Em dois meses, duas mães estão presas suspeitas de crimes contra os filhos
Precisamos olhar a fundo a maternidade
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Ketelen Vitória, 6 anos, e Henry Borel, 4, teriam pouco em comum fora o fato de serem duas pequenas crianças, moradoras do estado do Rio de Janeiro. Negra, Ketelen vivia de forma precária em um pequena cidade, sem acesso decente à educação, cultura, moradia e proteção. Branco, Henry tinha os cuidados de uma babá, em uma casa confortável.
Mas as circunstâncias trágicas de suas mortes colocam Ketelen e Henry lado a lado em uma situação das mais difíceis que vemos no país em um intervalo de poucas semanas: suas mães, que deveriam zelar e protegê-las, estão presas e podem ter envolvimento nas mortes. Só a Justiça dirá se são realmente culpadas.
Em um primeiro momento, o que nos vem à mente é a sensação de que uma mãe jamais faria ou permitiria qualquer tipo de crueldade contra seus filhos. Mas não é isso que estamos vendo.
O que temos em nossa frente são duas mães que, em situações muito similares, com parceiro e parceira abusivos, ficaram imóveis ou até corroboraram (não se sabe ainda ao certo como tudo ocorria) com a violência dentro de suas casas contra seus pequenos.
As condições em que a menina Ketelen vivia são de chorar. Um pouco antes de ser levada ao hospital, a criança havia sido espancada e estava deitada em um colchão, num quarto sem as mínimas condições de higiene, conforme relatou a mãe de sua madrasta à polícia.
Embora se investigue a tortura, mãe e madrasta (a mãe era casada com uma mulher) estão presas após confessarem ter agredido a menina. Katelen foi levada ao hospital na segunda-feira (19) e, no sábado (24), sem aguentar as sequelas das agressões, morreu.
Henry tinha uma vida diferente. Um quarto bonito em um apartamento lindamente decorado e equipado. Tinha ido visitar o pai um pouco antes de morrer. As últimas imagens que temos são do menino no colo de sua mãe, dentro do elevador, na madrugada de 8 de março, já morto. Parecia estar dormindo, mas a perícia atestou que a morte foi antes.
A dura forma como esses dois seres inocentes nos deixaram nos faz refletir sobre o real papel da maternidade, nos faz querer passar a limpo o que é ser mãe.
Haveria ali, nos dois casos, situações internas de baixa autoestima? De necessidade de se ter um parceiro ou uma parceira para se sentir feliz, amado e fazer parte do mundo? O filho era um peso?
Na maioria dos casos, isso ocorre por medo de ficar sozinha, por apego a questões financeiras ou até mesmo necessidades econômicas. Há, ainda, um sem número de mulheres que acreditam que os filhos precisam de “correção” e acabam deixando um terceiro “educar” para que, no futuro, ela seja mãe de um “cidadão de bem”.
Esse é um dos fatos que conheço e acompanho em histórias de mães que estão perdidas. E por que nos perdemos, eu pergunto? Nos perdemos porque a maternidade ainda é algo “compulsório” na vida de muitas mulheres.
Porque ser mãe nos eleva a um status social que as não mães não têm, porque é difícil estar sozinha, há depressões não curadas e a violência contra crianças como forma de educar ainda é vista como algo natural.
Para proteger crianças, precisamos olhar a fundo a condição de cada mãe.