depois que a Internet se popularizou. Aparentemente as crianças trocaram os shows com apresentadoras bonitonas pelo canal da Galinha Pintadinha. Mas e os programas de humor que dominaram a cena por tantas décadas, acabaram? Morreram? Foram esquecidos pelo público?
Para responder a essa última pergunta fiz uma enquete nas minhas redes sociais perguntando quais os três programas de humor mais lembrados da TV brasileira. Pouco mais de 500 pessoas responderam. Montei uma lista com as respostas e selecionei os dez mais votados. O resultado foi bem curioso, porque os dois programas mais mencionados foram Casseta e Planeta, que saiu do ar há mais de uma década, e o TV Pirata, que acabou há nada menos que 30 anos. Ou seja, o brasileiro está bem de memória.
Em terceiro lugar ficou A Praça é Nossa, único da lista que ainda está no ar, aliás, desde os anos 1980.
Outro ponto interessante: tirando a Praça do SBT e o Pânico que saiu da Rede TV em 2012 e acabou depois de uma temporada na Band em 2017, todos os programas de humor da lista dos mais lembrados eram da Rede Globo. Escolinha do Professor Raimundo, Os Normais, Chico City, Zorra Total, Sai de Baixo, Trapalhões, Viva o Gordo. Também teve muitos votos para Lady Night, que ocupa uma categoria especial de talk show de humor com a genial Tatá Werneck.
Curiosamente apenas UMA pessoa lembrou do CQC, embora alguém tenha mencionado um Cê Que Sabe, que eu imagino, seja um engano em relação à Custe o Que Custar, o CQC.
Mas se tanta gente gostava e ainda lembra de tantos humorísticos por que eles não estão mais no ar? Por Marcelo Adnet não tem um programa? Por não se produz sitcoms como Sai de Baixo nas emissoras abertas? Foi a onda de stand-up comedy que tirou o humor da TV e levou a comédia para os palcos?
Uma provável resposta é que "a Internet matou o humor na televisão". Se antes tínhamos programas com dia e hora nas grades das emissoras, agora o humor é uma linguagem do dia a dia das redes, presente em todos os memes, vídeos no YouTube, Reels, Stories, Tiktok, textos, emojis, gifs, figurinhas de zap. É como se o público tivesse se apropriado da produção de humor. A TV não dá conta de oferecer o volume de humor que a gente consome.
Outra resposta é que a TV não consegue concorrer com o streaming. Se você quer rir você escolhe uma série de humor e se esbalda na hora que quiser.
Com esse poderio humorístico das redes e das plataformas, a TV ficou insegura para produzir programas caros de humor e passou a usar os canais a cabo como "teste". Quando programas dão muito certo no GNT ou no Multishow, como no caso de Lady Night e Que História É Essa, Porchat?, eles ganham o direito de ir para a Rede Globo. Ou quando um talento muito fora do comum aparece, como é o caso do genial Paulo Vieira, a Globo abre alguns espaços, cria quadros em programas de linha como o Fantástico, dá um espaço dentro de um reality como o BBB.
Mas a TV não desistiu de tentar. A Band, por exemplo, anunciou para junho a estreia da sitcom de humor "Nóis na Firma", com o grupo Café com Bobagem e um elenco de famosos como Moacyr Franco, Marcelo Médici, Gorette Milagres, Rosicléia, entre outros. Faustão continua com seu quadro de cassetadas. De vez em quando voltam os quadros de pegadinhas no SBT. Ainda assim são coisas muito tímidas perto dos núcleos de humor que dominavam a televisão.
O que eu sei é que o humor não morreu. Nem foi para o concorrente. Deve estar apenas hibernando na memória afetiva da gente, esperando tempos melhores para poder voltar. Dias melhores virão.