Ninguém me avisou que, na maternidade, os dias seriam todos iguais
Quando engravidei, as conversas eram as mesmas: sua vida vai ser totalmente diferente; não tem sido bem assim
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Quando eu fiquei grávida da primeira filha —e acho que até mesmo antes da gestação— fui orientada por bastante gente sobre o quanto a minha vida iria ficar diferente após ser mãe.
De fato, a Cristiane Gercina sem preocupações com o seu DNA ambulante saindo pelas ruas, se movendo, transformado em outro ser humano deixou de existir. Agora, o que está aqui é a mãe, mulher e profissional que rala todo dia para dar às filhas a decência mínima da vida em sociedade.
Ou seja, quem eu era antes realmente mudou. Mas há coisas na maternidade que são iguais todos os dias e ninguém me falou sobre elas.
Todos os dias elas querem comer chocolate, biscoito doce e outras guloseimas, e não podem. Não faz parte de uma alimentação saudável. Todos os dias elas se recusam a fazer uma das duas refeições mais importantes: querem pular o almoço ou o jantar.
A desculpa é sempre a mesma: "Não estou com fome agora". Sendo que eu, como mãe, já sei o real motivo por trás da frase: querem jogar um pouco, ver TV, brincar, pintar, estar com os bichos ou falar com as amigas exatamente na hora das refeições que, há um ano e dois meses, têm sido feitas em família, ao redor de uma mesa, nem sempre organizada, dada a loucura da pandemia.
Ninguém me avisou que dos quatro aos oito anos —pode começar antes ou terminar bem depois— haveria resistência para entrar no banho e, depois, resistência para sair. Até falaram que isso poderia ocorrer. Mas não falaram que seria todos os dias.
Ninguém me contou que eles repetem o mesmo pedido com frequência: "Mãe, eu posso...?", complete os pontinhos, cara leitora. Posso isso, posso aquilo? O pedido é sempre de alguma coisa que não pode, que talvez nunca será permitido. Não nesta família, não com essa idade.
Outra coisa que não me contaram é sobre a hora de dormir. Como ela é igual todo santo dia. Não querem ir dormir, não estão com sono, acham que as regras não são justas, que a hora determinada pela família não é legal, que sexta-feira deveria ser dia que todo mundo poderia sempre dormir só no sábado. São sempre os mesmos argumentos, iguais. Por anos.
O questionamento aqui é: Como lidar com os dias iguais? Por que ninguém me preparou para isso? Como lidar com a quantidade de lição de casa da modernidade? Com os dilemas na escola?
Com o excesso de telas da pandemia? Todos os dias. Com lidar com o fato de que atrasam para comer, para acordar, para chegar em qualquer compromisso? Isso é igual há anos. Primeiro, quando são pequenos, o motivo é não saber amarrar o cadarço e sempre precisar de ajuda.
Depois, o motivo é que estão aprendendo a amarrar o cadarço e, por fim, o atraso para chegar na escola é porque em vez de amarrar o cadarço, ficam olhando para o nada.
Confesso que sei lidar com muitas coisas na maternidade. Preparei-me para tais dificuldades, mas não me preparei para dias iguais e ações iguais, mesmo quando a gente tenta fazer tudo diferente. Dizem que, quando as coisas ao redor não mudam, é preciso que você mude.
Mas como mudar atitudes de mãe? Como dizer "sim" em determinado momento para fazer algo que seja diferente do "não" necessário para educar um filho.
Já fiz de tudo, pinto, bordo, viro de cabeça para baixo, faço malabarismo, converso, explico, choro, grito, mudo as regras, volto para as regras, mas parecem que os filhos querem, realmente, nos vencer pelo cansaço. E, confesso, já fui vencida pelo cansaço algumas vezes: permiti sobremesa antes do almoço, deixei ficarem acordadas até tarde e liberei o celular um pouco mais.
Não adiantou. Se alguém tiver solução, me diga!