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Série 'The Crown' é criticada por 'parcialidade' com Charles e Diana

Para especialistas e pessoas próximas, desta vez a série foi longe demais

Charles e Diana se beijam após casamento em 1981 - AFP

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Charlotte Durand
Londres

AFP

"Totalmente parcial", "calúnia", "ataque" contra o príncipe Charles: estas são algumas acusações contra a quarta temporada da série "The Crown", que teria abordado uma lembrança ainda sensível para os britânicos, tomando muitas liberdades de criativas em relação à realidade.

Em primeiro plano está o tratamento que a bem-sucedida série da Netflix, que retorna ao reinado de Elizabeth 2ª, dá à relação entre o príncipe Charles, herdeiro da coroa, e sua esposa, a falecida princesa Diana.

A quarta temporada é dedicada à entrada de "Lady Di" na família real. A princesa é caracterizada por Emma Corrin como uma noiva solitária e, depois, uma jovem mulher casada e angustiada diante de um marido frio e infiel, sempre apegado a Camilla, seu amor de juventude.

O criador de "The Crown", Peter Morgan, assume uma parte ficcional, em especial nas cenas mais íntimas. Para muitos cronistas da realeza e pessoas próximas à família real, desta vez, ele foi longe demais.

O episódio "faz de Diana a vítima, e Charles, o malvado, quando ambos eram vítimas", afirma a especialista em realeza Penny Junor, entrevistada pela AFP. Penny condena a série por responsabilizar o relacionamento com Charles pela bulimia de Diana, ou por afirmar que ele continuou a ter um affair com com Camilla logo após o casamento.

"A forma como Charles é representado é uma calúnia", denunciaram, segundo o "Times", alguns amigos do príncipe. Toda série é "um ataque parcial" a ele, acrescentou Dickie Arbiter, ex-adido de imprensa do Palácio de Buckingham. No jornal "The Guardian", o biógrafo da realeza Hugo Vickers denuncia uma temporada "totalmente parcial".

CARGA AFETIVA

Para Ioanis Deroide, historiador e autor de "Inglaterra em séries" (em tradução livre para o português), a relação entre o príncipe Charles e Diana é "verossímil". Segundo ele, para além da "verdade" de cada pessoa, o que interessa é "o papel que se desempenha na dinâmica geral da família real" e, nisso, "The Crown" faz um bom trabalho.

Deroide explica a reação epidérmica de uma parte do público pela "carga afetiva" que ainda envolve os acontecimentos abordados. "Nas temporadas anteriores, falava-se de acontecimentos antigos e personagens às vezes esquecidos", e aí os debates sobre verossimilhança viravam "reclamações de biógrafos".

"Agora são abordados assuntos recentes que marcaram a consciência coletiva", ressaltou. O casamento fracassado de Diana e Charles continua sendo um tema muito sensível desde a trágica morte da princesa de Gales em Paris, em 1997. Depois disso, o herdeiro do trono, que se casou com Camilla, conseguiu reabilitar sua imagem.

Penny Junor lamenta um trabalho "muito prejudicial" para o casal real Charles e Camilla, que um dia será convocado para reinar. "Muita gente, no Reino Unido e no mundo, vai considerar 'The Crown' como um testemunho fiel, quando não se trata da história, mas de uma ficção", acrescentou.

'RESPONSABILIDADE MORAL'

O jornal "The Mail on Sunday" milita para que a Netflix indique claramente que "The Crown" é ficção. No domingo, o tabloide recebeu o apoio do ministro da Cultura, Oliver Dowden, que "teme que uma geração de telespectadores que não conheceram os fatos tome essa ficção por realidade".

"The Crown" tem a "responsabilidade moral" de garantir que seu público não confunda a série com um documentário, diz a atriz Helena Bonham Carter, que interpreta a irmã da rainha.

Esta é a mesma opinião do irmão de Diana, Charles Spencer, que é bastante crítico em relação à família real. "É um pouco ridículo", afirma Deroide, considerando que, apesar do "mimetismo impressionante" da cenografia e do figurino, não se deve tomar a série por um documentário, inclusive pela fama dos atores.

"'The Crown' é um elemento, entre muitos, que permite aos britânicos formar sua visão da família real", alegou. "O papel de uma série não é, em absoluto, ser exata. E até o historiador faz uma reconstrução, porque nunca se recria o passado", completou.