Globo fornece aos gringos a brasilidade que ostenta
Grupo se gaba de ser 'a casa do audiovisual brasileiro' logo após Netflix anunciar novela com talentos dispensados pela emissora
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Sublinhar a brasilidade se tornou o trunfo da Globo frente a concorrentes estrangeiras que fazem do grupo da família Marinho um Davi diante de alguns Golias na disputada seara do streaming. Foi nisso que os profissionais a serviço do grupo se apegaram durante o painel Do Plim ao Play, no evento Rio2C, onde foram anunciadas produções previstas para os próximos dois anos.
Realizado na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, o evento é hoje o palco mais importante do setor no Brasil, onde roteiristas, produtores, diretores e distribuidores se encontram, sendo portanto também ocupado por representantes das gigantes gringas --Netflix, Warner Bros. Discovery, Prime Video e Paramount-- que operam no país.
O discurso dos executivos Amauri Soares (TV Globo e Estúdios Globo) e Erick Brêtas (GloboPlay), corroborado um tom acima por Silvio Guindane, ator e diretor que atua e dirige em novas produções para o streaming do grupo, ocorreu no mesmo palco onde, poucos minutos antes, a Netflix havia anunciado oficialmente o casal Juliana Paes e Vladimir Brichta como protagonistas da tão aguardada primeira novela que a plataforma produzirá no Brasil.
Com realização da produtora A Fábrica, o folhetim em questão, "Pedaço de Mim", será escrito por Ângela Chaves e dirigido por Maurício Farias. Do diretor aos atores, passando pela autora, foram todos formados em televisão pela mesma Globo que ostenta toda a sua brasilidade.
Enquanto seus ex-colegas ensaiavam esse script nos bastidores do palco, Brichta, Paes, Farias e Chaves, que não tiveram seus contratos renovados pela empresa brasileira, celebravam, diante da plateia, a nova empreitada e a perspectiva de alcançar cento e tantos países simultaneamente.
No momento em que a rede brasileira reestrutura seu modelo de gestão pessoal, abrindo mão de contratos exclusivos e enxugando como nunca seu quadro de funcionários e colaboradores, o mercado audiovisual enaltece tanto quanto Silvio Guindane a presença de empresas não brasileiras dispostas a produzir em nosso solo.
É evidente que a Globo está no seu papel para garantir a boa imagem de que goza entre público e criadores. Bater no peito para dizer que é brasileira é a carta que lhe resta diante de conglomerados mundiais que faturam zilhões e lhe promovem uma concorrência de arrancar o fôlego.
Mas, aos olhos de quem está de saída da "casa do audiovisual brasileiro", essa premissa tem valor nulo. Para os talentos que tiveram ofertas melhores ou ficaram sem projetos na Globo, a comemoração que se impõe é ver empresas estrangeiras investindo no setor, empregando grandes nomes formados pela emissora e, por que não, fazendo-lhe a concorrência que os demais canais abertos nunca conseguiram alcançar.
Nesta quinta (13), foi a vez da Warner Bros. Discovery (WBD) anunciar também sua primeira novela no Brasil, com Camila Pitanga e Murilo Rosa, além de outras séries e documentários nacionais a serem escritos, dirigidos e encenados por brasileiros tão brasileiros quanto os brasileiros que trabalham na Globo.
O mesmo aconteceu com o Prime Video, cuja série de língua não inglesa hoje mais vista por seus assinantes no mundo é a brasileira "Dom", realizada pela produtora brasileira Conspiração, com atores brasileiros que também ganharam fama pela tela da Globo.
Em resumo, nessa cena somos todos brasileiros.
A jornalista viajou ao Rio a convite da Netflix