BBB 20: Até quando machistas alfa vão mandar mulheres para o paredão da vida?
Homens assim estão infiltrados por todas as brechas de nossa existência
Nunca gostei do BBB. Minha única referência à sigla sempre foi o livro "1984", de George Orwell, em que o Grande Irmão usa um sofisticado sistema de câmeras para vigiar todo mundo numa sociedade sem liberdades individuais –uma ficção cada vez mais próxima da nossa realidade. Estamos cercados de câmaras e meu celular até tem reconhecimento facial. Perigo!
Meu sábio pai me ensinou, porém, que para gente meter o pau em alguma coisa precisa conhecer. Quando o programa virou unanimidade, decidi acompanhar uma temporada inteira, religiosamente. Dei uma baita sorte de principiante. Era o BBB 5, aquele em que saiu como vencedor o professor de ideias firmes, abraçado na segunda colocada, a moça linda e cativante com sotaque caipira.
Torci por aqueles dois de coração, porque eles eram mesmo pessoas diferentes. E eu tinha razão. Jean Wyllys fez —e meu palpite é que vai continuar fazendo— história na política e pelos direitos LGBT. Eleito deputado por três mandatos consecutivos, ele deixou o Brasil no início de 2019 após sofrer ameaças.
Grazi Massafera, por sua vez, provou que, além de esbanjar carisma, tem talento. Ela deu um show há pouco na novela "Bom Sucesso" (Globo).
Mas foi só aquele BBB. Mais de um BBB é overdose. Vivi sem contratempos sociais esses 15 anos por não saber o que acontecia na tal Casa. Ninguém do meu círculo social mencionou um único acontecimento digno de nota. Até que veio convite para acompanhar o BBB do aniversário de 20 edições. Avisei que não entendo de BBB. Mas era justamente o pré-requisito para a vaga de colunista, e não tive como dizer não.
Demorei para estrear esta coluna porque tem sido um desafio entender tudo. A começar pelas provas. De onde tiraram tantas regras? Da primeira vez que Tiago Leifert leu o papelzinho explicando, eu tiver de dar replay. Agora, Tiago não me pega mais: quando ele diz que vai explicar a semana, eu estou com o bloquinho em punho para desenhar tudo. Tem um caderninho do lado da TV.
Passei essas primeiras semanas refletindo sobre a musculatura dos participantes. Você precisa de muito tempo e dedicação para ter bíceps agigantados, barriga tanquinho, coxas torneadas e aquele bumbum empinado se esbaldando no micro biquíni fio dental.... Onde eles arrumam tempo para fazer tanta ginástica e puxar tanto ferro? A turma do Camarote ainda vá! Exibir corpinho escultural faz parte do ganha-pão. Mas e a galera da Pipoca? Como trabalhar e ter tempo para ser gostosa (o)?
Bateu um arrependimento gigante de ter rompido a minha relação de dez anos com o personal trainer por falta de tempo para malhar. Como reatar com o Marcão é minha pergunta interior a cada programa. Tenho feito o discurso interior: “Marcão, me perdoa ter faltado as aulas porquê precisava dormir. Vou ser mais esforçada. Volta, Marcão.” Não tive ainda coragem de enviar uma mensagem...
Mas o que me impressionou da outra vez, e agora adquiriu uma escala muito maior, é o nível basicão das conversas e a inacreditável repercussão que ganham. Lá em 2005, quando vi o BBB, não existia rede social. Qualquer tititi fica boiando em algum site e ganhava capa de revistas de fofocas. Agora, não!! Alimentam polêmicas séries, fervorosas e inflamadas nas pages.
Gente, qual a dúvida de que zoofilia não tem cabimento? Não se trata de discussão moral e se alguém vai para o inferno. É quase uma discussão técnica. Sexo pressupõe prazer consentido entre os praticantes conscientes do ato. Se não tem consciência ou consentimento, não pode haver sexo. Um bichinho tem consciência e capacidade de dar consentimento. Não, né?
Outro tema. O machismo. Caras companheiras, existe alguma dúvida para nós mulheres de que estamos cercadas de machistas? Existe alguma dúvida de que eles operam contra nós? Existe alguma dúvida de que, apesar de um ou dois desses machistas, com rostos lindinhos e braços fortes, podem até gostar um pouco da gente mas que isso não muda o fato de eles se acharem mais e melhores do que nós?
Os machistas alfa –e alguns machistas gays também– estão infiltrados por todas as brechas de nossa existência. E vão continuar assim, bem posicionados, mandando a gente para o paredão da vida. Assim será até que mulheres parem de brigar com mulheres para chamarem a atenção dos homens. Até que mulheres mandem o machistas por quem se apaixonam ficarem no lugar deles. Até que mulheres parem de mimar os filhos meninos para transformá-los em machistas da próxima geração.
BBB, querida (o), é microcosmo.