Colo de Mãe
Descrição de chapéu

A mãe que ainda não foi interrompida no home office não tem filhos

Na pandemia, só 'mãe de planta' ainda não passou perrengue nas reuniões profissionais online

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Se você for mãe de um ser humano, seja ele pequeno, médio ou grande e está —ou esteve— em home office na pandemia de coronavírus, já deve ter sido interrompida pela cria em uma reunião de extrema importância. Caso essa interrupção ainda não tenha ocorrido, das duas uma: ou você é pai ou é 'mãe de planta', pois até as mães de bichos são vítimas.

Brincadeiras à parte, pai ou mãe de criança, adolescente ou mesmo de um jovem em casa, trancado em quarentena, já passou por situações engraçadas ou, até mesmo, constrangedoras durante algum momento de trabalho. Como jornalista, eu confesso que já passei perrengue em entrevista.

E também já ri muito com um entrevistado que não conseguia conter o filho. Rimos juntos. Ele me pediu um minuto, desligou o telefone, atendeu a criança e, depois de um tempo, voltou a falar comigo.

O home office tradicional, aquele que a mãe ou o pai escolhiam vivenciar em vez de ir todo dia para um local fixo de trabalho, era diferente, tinha outras regras. Nele, não se admitia criança, latido de cachorro, carro do ovo ou barulho de britadeira. Era um ambiente de trabalho, mas em casa.

Agora, com o isolamento forçado de toda a sociedade, home office e homeschool convivem no mesmo ambiente que, em sua maioria, não foi adaptado para tal.

Aqui em casa, passados seis meses, seguimos firmes e fortes em isolamento, trabalhando e estudando trancados, protegidos da Covid-19, mas quase enlouquecendo com as diversas atividades.

Não foram poucas as vezes que minhas filhas me interromperam. E olha que as treino desde cedo para respeitar quando falo ao telefone ou os meus momentos de entrevista, que já ocorriam mesmo antes de eu deixar a sede da empresa e ficar em casa de vez.

No início da pandemia, desesperadas, amigas relataram que o filho gritava todas as vezes que ela abria o microfone em reunião de trabalho. Já vi crianças interrompendo seus pais, educadamente, para falar de algo que ela considerava “muito importante”.

Mas nada se comparou ao que vivenciei há algumas semanas. Na exata hora da minha reunião de trabalho, em que todos os colegas estavam participando, ou seja, não era apenas uma das reuniões diárias entre eu e a chefia —que já conhece minhas filhas, está acostumada com as aparições— e bem quando eu havia pedido a palavra e estava prestes a abrir o microfone, as duas começaram a brigar.

Em segundos, iniciou-se uma briga fora dos padrões normais para o dia a dia. Uma segurava o computador de um lado e a outra, do outro, como um cabo de guerra, mas feito com o equipamento que elas usam para assistir diariamente a aula e é emprestado.

Meu coração quase saiu pela boca. Fui rápida, olhei para o lado, ameacei tirar os eletrônicos para o resto da vida e vi, em segundos, a paz reinar. O episódio, como tantos outros, só me fez entender que, em novos tempos, as crianças, com suas particularidades, seus barulhos e seu corre-corre estão mudando de vez a cara do home office. E isso é muito bom.

Espero que, ao final da pandemia, a sociedade da “adultização”, onde crianças precisam ter sempre autocontrole, não são bem-vindas em muitos ambientes e acabam sendo tratadas por parte dos indivíduos como um problema, possa reconhecer que é possível, a todo tempo, e não apenas numa pandemia, que todos convivam em um mesmo ambiente.

Não quero com isso dizer que minhas filhas e os filhos dos outros precisam participar de reuniões, mas quero que a flexibilidade que estamos vivendo seja levada para os dias futuros, com leveza.