De faixa a coroa

O que a França pode aprender após ataque antissemita a candidata em concurso de miss?

Concurso de miss do país é considerado o mais antigo do mundo

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Uma onda de ódio nas redes sociais colocou o Miss França em evidência na última semana. O alvo foi a jovem April Benayoum, 22, representante da região de Provence, e que conquistou o segundo lugar na competição. Durante o show, ela revelou que seu pai é de origem israelense, o que acabou despertando os racistas do país europeu.

Após a final, April lamentou a um jornal de Provence “que ainda estamos neste ponto em 2020, precisamos nos mobilizar para freá-lo”. “Não quis provocar ninguém. A França é um país cosmopolita, e as misses possuem diferentes origens, diferentes culturas, são de regiões diversas e essa é a beleza deste concurso”, declarou.

A competição foi vencida pela representante da Normandia, Amandine Petit, 23, que já declarou publicamente apoio à colega. Ela considerou “extremamente decepcionante” as “observações inadequadas” dirigidas a April. Além de Amandine, políticos franceses, como o ministro do Interior, também se posicionaram ao lado da miss.

Uma investigação foi aberta pelo Ministério Público de Paris por “injúrias racistas e incitação ao ódio racial”. “Alguns desses tuítes continuam online: isso não é aceitável”, lamentou a ministra delegada de Cidadania francesa, Marlène Schiappa. “As redes sociais precisam assumir suas responsabilidades”, alertou.

Um total de 29 jovens participou da competição este ano, e Amandine recebeu a coroa das mãos de sua agora antecessora, Clemènce Botino. Negra, Clemènce também foi alvo de injúrias nas redes sociais quando eleita, em dezembro de 2020, e chegou a ser chamada de “macaca”.

Ainda no ano passado, a candidata de ascendência asiática Evelyne de Larichaudy, representante de Ile-de-France, também foi alvo de insultos racistas por sua origem.

LONGEVIDADE, INVESTIMENTO E INTERESSE

Curiosamente, a audiência televisionada do Miss França deste ano, segundo a imprensa francesa, bateu recorde, sendo a maior desde 2007. A final contou com média de mais de 8,5 milhões de telespectadores, ou 41,5% do público, com pico de 10,4 milhões nos minutos da coroação.

É uma movimentação inversa à de muitos países, onde os certames de beleza perderam força e apoio de TV, como acontece aqui no Brasil. No caso do Miss Brasil Mundo, o apoio de canais é esporádico, e não conta com exibição em rede aberta. Já o Miss Brasil Universo perdeu espaço com o fim da parceria entre a Band e a Polishop, voltando neste ano 100% online, agora sob o comando do empresário Winston Ling.

O Miss França por sua vez éconta com alto investimento --de valor não revelado. O concurso é bastante dinâmico e zero entediante, como muito se vê por aí. Seu roteiro é abrilhantado pelas músicas, a coreografia sempre presente e troca de figurinos belíssimos, sem falar nas luzes bem posicionadas, efeitos especiais, painéis de led multicoloridos e uma passarela de dar inveja aos mundiais.

Esta foi a centésima edição do Miss França, considerado o concurso de beleza mais antigo do mundo. Surgido em 1920 com a alcunha de “a mulher mais bonita da França” e motivado pelo sentimento pós-Primeira Guerra. Na época,a competição não levava aos concursos internacionais de beleza, já que o Miss Mundo e o Miss Universo, só surgiram em 1951 e 1952, respectivamente.

Infelizmente, a longevidade do concurso, seu custoso investimento e o alto interesse da população ainda contrastam com ataques racistas. Talvez o grande sucesso de audiência e a indignação que sucedeu a final deste ano possam trazer competições ainda melhores no futuro.