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João Guilherme viverá 'bad boy' drogado em série da HBO Max: 'Meu trabalho mais complexo'

Conhecido pelos namoros midiáticos e atuando desde os 7 anos, ele quer alcançar reconhecimento com papéis mais adultos e já sonha com uma carreira internacional

João Guilherme como Enzo nas gravações da série 'Da Ponte Pra Lá' - Ariela Bueno/Divulgação

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São Paulo

O quarto da mansão modernista na zona sul de São Paulo ficou pequeno para a quantidade de pessoas que havia ao redor de João Guilherme Ávila, 21. Sentado de frente para o janelão que dá para o jardim, ele abre um frasco de anfetaminas, pega um punhado de comprimidos na mão e joga dramaticamente na boca, virando uma garrafa de vodka pura para fazê-las passar pela garganta.

"Corta! Atingimos a perfeição, palmas para o João Guilherme", elogia o diretor, liberando a equipe técnica —que naquele momento somava cerca de dez pessoas— para ir preparar a próxima sequência. Enquanto isso, o ator tiraria alguns minutos para falar sobre o papel de Enzo, o rapaz atormentado da cena que o F5 narrou no parágrafo anterior.

"Ele é kamikaze", diz o ator sobre seu personagem em "Da Ponte Pra Lá", série brasileira que deve estrear em 2024 na HBO Max. "Para mim, ele tem um comportamento suicida. Ele é de beber enquanto dirige, lida com várias drogas, com pó, remédios tarja preta que ajudam ele com a ansiedade, mistura tudo com bebida, faz racha e o caralho a quatro. Ele é bem porra louca."

Apesar de, a princípio, Enzo parecer apenas um riquinho bad boy que fará contraponto aos jovens de periferia na trama criada por Thais Falcão e Erick Andrade, seu intérprete antecipa que há muitas outras camadas. A ponto de encontrar semelhanças entre ambos. "A maioria das coisas que a gente tem de parecido são nossos maiores defeitos", afirma.

"Eu me identifico com o Enzo em muitos lugares, porque ele tem uma realidade próxima da minha", admite. "Eu nasci em São Paulo, a minha mãe [a ex-bailarina Naira Ávila] começou uma empresa muito cedo, então não faltou nada dentro de casa, estudei em colégios particulares e sempre tive amigos muito idiotas, seja por falta de educação em casa, seja pela falta de valores que também vejo no Enzo e, principalmente, nos amigos dele."

Na história, Enzo é filho do Secretário de Segurança Pública de São Paulo, vivido por Marcello Antony. Porém, não tem uma boa relação com o pai. "Ele não sente amor dentro de casa, ele tenta respeitar o pai, mas ali só a mãe dele é que dá algum carinho", lamenta João Guilherme, que é filho caçula do cantor Leonardo e também já chegou a falar sobre a ausência paterna enquanto crescia.

Outra coisa que distancia o personagem de um simples playboy adolescente é a amizade com Ícaro (Victor Liam), um jovem trans da periferia que vai estudar em sua escola e é visto como um "extraterrestre" pelos demais. "O Enzo é um dos que melhor aceitam ele", comenta. "E aceita de verdade, dá atenção mesmo, de olhar no olho e tal. Ele está junto, de fazer amizade, de poder estar próximo mesmo."

A morte de Ícaro acaba sendo um ponto de inflexão para o jovem, que toma um rumo diferente do grupo de amigos. "O Enzo se afasta deles depois de toda a catástrofe", adianta. "Diferente dessas pessoas, ele não é tão raso, tão cheio de maldade no coração, mas é um menino, até então, fraco por dentro, sabe?."

"Ele amava o Ícaro, amor de brother, de irmão mesmo", continua. "Eu nunca perdi nenhum amigo, graças a Deus não tenho essas referências pessoais, mas só de imaginar já é emocionante bastante, tá ligado? Então, ele procura algo para amar de novo."

É nesse ponto da trama que entra Malu (Gabz), que era a melhor amiga de Ícaro e vai se infiltrar entre os mauricinhos da escola particular com o objetivo de investigar o que de fato aconteceu. Ela vai se envolver romanticamente com Enzo.

"Quando ela chega, ele está congelado", analisa. "Toda aquela coisa kamikaze, no fundo, talvez nem exista mais, porque ele não sente mais nada. Mas depois que conhece a Malu, ele volta a querer viver e ter aquele calor que ele tinha dentro dele. Então, eu vejo ele como uma montanha bem alta, e tá frio pra caralho lá em cima, e a Malu é o verão chegando, o sol."

DIVISOR DE ÁGUAS

Assim como seu personagem, João Guilherme é jovem e tem pressa. Ele nem espera as perguntas para emendar um pensamento no outro, quase sem respirar. A voz é baixa e calma, quase monocórdica, em contraste com a intensidade das palavras. É como se ele quisesse disfarçar a excitação interna pela cena bem feita ou baixar a expectativa de quem o escuta tentando entender a fama de "pegador" —além dos relacionamentos midiáticos com Jade Picon, 21, e Larissa Manoela, 22, seu nome é frequente no noticiário de celebridades pelas conquistas amorosas.

O ator sabe que a série pode ser um divisor de águas para sua carreira, que começou cedo —ele fez seu primeiro trabalho aos 7 anos e trabalha ininterruptamente desde os 13. Seus personagens mais notórios na telinha, até aqui, haviam sido as novelinhas "Cúmplices de um Resgate" (2015-2016) e "As Aventuras de Poliana" (2018-2020), ambas no SBT, além da série "De Volta aos 15", da Netflix.

Nenhum dos papéis anteriores exigiu, no entanto, a entrega que ele precisou apresentar agora. "Comecei com novela, só que tem atuações e atuações, né?", compara. "Eu sei que é algo totalmente diferente. Fazer novela é doideira, doideira, doideira. Só que, às vezes, o personagem cai numa repetição, numa coisa que você não sabe mais se está interpretando ou só jogando um pouco de personalidade naquelas falas. Eu pelo menos me sentia assim."

Agora, ele reconhece que o desafio é maior. "É uma série dramaticamente muito mais carregada, meu personagem, então, muito [mais carregado] também", afirma. "É o meu trabalho mais complexo e o meu personagem preferido, com certeza absoluta, porque hoje em dia eu sou muito mais maduro, vejo meu trabalho com outros olhos, e é super de dentro mesmo esse amadurecimento, né?"

Essa transição começou quando ele chegou à maioridade, e com ela vieram mais responsabilidades. "Eu amo quando estou gravando, mas é óbvio que esse trampo de acordar cedo... São uns horários meio de louco, né? Tipo 5h da manhã às 5h da tarde, é muito ruim, velho. Você acordar 4h30? Eu estava fugindo disso até os 18, porque ainda estudava."

O fluxo de pensamento de João Guilherme só é interrompido brevemente quando ele vê o preparador de elenco Marcelo Boechat, com quem trabalhou na série, a quem o ator faz questão de cumprimentar. Ele sabe da importância desse tipo de profissional desde que protagonizou o longa "Meu Pé de Laranja Lima" (2012), com 9 anos de idade.

"Lembro que eu fiquei três meses me preparando e vi o resultado daquilo, que eu amei", comenta. "Eu sou muito elogiado até hoje por esse drama e, para ser bem sincero, na época, quase 100% do trabalho era do preparador que estava ali comigo."

Na série, ele diz que deu sorte de ter um bom tempo para se planejar, já que foi escalado no começo de 2022 e as gravações só começaram em novembro. "Tem sido o meu foco desde então, queria estar bem com a minha cabeça e bem com meu corpo porque, pô, é um projeto em que eu acredito muito."

Porém, tanta antecipação acabou fazendo com que ele ficasse ansioso. "Eu estava nervoso, não me sentia pronto, mas a gente conseguiu se preparar", comemora. "O Marcelo me veio com referência muito legais e que, pô, pude pegar e entender. É meio engraçado, vocês sabem as referências de que ele estava falando?", diz, referindo-se à "Divina Comédia", de Dante Alighieri, citada minutos antes por Boechat como um modelo para o inferno pelo qual o personagem passa.

É Boechat também seu balizador para saber se está indo bem nas gravações. "Eu não gosto de ficar me assistindo porque sou muito autocrítico", diz. "Mas o preparador tá falando que tá legal e que o nosso plano ficou ótimo, então eu acredito, mano."

Isso enquanto a série não estreia, já que ele espera que as críticas positivas e a possibilidade de que a HBO disponibilize a série em outros países o levem a alçar voos mais altos. "Eu quero chegar num lugar de ser reconhecido pelas pessoas realmente entendidas de filme, não só fãs ou não só adolescentes que dizem: 'Caralho, João, arrasou, sou seu fã, tira uma foto comigo!"

Além disso, outro objetivo é se lançar numa carreira internacional. "Eu espero que essa série me bote para trabalhar onde eu quiser e onde eu tiver capacidade para trabalhar", almeja. "Acho muito lindo como hoje as plataforma de streaming têm feito toda essa conexão e algumas séries têm metade da produção aqui e outra parte lá fora."

Ele cita o amigo André Lamoglia, 25, que tem um papel de destaque na série espanhola "Elite" (Netflix) como inspiração. "Imagina que maravilha, é um sonho profissional! Morro de vontade de trabalhar fora e de conhecer outras culturas", diz antes de ser puxado pela produção para gravar sua próxima cena.