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Alice Braga estreia série da HBO sobre a liberdade da juventude: 'Temos que aprender'

Brasileira está em 'We Are Who We Are', que começa nesta segunda

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São Paulo

Quando soube sobre a oportunidade de trabalhar em um projeto de Luca Guadagnino, Alice Braga, 37, não pensou duas vezes. A atriz acompanha as produções do diretor indicado ao Oscar por “Me Chame pelo Seu Nome” há anos, e pôde conhecer seu trabalho de perto ao integrar o elenco de “We Are Who We Are”, nova série dramática que será lançada na HBO nesta segunda-feira (14).

Na trama, ela vive a enfermeira de Exército Maggie, casada com Sarah (Chloë Sevigny) e mãe socioafetiva do protagonista Fraser (Jack Dylan Grazer), embora não seja tratada como tal. A história acontece em torno do introvertido jovem norte-americano que se muda de Nova York para uma base militar na Itália, e vive situações típicas da idade, envolvendo amizades, primeiro amor, sexualidade, angústias e construção de identidade com sua amiga Caitlin (Jordan Kristine Seamón) e um grupo de jovens.

“Essa série mostra bem a liberdade que a juventude traz”, conta Alice Braga em entrevista ao F5. A atriz, que teve seu relacionamento com Bianca Comparato, 34, divulgado pela imprensa no início deste ano, diz que é importante existirem séries com esses temas "para nos inspirar, como adultos, porque temos muito o que aprender com a juventude”.

Com essa produção, a atriz acrescenta mais um trabalho ao seu extenso portfólio internacional, que conta com “Esquadrão Suicida 2” (2021), "Elysium" (2013), "Predadores " (2010), "Eu Sou a Lenda" (2007) e tantos outros.

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Confira trechos da entrevista com Alice Braga:

Como você descreveria sua personagem na série, a Maggie?
A história principal segue dois personagens, o Fraser e a Caitlin, dois jovens de mais ou menos 15 anos, que vivem em uma base americana na Itália. A Maggie é uma das mães do Fraser, e ela é uma enfermeira de uma base militar norte-americana na Itália. Ela está indo trabalhar lá com a personagem Sarah, da Chloë Sevigny, que é a mãe biológica do Fraser. O conflito da Maggie é um pouco sobre isso, porque a esposa dela não a trata muito como mãe do Fraser. É uma personagem bem diferente de tudo o que já fiz. Ela é mãe desse garoto, tem um carinho por ele e cuida dele, mas ao mesmo tempo não é tida como mãe.

Você fez alguma preparação específica para vivê-la?
Sim, fizemos um laboratório de militares. Não foi uma preparação para a atuação especificamente —porque o Luca [Guadagnino, diretor] não gosta tanto de ensaiar antes, com leituras–, mas fizemos uma preparação militar, porque os personagens estão inseridos nesse universo. Luca queria muito que soubéssemos fisicamente como é o posto de um soldado, sua hierarquia, como vestir o uniforme… E foi bem interessante, porque só assim você encontra o ponto do seu personagem. E mesmo eu já tendo interpretado uma enfermeira [em "Elysium" (2013)], é uma hierarquia, um universo bem diferente.

As cenas foram todas gravadas na Itália?
Tudo foi gravado no norte da Itália, a cerca de três horas de Milão. Ficamos por quatro meses: cheguei no final de julho de 2019 e permaneci até o fim de novembro. Poder filmar lá foi lindo, até para entender um pouco sobre a energia italiana que existe do Luca, e conhecer essa base americana que realmente existe lá.

Qual você acredita que é a principal mensagem de “We Are Who We Are”?
Não há uma única mensagem, mas existe esse olhar sobre a liberdade. O título da série já diz muito: nós somos quem somos. Ela fala sobre seres humanos, juventude, mas todos os personagens estão de certa forma vivendo e se encontrando com suas próprias crises, questões, medos, desejos e angústias.

É importante, para você, levar essa temática para os seus trabalhos?
É muito importante, com certeza, debatermos esse assunto e tratarmos com normalidade. Ver essas histórias nos inspira para o nosso cotidiano. A Sarah e a Maggie chegam a essa base militar e, é claro, sofrem preconceito dos demais personagens. Essa série mostra bem a liberdade que a juventude traz [em relação à sexualidade]. Como atriz, me senti muito feliz, porque são personagens fortes, com sua própria jornada, e que devem ser tratados com normalidade. Acho importante contar essas histórias, retratá-las, e fazer séries como “We Are Who We Are”, que falam não só sobre sexualidade, mas muito sobre relações humanas.

Esse tipo de enredo se torna mais possível hoje, com o avanço dos debates sobre a temática?
Vivemos em um momento bem diferente do que foi há 15 anos, graças a profissionais como o Luca, que vem há anos fazendo projetos com essa liberdade sexual. Todos os filmes dele são muito sexuais, sensuais e sensoriais. Eu fico muito feliz que, no Brasil, temos uma série como “Boca a Boca” (Netflix), que retrata jovens no Brasil com essa liberdade. É essa geração adolescente, que ensina a gente sobre aceitação, liberdade, exploração da vida. Fiquei muito feliz por esse conteúdo ter sido produzido no Brasil, neste momento que temos um governo abertamente racista, homofóbico e antiambientalista. É importante fazermos séries que mostram a juventude do mundo desta forma, para nos inspirar, como adultos, porque temos muito o que aprender com a juventude.

O que te fez aceitar o papel?
Essa é uma série muito bonita, muito diferente de tudo o que eu já fiz. Sou muito fã do Luca Guadagnino, acompanho o trabalho dele desde o filme “I am Love” [de 2009, em português, “Um Sonho de Amor”]. Quando aconteceu esse convite e eu falei com ele, me joguei imediatamente, de tanta vontade que tinha de trabalhar com ele. Acho muito importante tratarmos dessa juventude livre e que questiona, e o Luca tem esse olhar para os jovens.

Como foi trabalhar com o Luca Guadagnino, que é um diretor tão prestigiado pelo público e por você mesma?
Foi muito inspirador. Ele é um diretor que toma conta de todos os detalhes, e isso é maravilhoso. No set de filmagens, ele olha para todos os cantos do lugar. E isso ajuda você a contar a história de uma forma orgânica. Como diretor de ator, ele te tira da zona de conforto, então você chega ao set acreditando que a cena é feita de uma forma, e quando percebe, está fazendo algo completamente diferente. Para mim, isso é muito potente e inspirador, porque você não está simplesmente fazendo o que se programou a fazer. Ele te coloca em outro lugar, no “desconhecido”, e isso te traz até mais liberdade. Fiquei encantada e entendi porque os filmes dele tem tanta potência –porque ele é muito minimalista, gosta de detalhes, e tudo o que está no set importa, desde a cenografia até o trabalho do fotógrafo.

Quando os fãs pensam na carreira internacional de Alice Braga, lembra-se muito dos filmes de ação e ficção científica. Você se sente desta forma, uma atriz versátil?
Eu tento buscar personagens e histórias com diretores que eu me conecte, e que me desafiem em algum lugar. Gosto muito do universo de ação, de ficção científica, mas também consumo muito filmes de arte e drama. Quis entrar neste projeto do Luca Guadagnino para aprender com ele e também me desafiar em uma história completamente diferente de tudo o que já fiz. Para crescer como atriz e aprender coisas novas. Eu gosto e me conecto muito com o gênero do drama. Nunca fiz, por exemplo, muita comédia. Em linhas gerais, fazer drama me instiga, me desafia e me inspira.