Mãe que deseja ser ouvida precisa ocupar espaços e não se trancar em casa
Basta de sermos as últimas a serem consultadas e a serem ouvidas
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Desde os tempos antigos, foi relegado à mulher papel secundário na sociedade. Sob o mito de que o dom do cuidado está no ser feminino —talvez porque, por ter útero, somos as grandes responsáveis por gerar e dar vida a outro ser—, as comunidades se organizaram de forma a colocar a mulher ocupada com coisas que nos impedem de estar no debate e fazer parte de grandes decisões.
De forma geral, o corpo da mulher tem fragilidades —há exceções— e se fragiliza ainda mais após gerar um filho, passar pelo puerpério e amamentar. Ou seja, por mais que tenhamos essa potência da natureza, que é dar vida, precisamos, sim, de um tempo para nos recuperar.
No entanto, esse confinamento é o que querem nos relegar para sempre. E, se o preconceito de achar que mulher é um ser inferior já toma conta do ser feminino quando ela não tem filhos, imagina qual não é o preconceito contra as mães.
Somos as últimas a serem consultadas e a serem ouvidas. Somos consideradas sem tempo disponível e sem capacidade suficiente. Eu costumo dizer que, na sociedade, de forma geral, acreditam que nosso cérebro vai embora no parto, com a placenta, o líquido amniótico e o cordão umbilical.
E, mesmo no meu caso, que vivo em ambiente de grande respeito —os jornalistas são realmente uma espécie em busca de construir uma sociedade melhor—, já vivi e senti na pele o descrédito que paira sobre as mães.
Mas nunca me rendi a isso. É cansativo, confesso, ter que provar dia a dia cinco vezes mais do que outras mulheres e dez vezes mais do que os homens que sou capaz de fazer algo. É difícil ter que lembrar de tempos em tempos que, sim, eu sou mãe e, por isso, gostaria de ter um tempo ao lado das minhas filhas. Tempo que é direito meu e delas.
O mercado de trabalho nunca foi leve nem doce com as mães, mas tenho esperança que um dia será. Para isso, no entanto, é preciso ocupar espaços. Entendo e respeito as que abandonam as vagas tradicionais, mas o que eu diria a qualquer mãe que quer ser ouvida é: ocupe espaço, brigue por uma cadeira na liderança, denuncie abusos, articule-se para mudar as coisas e eleja mães para cargos de vereadora, deputada, governadora, senadora, prefeita e presidente.
Especialmente se você se sente massacrada e quer ser ouvida. É pesado, mas não desista.