Famosa na pandemia, bicicleta ergométrica sofre com 'And Just Like That'
Ações da empresa caíram 11% após sequência de 'Sex and the City'
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ALERTA: Contém spoiler dos primeiros episódios de "And Just Like That"
O maior problema da participação da Peloton na versão repaginada de "Sex and the City" talvez não tenha sido o momento em que Mr. Big cai morto de um ataque cardíaco depois de uma sessão de 45 minutos de exercício na bicicleta ergométrica, uma virada narrativa tão chocante e prejudicial para a marca que as ações da Peloton caíram 11% da noite para o dia depois da estreia do episódio que contém a cena.
O pior, porém, é a cena no episódio dois de "And Just Like That", em que Carrie está em casa se arrumando para o funeral de Mr. Big. A bicicleta Peloton aparece largada em um corredor entre o banheiro principal e o closet, abandonada e juntando poeira.
A bicicleta, um dos símbolos de status da era da pandemia, que até recentemente requeria espera de dois meses para entrega, em breve pode se tornar o equivalente moderno do NordicTrack da década de 1990: um aparelho de ginástica caro que em muitos casos terminou transformado em um cabide de roupas improvisado, antes de ser vendido ou simplesmente largado na calçada.
Os sinais da perda de prestígio cultural do produto são difíceis de ignorar. As vendas das bicicletas ergométricas Peloton caíram em 17% no terceiro trimestre de 2021, ante o total do período em 2020, e o mercado online de revenda está repleto de bicicletas à venda por preços muito baixos.
O uso da Peloton como parte infeliz da trama da nova série com certeza não ajuda. Após a estreia da produção, um vendedor postou uma história no Instagram que mostrava sua Peloton sendo levada embora, com a seguinte legenda: "And Just Like That..."
(A Peloton tentou reagir à publicidade negativa com um anúncio irreverente estrelado por Chris Noth, o ator que interpretava Mr. Big, mostrando-o descansando diante de uma lareira em companhia de seu instrutor favorito da Peloton. "And just like that... ele está vivo", a companhia escreveu em sua conta no Twitter.)
Como milhares de profissionais nos dias iniciais da pandemia, Laura e Charlie Weisman, um casal que vive em Nova York, comprou uma Peloton, quando a academia em que se exercitavam, a Chelsea Pier Fitness, entrou em lockdown. "Precisávamos de uma maneira de manter a forma", disse Laura Weisman, 31, executiva de novos negócios em uma agência de marketing digital.
Ela pagou US$ 1.895 (cerca de R$ 10,8 mil) pelo modelo original e mais US$ 250 (cerca de R$ 1.400) por um pacote de acessórios (sapatilhas, pesos, fones de ouvido e monitor cardíaco), além de assinar um pacote de US$ 39 (cerca de R$ 222) por mês para aulas online. Ela recorda uma conversa com seu pai, que lhe disse que dentro de um ano a bicicleta estaria juntando poeira. "Eu respondi que de jeito nenhum, e que era a coisa mais legal do mundo e duraria para sempre".
Mas a realidade é que "assim que nos vacinamos" e as academias reabriram, ela disse que o casal deixou de usar a Peloton. "Ela já não parece necessária", disse Weisman.
Duas semanas atrás, o casal anunciou a bicicleta no Facebook Marketplace, inicialmente pedindo US$ 1.350 (cerca de R$ 7.700) pela bicicleta e os acessórios. Como não apareceram interessados, eles baixaram o preço para US$ 1.200 (cerca de R$ 6.800); a bicicleta foi vendida na semana passada, a uma mulher que a arrematou para sua filha adolescente.
Embora uma venda rápida possa sugerir que as Peloton estão mantendo seu valor, vale a pena apontar que muita gente comprou no auge da pandemia, antes da companhia reduzir seus preços. O modelo básico, que originalmente era vendido por US$ 2.295 (cerca de R$ 13 mil), agora custa US$ 1.495 (cerca de R$ 8.500). (A Bike+, lançada em 2020, que conta com uma tela articulada e pode ser usada para ioga e condicionamento de força, custa US$ 2.495 –cerca de R$ 14 mil.)
Agora, os modelos básicos estão sendo revendidos em sites como Craigslist, Facebook, Marketplace e eBay, com alguns caindo a preços abaixo de US$ 1.000 (cerca de R$ 5.700) , de acordo com buscas recentes.
"Recentemente nos mudamos para um apartamento menor, e a Peloton não cabia mais", diz um anúncio típico no Craigslist de Nova York. O vendedor pede US$ 800 (cerca de R$ 4.500) pela bicicleta Peloton e dois pares de sapatilhas. "Deve ter sido usada 10 vezes".
Kisha Anderer, 42, dona de casa em Nova York, espera conseguir entre US$ 1.500 (cerca de R$ 8.500) e US$ 1.600 (cerca de R$ 9.000) pela sua bicicleta Peloton, mas admite que "eu queria ter vendido durante a pandemia", quando as bicicletas eram tão difíceis de encontrar quanto papel higiênico.
Anderer ganhou a bicicleta como presente de aniversário do marido, em 2017, e estima que a usava entre oito e 20 vezes por mês, inicialmente. Mas depois de sofrer uma lesão de pescoço não relacionada à bicicleta, dois anos atrás, a única coisa que a Peloton fazia era abarrotar a sala de TV.
"Meu marido está pressionando. Pergunta todo mês se vamos ou não nos livrar dessa porcaria", disse Anderer. "Estou enrolando, porque parece uma tarefa complicada. Seria preciso um furgão e três carregadores para tirar essa coisa da minha casa".
Uma das coisas interessantes sobre os anúncios das bicicletas usadas é quanto eles as descrevem como "novinhas" ou "quase nunca usadas" – talvez uma tática de venda, mas talvez não. Jeffery Rum, 42, que mora em Potomac, Maryland, e é dono de uma agência de marketing, disse que usou sua Peloton "menos de 30 vezes" desde que a comprou em 2019. Ele a colocou à venda no Facebook Marketplace por US$ 1.200 (cerca de R$ 9.000), com esteira incluída.
"A Peloton deveria servir para complementar o condicionamento que eu estava fazendo" com um treinador, disse Rum. A bicicleta terminou largada em seu home office, e por isso ele tinha de olhar para ela todo dia, um objeto sem função. "Com certeza se tornou uma bela escultura", disse Rum, rindo.
Ele disse ter recebido diversas "sondagens" de compradores que ofereceram entre US$ 750 (cerca de R$ 4.200) e US$ 900 (cerca de R$ 5.000), mas ainda não está disposto a vender a esse preço.
A Peloton o fez lembrar de outro equipamento de exercício que seu pai comprou depois de assistir a um infomercial no começo da década de 1990, quando ele ainda morava com a família. "O nome era Ab Roller", disse Rum.
O que aconteceu com ele? Ele disse que o aparelho terminou na lavanderia da casa. "A gente usava como apoio para dobrar roupas".
Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci