Rosana Hermann

BBB 22: Afinal, a gente quer o BBB do Céu ou o BBB do Inferno?

Qual é o problema da edição? Teria Bolinho escolhido o cardápio errado?

Natália, Jessi e Linn fazem topless após Paredão que manteve as duas primeiras na casa - Reprodução

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Há duas décadas o nome é BBB de Big Brother Brasil, mas hoje poderia ser o PPP, Palestrinha de Plantas Paz-e-amor, porque aquela arena marota de altas tretas e confusões estilo Sessão da Tarde não está rolando nessa edição. Ao contrário, tem momentos de tanta paz espiritual coletiva que fiquei na dúvida se eu estava vendo "a casa mais vigiada" ou "a casa mais ungida" do Brasil. Tirando os seis minutos do trisal Maria, Eli e o Edredon, nada acontece, feijoada. O que nos leva direto para a pergunta: qual o problema desse BBB?

Algumas respostas possíveis:

( a ) Virou acampamento de férias e jardim da infância
( b ) Está infiltrado por espiões de outras emissoras que buscam derrubar a audiência do reality.
( c ) Existe uma verdade do além, mística, esotérica que explica o marasmo vigente.
( d ) Foi culpa do Bolinho que escolheu mal o cardápio de participantes.

Antes de investigar as respostas, justiça seja feita: a gente sabe que o Brasil está em estado de barril e de tatuzão no esgoto, mas tem duas instituições que estão funcionando, a apresentação oficial impecável de Tadeu Schmidt e a eliminação de Rodrigo por voto popular democrático. A nação ninja que me perdoe, mas, como Bárbara bem disse para Natália e Jessi: ‘quem tem que sair sai, não adianta, se tem alguém que o público julga que está fazendo algo errado, algo que não é legal, o público elimina essa pessoa’.

Agora é torcer para que todas as eleições democráticas sigam essa profecia. Dito isso, vamos para a CPI do BBB, em busca de respostas.

Alternativa (a): É uma possibilidade. No ano 3 da Era Pandêmica, ninguém aguenta mais ficar trancado em casa. Faz todo sentido que justamente ao ficarem trancados em uma casa, eles finjam que estão de férias num acampamento. É chato para a gente que assiste? É. Mas para pessoas como a Naiara, que disse que nunca viveu nada nessa vida, não fez bagunça, não conheceu ninguém (Ué? Mas nem como artista?), a experiência de estar num reality do tamanho do Big Brother deve ser mais parecida com um cruzeiro de navio do que um jogo competitivo valendo prêmio. Como todos sabemos, Naiara vai desembarcar muito antes, não vai chegar nem na final da excursão. Ficará de fora, a ver navios.

Alternativa (b): Tiago abriu o Baú da Infelicidade. E tem nos brindado com seu próprio programa do SBT na Rede Globo, uma mistura de Fofocalizando com Casos de Família. Assim, ficamos sabendo que a polarização não acontece só na política, mas também na linhagem Abravanel. A família é tão dividida que seu avô Silvio Santos nunca foi a uma festa de aniversário do neto, exceção feita ao bolo do primeiro aninho de vida. Me doeu pensar que a vida inteira essa criança cantou "Silvio Santos vem aí" e o avô não apareceu. Isso nos levaria a pensar que ele está no programa para derrubar o SBT, certo? Não necessariamente. Porque além de excelente cantor ele é um ótimo ator e poderia estar apenas representando, uma espécie de Scheherazade (não a Raquel, a outra) contando histórias durante mil e uma noites ( tá, 94) e assim, transformando uma competição animada de reality show brasileiro num meloso dorama. Afinal de contas, foi ele que perguntou: "Por que que a gente tem que mostrar pro Brasil, que esse jogo aqui tem que ser um inferno para ser interessante?".

Amigo, se a gente quisesse ver gente vendendo céu a gente sintonizava num programa religioso, BBB é jogo, lembra?

Alternativa (c): Pesquisei várias linhas esotéricas. Fiz o biorritmo do programa, busquei sabedoria no horóscopo chinês, tentei até ler as mãos que o programa divulgou antes da estreia. Nada. Conferi jogo do bicho para ver se o bicho era preguiça, mas levei um coice, porque o 22 é do grupo da cabra. Eis que fui para a numerologia e, pelo que percebi, o número 22 pode ser uma resposta. "Sendo um número de dígitos duplos, ele está conectado a um plano espiritual que busca propósito para nossa existência. O 22 dessa edição funcionaria como uma antena cósmica, que canalizaria sabedoria para o planeta Terra, trazendo ideais de introspecção, passividade e cooperação". Entendeu? Não? Nem eu. Não sei. Só sei que no bingo, a pedra 22 é cantada como "dois patinhos na lagoa", talvez numa alusão a Maria e Eli, mistura de pata com ganso, de cujos matos não sairão coelhos.

Alternativa (d): Bolinho escolheu mal os participantes? Ou escolheu bem? Vejamos. A audiência do programa não está ruim. Ao contrário. Está durando mais tempo e mantendo boa média mesmo passando da meia-noite, ou seja, já na linha do antigo ‘25ª. Hora’, se é que você me entende. Embora muitos acreditem que o programa tenha flopado, o segundo paredão, Rodrigo x Jessi x Natália, teve mais votos que o do BBB 21 com Bil x Gil x Juliette. E, acredite se quiser, há os que não querem mais os conflitos que têm mantido o sucesso dos dramas desde a Grécia Antiga e que defendem que vale a pena ter uma edição mais amorosa e com mais união entre as pessoas (sabem de nada, inocentes).

Mas há um ponto a favor de Bolinho, que envolve uma visão mais ampla do elenco. Dessa vez, a bolha estourou pra valer. A tela plana onde vemos a atração ganhou uma dimensão 3D, ganhou mais vida aqui fora. Caiu a 4ª parede (aqui sempre tem alguém pra falar ‘Fleabag!’ como se tivesse sido a primeira vez na vida que uma ator de ficção olhou para a lente da câmera). Porque além dos brothers e sisters temos os conjes e apoiadores!

> Mayra Cardi – a conje de Artur participa secando e controlando a dieta do coitado, que além de ter o pão regulado, contou que nunca experimento algodão doce NA VIDA.

> Luana Piovani – segue surfando as ondas do ex —ainda que do outro lado do Atlântico.

> Ludmilla – advogada de defesa, segurança pessoal e assessora de imprensa de Brunna, dá bronca em quem criticar sua mulher. (Não tô criticando, Lud!!)

> Leo Picon – Não chega a ser um grande pitaqueiro da irmã, mas participa nas redes e do sucesso fashionista de Jade que esgotou as peças da Shein que usou no programa.

> Sonia Brownie — a mais Abravanel dos não-Abravanéis defende o clã com unhas, dentes, sempre pegando carona na pauta do BBB.

Claro, o BBB sempre pautou todas as editorias, de entretenimento à economia, passando por esporte (oi Paulo André, tudo bem? Você está na casa, né?), saúde, literatura, tudo. Mas essa edição de Bolinho transformou o BBB num bolão onde todo mundo cabe. Até o pai de Maria já foi parar na home do UOL porque trabalha em dois turnos, como gari de dia e como massoterapeuta em sauna masculina à noite. Gente que nunca viu o programa está vendo. Gente que tinha parado de comentar reality, está comentando.

O que me parece é que o elenco foi bem escolhido, mas está, em parte, inesperadamente apagado. Ainda não pegou no tranco. Bárbara não rende quase nada. Vai ser eliminada e contratada para ser bonitona em algum programa de humor no Multishow. Brunna vai seguir com a vida, a bonequinha em breve estará fora da caixa. Douglas tem sido elogiado pelas dancinhas, mas criticado por suas posturas arrogantes. Slow Vênia, de interessante só tem o nome. No futuro talvez abra um restaurante de Slow Food.

Laís poderia se chamar Oxigênio, está no ar mas ninguém vê. Lucas tem que colar com Jade pra render (ou vender) alguma coisa. Viny, que encantou todo mundo na estreia, tem sido uma decepção.

Por enquanto só o trio Lina, Jessi e Nati fizeram algo de novo, de diferente: tiraram a parte de cima do biquíni e celebraram a liberdade de seus corpos diante de milhões. E, por breves momentos, nos livraram um pouco do nosso inferno do dia a dia e, como três estrelas, nos levaram a acreditar no céu.

O que queremos do BBB? Queremos que seja o que é, um jogo comportamental, uma competição estratégica relacional, para que a gente possa ver a complexidade e a incoerência dos humanos que abrem mão de sua intimidade em troca de um bom prêmio em dinheiro.

Que comecem os jogos!