Corey Stoll vira a nova cara da fortuna em 'Billions': 'Divertido fingir'
Ator interpreta Mike Prince e substitui Damian Lewis na série da Netflix
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
"Morar em uma casa que deve ter uns 3.000 metros quadrados em Gramercy, com tudo exatamente do jeito que quero? É divertido fingir que aquela é mesmo minha casa".
Corey Stoll não está imune ao charme da riqueza imensa ou ao menos ao charme de um cenário de filmagem construído meticulosamente para simular essa situação. Se considerarmos o personagem que ele interpreta na série "Billions" —disponível no Brasil pela Netflix—, isso certamente é uma ferramenta útil em seu arsenal como ator.
Stoll interpreta Mike Prince, o charmoso e filantrópico bilionário nova-iorquino que se alia ao secretário estadual da Justiça de Nova York, Chuck Rhoades (Paul Giamatti), para derrubar o grande alvo de Rhoades: o mago trapaceiro dos fundos de hedge Bobby Axelrod (Damian Lewis, que deixou a série no final da temporada passada.)
Mas em uma virada que nenhum dos personagens da série parece ter previsto, Prince faz um acordo de último minuto com Axelrod que permite que o magnata dos fundos de hedge escape de um processo e de uma sentença de prisão, ao custo de entregar seu negócio ao rival. Agora é Prince que comanda a Michael Prince Capital, o novo nome da empresa de Axelrod, o que o coloca na mira tanto de Rhoades quanto de uma possível rebelião por parte de seus empregados.
Como se substituir um dos astros da série não fosse difícil o bastante, levar "Billions" ao ponto em que a série se encontra foi um desafio especialmente complicado por conta da Covid-19. "Gravei metade da temporada cinco e depois paramos por um ano antes de podermos voltar ao trabalho", disse Stoll sobre o cronograma de gravação da série, interrompido pela pandemia. "Filmamos uma temporada e meia de uma vez –nem consigo lembrar os detalhes".
Agora a série –criada por Brian Koppelman, David Levien e Andrew Ross Sorkin, colunista do The New York Times– está de volta para sua sexta temporada, que estreou no domingo. Em uma conversa por telefone, duas semanas atrás, Stoll explicou as diferenças entre Prince e Axelrod (conhecido como Axe). Mas o novo patrão é exatamente igual ao velho patrão em pelo menos um aspecto crucial.
"Acredito que a série continue a ser intrinsecamente a mesma", disse Stoll. "Oferece o mesmo prazer de ver pessoas incrivelmente inteligentes e determinadas traindo umas às outras, em seguida se tornando aliadas e depois voltando a trair aqueles a quem se uniram". Abaixo, trechos editados de nossa conversa.
Para uma série tão definida pelo relacionamento entre dois personagens, foi um desafio ter de passar a carregar todo aquele peso em seus ombros?
Na verdade, não foi esse o desafio. Brian e David fizeram um bom trabalho ao estabelecer os termos do relacionamento entre Chuck Rhoades e Mike Prince de uma maneira diferente do que acontecia no caso de Axe. Para mim, o verdadeiro desafio foi me transformar de antagonista em protagonista, de alguma forma.
Na temporada cinco, eu era o motor de praticamente todas as cenas de que participava. Eu estava no ataque, buscando aquele objetivo, e Axe e Rhoades reagiam a mim. Mas logo nos primeiros dias de gravação da temporada seis, tive um monte de cenas em que apareço sentado a uma mesa enorme e sirvo como alvo para o fogo inimigo. Não imaginei como isso seria diferente. É um tipo de trabalho que exige o uso de outros músculos de atuação.
Adorei aquela cena na temporada cinco que consistia de uma longa tomada de Rhoades e Prince tomando café da manhã juntos. Não há como imaginar Axe quieto por tanto tempo.
Axe realmente não conseguia parar quieto. Era um tubarão. Desde a primeira cena, quando recebi o primeiro roteiro, senti que a característica que define Mike Prince é que ele se sente em casa onde quer que esteja, se sente completamente confortável dentro de sua pele. E essa é também sua maior arma. Ele consegue desmontar completamente as pessoas ao concordar com elas. É uma jogada de poder muito divertida de usar, a de simplesmente concordar com uma pessoa que está doida por uma briga.
As ofertas de Prince a Chuck parecem sinceras.
Cem por cento. Em contraste com Axe, Mike Prince não gosta de ter inimigos. A sensação, no caso da velha Axe Cap, sempre foi a de que ter inimigos era algo quase que positivo. Era um propulsor. Mike Prince é um cara incrivelmente determinado, isso é óbvio, mas seu primeiro instinto é procurar aliados. Quando isso não funciona, aí é que outras táticas entram em jogo.
Na primeira cena que eu e Paul gravamos na temporada cinco –era uma cena muito íntima na qual eu o procurava para pedir ajuda–, Paul ficou... ele parecia abalado. ‘Nunca filmei uma cena como essa em cinco temporadas da série’. Foi uma completa novidade. Ele parecia ter saído um pouco do esquadro. [Risos.] ‘Não sei quem Chuck Rhoades vai ser se não existir uma força inamovível contra a qual ele tenha de lutar’.
Prince se vê como um bilionário ético. Isso existe?
É uma questão em aberto. Existem bilionários que com certeza fazem coisas ótimas com sua riqueza, suas companhias geram riqueza para outros e eles podem ser boas pessoas. Acho que a série está na verdade mais interessada em... Há aquele clichê de que ‘por trás de toda grande fortuna existe um grande crime’. O outro lado disso é o que a grande fortuna faz à pessoa –o que o poder, a riqueza e os recursos fazem à alma da pessoa na falta de um termo melhor.
Já com relação à minha opinião pessoal sobre o assunto, é preciso um grande salto mental para imaginar como seria ter uma riqueza daquela ordem e acumulá-la, guardá-la para meu uso, fazer o que quer que seja necessário para aumentá-la. Para mim é muito difícil me colocar no lugar de alguém assim. Eu entendo cobiça e ambição, mas nessa escala é difícil conceituar o que levaria alguém a continuar pagando mal seus trabalhadores quando a pessoa já tem dezenas de bilhões de dólares.
É isso que você tem em seu pensamento quando Prince tenta convencer os outros de que ele não é parecido com esses caras?
Sim. Acho que sua visão de mundo, sua concepção pessoal, é muito diferente da de outras pessoas. É um pouco invertida, um pouco circular. Ele sabe, em nível celular, talvez, que no fundo ele é uma boa pessoa e que seu julgamento quanto ao melhor uso dos recursos, poder e capital é excepcional; portanto, tudo que ele faz é bom. É isso que o motiva de verdade e é assim que o interpreto. Ele acredita no que diz.
Será que é essa confiança que o leva até a tomar decisões moralmente questionáveis?
Para resumir, a resposta é sim. Essa é a luta dele e o propulsor de boa parte dos conflitos e dramas da nova temporada, tanto com Chuck quanto com seus empregados.
A crença dele quanto à sua moralidade também significa que, diferentemente de Axe, ele precisa se preocupar com o que as pessoas comuns dizem e pensam.
Bem, é intrínseco em qualquer espécie de liderança que existe uma dança entre dar às pessoas o que elas querem e dizer a elas o que elas querem, e essa é uma das chaves do sucesso de Prince. Há momentos em que ele faz a coisa mais popular em detrimento de algo que seria talvez mais lucrativo. Creio que ele também saiba o momento certo de mudar de marcha e colocar o lucro acima da popularidade, mas para Mike Prince, a maneira pela qual alguma coisa será percebida é um tema que está sempre em posição importante nos seus pensamentos.
Boa parte dos atrativos da série gira em torno do prazer voyeurístico de ver a maneira pela qual os privilegiados vivem –os melhores restaurantes, as melhores roupas, os aparelhos mais sofisticados, uma vida de sonhos realizados. Há momentos durante as filmagens em que você precisa se lembrar de que aquilo não é real?
Sim, há. Temos uma série de participações especiais, de pessoas que são as melhores no mundo naquilo que fazem e há a experiência de servir como anfitrião para elas de alguma maneira, sabe? Esses homens estão fora de sua zona de conforto, embora sejam todos mestres do universo e figuras de importância histórica. Ter a oportunidade de mostrar a eles como respeitar as marcas de posicionamento e lhes falar sobre economizar esforço para os close-ups, todas essas coisas técnicas, vem sendo uma experiência incrível.
Ao mesmo tempo, parece que a opinião pública genuinamente mudou e que existe uma porção maior da audiência hoje, comparada à do começo da série, que talvez tenha pensamentos como "não gosto desses bilionários. E na verdade talvez as coisas não devessem ser como são".
Sim, mas acho que isso existe desde o começo da série. O conceito do programa surgiu logo depois do colapso financeiro e da Grande Recessão.
Acredito que exista uma tensão. A pornografia da riqueza, as fantasias sobre aqueles apartamentos, roupas, carros e jatos executivos maravilhosos –o prazer sujo disso ainda permanece. Como sociedade, desejamos ver essas pessoas poderosas e ricas e imaginar de que maneira elas vivem. Mas também queremos feri-las. Queremos vê-las sofrer.
Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci