Ghilherme Lobo trabalhou até sensação sonora e olfativa para viver médium Divaldo Franco
Filme 'Divaldo O Mensageiro da Paz' estreia quinta-feira nos cinemas
Chamado de novo Chico Xavier, o médium, professor e filantropo Divaldo Franco, 92, terá sua vida mostrada no filme “Divaldo – O Mensageiro da Paz”, que estreia nesta quinta-feira (12) nos cinemas. E para mostrar as diversas fases de sua vida estarão os atores Bruno Garcia, Ghilherme Lobo e João Bravo.
“Tentei me aproximar do ritmo de fala dele hoje, por vídeos, mas o diretor falou que não era nada disso. Eu precisava passar o frescor da juventude desse Divaldo que ainda estava em formação, em descoberta”, conta Lobo, que pegou curiosidades sobre ele de histórias de colegas e da biografia escrita por Ana Landi.
Bem conhecido no meio espírita e em seu estado natal, o baiano nascido em Feira de Santana tem como principal obra a criação da Mansão do Caminho –instituição social que presta serviços voltados à saúde e à educação de milhares de pessoas carentes, há 67 anos, em Salvador.
Com direção de Clovis Mello, o filme mostra em sua maior parte a juventude de Divaldo Franco, vivida perto dos anos 1950. E é essa a parte que ficou a cargo do ator Ghilherme Lobo, conhecido pelo longa “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” (2014). Regiane Alves, Marcos Veras e Ana Cecília Costa também estão no elenco.
Lobo conta que se preocupou em não errar na prosódia baiana e estudou uma expressão corporal bem específica. “O Divaldo é muito alerta, ele é muito presente, por isso fiz exercícios de ampliar a sensação sonora e olfativa”, diz o ator. Filhos adotivos e funcionários do médium, que trabalham na Mansão do Caminho relatam que ele "ouve" pedidos de socorro mesmo a distância por causa da forte mediunidade.
Conviver com tudo isso há 60 anos fez Divaldo ser considerado louco pela família e “dominado pelo demônio” por representantes da igreja local. Esses conflitos de tentar viver como um homem comum, que ele nunca foi, são mostrados no filme com uma dose de humor. “Não precisei me preocupar em parecer engraçado, foi o diretor que foi esse guia do tom que a gente deveria dar a cada cena", conta Lobo.
O ator paulistano que visitou o médium diversas vezes acredita que o filme deixa uma mensagem sobre caridade. “É muito fácil ver o Divaldo hoje e dizer que só ele poderia fazer isso. Mas o próprio filme deixa claro que todo mundo pode fazer um pouquinho. Ele começa a obra sem recursos. Não é preciso ser médium ou rico para realizar uma grande obra. Você pode fazer uma pequena parte, que pode parecer enorme a quem recebe”, reflete o ator.
UM HOMEM COMUM
Mesmo comparado a Chico Xavier por seu grau de mediunidade e obras dedicadas à caridade, o pedido de Divaldo e a decisão do diretor Clovis Mello foram de retratar um homem comum, com erros e acertos na vida. As mensagens religiosas também teriam de ser bem dosadas. “Não queria um filme com um santo dando lição de moral o tempo todo”, afirma Mello.
“O Divaldo sempre foi diferente dos outros meninos porque ele sempre viveu rodeado de espíritos, uns que o ajudavam, outros que o atormentavam. Os meninos da escola até brincavam com ele: ‘já viu algum morto hoje’? Por isso, achei importante humanizá-lo, mostrar que ele reage, que ele se revolta com a vida a que foi destinado”, conta o diretor.
A partir de uma infância difícil, o longa passa pela juventude de Divaldo que encontra pelo caminho uma amiga, Laura, vivida por Ana Cecília Costa, que o encaminha aos estudos espíritas.
O jovem que teve empregos, sonhos e desejos é guiado por sua mentora, o espírito Joanna de Ângelis, interpretado pela atriz Regiane Alves. Representando "o lado negro da força", Marcos Veras fez um espírito obsessor, com quem Divaldo teve de aprender a lidar ao longo de sua vida adulta.
A história de Franco é o centro do longa, mas o filme não teve como fugir das mensagens espíritas, já que o médium dedicou toda a sua vida à doutrina. “A mensagem espírita poderia soar professoral e dogmática demais na voz do Divaldo, por isso optamos por colocar essas mensagens na voz da Joanna, porque ela teria essa autoridade [como espírito] de fazer com que ele [Divaldo] chegasse a determinadas reflexões. A função dela é fazê-lo refletir. Soa mais como a função de um guru”, afirma o diretor.
Uma outra escolha foi retratar o Divaldo até próximos de seus 40 anos. “Os acontecimentos finais do filme não estão na ordem cronológica certa a vida dele. Tá tudo meio fora de ordem, mas eu precisava criar um molho dramático para criar empatia com quem está vendo. Também não dava para ser algo totalmente biográfico, teriam de ter acontecimentos mais emocionais”, explica o diretor.