Como Jane Krakowski se tornou especialista em roubar a cena e rainha dos memes na internet
No segundo ano de 'Schmigadoon!', atriz volta como advogada de métodos pouco ortodoxos
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Se você começou a acompanhar séries no final dos anos 1990, talvez você se lembre dela como a assistente fofoqueira Elaine Vassal de "Ally McBeal" (1997-2002). Se foi depois, pode ser que a tenha visto como a ególatra apresentadora Jenna Maroney em "30 Rock" (2006-2013). Ou quem sabe como a politicamente incorreta socialite Jacqueline White de "Unbreakable Kimmy Schmidt" (2015-2019).
Aos 54 anos, Jane Krakowski vem imprimindo sua marca em séries de sucesso mundial há pelo menos três décadas. Muitas vezes coadjuvante, ela quase sempre rouba a cena com sua facilidade invejável para fazer os outros rirem. A segunda temporada de "Schmigadoon!", que estreia na quarta-feira (5) no serviço de streaming Apple TV+, é mais uma prova disso.
A série musical, que faturou o Emmy de canção original em 2022, é uma grande homenagem aos musicais da Broadway. No entanto, ao contrário da primeira temporada, que usou como referência os espetáculos açucarados das décadas de 1940 e 1950, desta vez os personagens estão inseridos no contexto mais monocromático, sinistro e (por que não?) sensual das encenações dos anos 1960 e 1970.
Na trama, o casal Josh (Keegan-Michael Key) e Melissa (Cecily Strong) decide voltar à cidade de Schmigadoon após o relacionamento cair na rotina. O que eles não esperavam era que iriam parar em Schmicago, uma versão da cidade de Chicago, tão cantada nessa época. Tirando os dois protagonistas, todos os demais atores voltam fazendo novos personagens.
"É como participar de uma companhia de teatro de repertório", compara Krakowski em entrevista ao F5. "Gosto de dizer que uma das delícias de estar nessa série é que sou uma fã de musicais, cresci nesse mundo. E eu amo o fato de ter ido parar nessa joia rara que combina meu amor por essa arte e pela comédia televisiva."
Criador da série, o roteirista e produtor executivo Cinco Paul diz que a mudança de cenário foi proposital. "Senti que já tínhamos feito tudo no universo anterior, rendemos tributos a todas as peças e sempre pensei em fazer uma segunda temporada com a seguinte era dos musicais, então foi natural", comenta. "O teatro musical muda muito nessa época, então era uma forma de prosseguir sem nos repetirmos."
No caso de Krakowski, na primeira temporada ela fez o papel da condessa Gabriele Von Blerkom, que morria de ciúmes do noivo, o médico da cidade interpretado por Jaime Camil (ambos personagens eram livremente inspirados em "A Noviça Rebelde"). Ela teve uma grande cena, em que cantava e dançava enquanto dirigia um carro conversível, mas ficou com gosto de quero mais.
"Com certeza [queria ver mais da personagem]", admite. "Mas esse sempre havia sido o plano, desde o começo. Eu adoro aquele número e valorizo muito a química que tive com a Cecily. Tivemos um tempo de comédia juntas que é sempre empolgante de alcançar. Foi muito divertido."
Porém, se tivesse de escolher uma das duas cidades (Schmigadoon ou Schmicago) para visitar, ela confessa que ficaria com essa última. "Os musicais das décadas de 60 e 70 são os meus favoritos e é por eles que meu coração bate mais forte", afirma ela, que é vencedora de um Tony pelo papel de Carla no revival de "Nine".
Desta vez, a atriz interpreta Bobbie Flanagan, uma advogada com métodos bastante inusitados. "Ela é baseada fortemente no Billy Flynn do musical 'Chicago', mas com uma pegada mais [Stephen] Sondheim. Também tem um pouco da dança da Val de 'A Chorus Line' e um pouco de Roxy. Como todos os personagens dessa cidade musical, ela é um amálgama de vários personagens."
Segundo Cinco Paul, reescalar os atores foi uma das partes mais divertidas do trabalho na nova temporada. "Quando a gente ainda estava terminando a primeira temporada, eu já comecei a pensar nisso", conta. "Eu puxei a Dove [Cameron] num canto e perguntei: 'O que você acharia de ser uma espécie de Sally Bowles [do musical 'Cabaré'] na próxima temporada?'. O rosto dela se iluminou de tanto entusiasmo."
A única atriz que teve menos participação do que ele gostaria foi Ariana DeBose, que entre a primeira e a segunda temporada venceu o Oscar de atriz coadjuvante pelo remake de "Amor Sublime Amor" (2021), de Steven Spielberg. "Eu queria mais dela na série do que conseguimos, mas estou feliz de ter conseguido que ela aparecesse de alguma forma", diz. "Depois do Oscar, todo mundo quer Ariana em seus filmes e séries, então foi certamente um pouco mais complicado desta vez."
DeBose está em apenas um novo número musical. Já Krakowski ganha mais tempo de tela. Em uma das cenas que mais devem chamar a atenção na nova temporada, ela faz uma entrada triunfal em um tribunal com figurino de vedete e com uma coreografia que inclui trapézio e um espacate de fazer inveja a mulheres com um terço de sua idade —tanto ela quanto Cinco Paul afirmam que não houve uso de dublês na sequência.
"Muitas das habilidades que uso nesse número são quase fazendo graça comigo mesma, seja porque já fiz essas coisas antes ou porque sabia fazê-las", comenta ela. "A única coisa que nunca tinha feito era o trapézio, mas adoro tentar coisas novas e, sempre que tinha tempo livre, eu praticava."
Ao contrário do que se possa imaginar, ela afirma que as gravações não duraram tanto tempo. "Nós filmamos bem rápido", diz. "Apesar de ser um número de musical, ainda é apenas uma cena que faz parte de uma série de TV com uma agenda apertada. Não é por ser uma cena de musical que vamos ter três dias inteiros para filmar. Filmamos o mesmo número de páginas que faríamos se não fosse uma sequência musical."
Krakowski defende que, apesar de no mundo real as pessoas não saírem cantando e dançando sem nenhuma explicação, tudo dentro do universo narrativo da série faz sentido. "Para mim, é tudo fruto de uma observação incrível e inteligente dos musicais desse período, e é assim que o teatro musical funciona, sabe?", avalia. "Interpretamos personagens que sentem emoções tão grandes que não conseguem simplesmente falar, eles precisam cantar ou dançar. Acho que todas as falas são ditas com muita sinceridade e seriedade, e com muita devoção aos musicais em que elas se baseiam."
O texto, aliás, é para onde tudo converge na arte da interpretação, segundo a atriz. Ela conta que seu segredo para ser tão engraçada é tentar não pensar tanto nas mensagens que estão nas entrelinhas, mas dar a maior veracidade possível ao que recebeu dos roteiristas.
"Eu apenas tento interpretar a verdade do que está no roteiro e de quem acredito que aquele personagem é, mas fui extremamente sortuda por trabalhar com autores de comédia brilhantes, começando pelo David E. Kelley em 'Ally McBeal', que foi quem me fez querer estar sempre com os melhores dos melhores. Depois, isso continuou com a Tina Fey e com Robert Carlock em '30 Rock' e 'Unbreakable Kimmy Schmidt'. Fui muito privilegiada com esses textos incríveis."
Todos esses papéis, aliás, acabaram fazendo dela uma das rainhas dos memes no exterior. Em inglês, circulam nas redes sociais muitos vídeos e gifs com frases marcantes de suas personagens. "Acho que isso fala mais sobre os autores que escreveram essas falas", comenta. "Mas acho bem divertido. Você sempre espera que seu trabalho leve alegria e risadas para muitas pessoas. Quando seu trabalho vira um meme, acho que tudo isso é elevado a um novo patamar."