Concurso de beleza para homens trans reforça diversidade do setor
Mister Brasil Trans terá sua primeira edição no início de novembro
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Um grupo de 30 candidatos de todo o país vai disputar, no início de novembro, em São Paulo, o título de Mister Brasil Trans 2021. De acordo com a organização, que conta com parceria e patrocínio da rede Accor, a proposta do evento é “quebrar paradigmas evolutivos à representação da beleza, sempre direcionada à cisgeneridade, principalmente dentro da indústria de moda”.
A declaração, presente no material de divulgação à imprensa, é uma crítica aberta e clara aos padrões de beleza engessados vigentes. Apesar disso, mostra também que o setor dos concursos de miss e mister no país está se abrindo aos grupos sociais minorizados. E, mesmo que seja um evento nichado, o anúncio do concurso dá continuidade a uma linha evolutiva do setor no sentido de diversidade.
O estopim dessa abertura trans entretanto veio de fora, quando em julho de 2018 Angela Ponce foi coroada como a representante da Espanha para o Miss Universo daquele ano. Ela foi a primeira mulher trans a entrar na famosa competição internacional, até então tradicionalmente cisgênero. Nessa esteira, o Miss Mundo oficializou a inscrição de mulheres trans, assim como o Miss Supranational, que anunciou a mudança de regra no mês passado.
Não demorou muito para que o tema começasse a gerar discussão nos principais fóruns sobre misses e impactar nos concursos em vários países, que são franqueados desses eventos. Algumas localidades contam com barreiras culturais muito fortes, e a possibilidade não é sequer avaliada. Em outros, existe uma barreira social que já está em transição, como é o caso do Brasil. Assim, de forma tímida candidatos começaram a surgir.
Por aqui, os destaques com alta repercussão ficam em duas candidaturas específicas, do lado feminino. A primeira incidência no país foi em janeiro de 2019, quando Náthalie de Oliveira concorreu na etapa carioca do Miss Brasil Universo, mas não avançou para o nacional. Diferente dela, em agosto deste ano, a goiana Rayka Vieira ganhou os olhos da imprensa ao se tornar a primeira mulher trans a lutar por uma faixa verde e amarela, no Miss Brasil Mundo.
Do lado de homens trans, a repercussão não é tão forte quanto para as mulheres. Ao fazer uma comparação, é indiscutivelmente notável que os concursos femininos são bem mais populares que os masculinos, e esse é um dos motivos. Outro é que a figura dos homens trans ainda é menos comum que a da mulher, e o tema é menos discutido.
No Brasil, por exemplo, a inclusão social de mulheres transgênero começou a ser explorada nos anos 1980, quando a supermodelo Roberta Close virou uma celebridade nacional. Ela inclusive chegou a posar nua na extinta revista Playboy, em maio de 1984, considerada uma publicação nobre da imprensa nacional e de exaltação da beleza feminina.
Já para homens trans, o representante trans mais popular no país é mais recente. Trata-se do ator e político Thammy Miranda, filho da cantora Gretchen. Outrora um símbolo sexual, que chegou a posar nua para revistas masculinas e fazer filmes pornográficos, Thammy anunciou publicamente o início da sua transição há menos de dez anos, em 2014. Foi só aí que o tema ganhou mais pauta de discussão.
Mesmo com sua relevância social, vale lembrar que Thammy não se coloca como porta-voz do movimento trans e muitas vezes é cobrado por posicionamentos. Hoje casado e pai, é inegável ainda que ele abriu um espaço importante não só para a aceitação social dos homens trans, mas também em termos de representatividade LGBTQIA+. Isto posto, o fato é que o país ainda carece de mais exemplos de homens trans, e o Mister Brasil Trans pode ser mais um passo nesse sentido.