Celebridades
Descrição de chapéu The New York Times

Nicholas Galitzine não quer mais ser príncipe: 'Estou me retirando dos papéis de galã romântico'

Sucesso em filmes e séries, ator britânico quer provar que é mais que só um rostinho bonito

Nicholas Galitzine, que está em ascensão em Hollywood, posa para foto em Nova York - Luisa Opalesky/The New York Times

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Alexis Soloski
Nova York

"Muitas vezes descobri que a maneira como as pessoas me veem é muito diferente de como me vejo", disse Nicholas Galitzine. "As pessoas me atribuem uma pureza."

Isso foi numa manhã recente em um quarto de hotel rococó, a oeste do Madison Square Park. Galitzine, que recentemente se mudou de Londres para Los Angeles, estava em Nova York por alguns dias para promover "Mary & George", um drama histórico sensual no qual ele interpreta George Villiers, o amante ambicioso do rei James 1º. Nos Estados Unidos, a estreia na sexta-feira (5) no canal Starz.

No próximo mês, ele também aparecerá como Hayes, o cantor sensação de uma boy band que vive um romance com diferença de idade, na animada comédia romântica "Uma Ideia de Você", da Amazon.

Com uma beleza juvenil, com lábios como almofadas fofas e uma linha do maxilar francamente ridícula, Galitzine, 29 anos, frequentemente é escalado como príncipes ("Cinderela", "Vermelho, Branco & Azul Real"), heterossexuais e homossexuais, ou como equivalentes modernos de príncipes —um fenômeno pop, uma estrela do futebol. É assim que Hollywood o viu: patrício, elegante.

"Refinado, talvez, é uma palavra", ele disse. Mas refinado não é um adjetivo que ele aplica. Ele se descreveu, em vez disso, como "caótico", como "bagunçado", o que os príncipes nem sempre são autorizados a ser. "Isso é algo complicado às vezes, interpretar príncipes e as pessoas esperarem isso", ele disse. "A realidade é muito diferente."

É? É verdade que atores emergentes tendem a se comportar bem perto de um repórter, mas, mesmo assim, Galitzine nunca foi menos do que gracioso. E sua aparência estava impecável. Puro, poderíamos dizer. Ele usava uma camisa de rugby —ele já chegou a planejar uma carreira como jogador de rugby— com recortes decorativos e uma orelha com um pequeno brinco. Aquele brinco parecia uma homenagem ao seu personagem de "Mary & George", mas ele tem o piercing desde os 12 anos.

Pessoalmente, Galitzine é doce, modesto, razoavelmente confiante. Ele tem 1,83 metros de altura, mas de certa forma ainda está crescendo. Como ator, ele está apenas agora ultrapassando os limites de sua identidade elegante na tela e procurando o que está além deles.

"As pessoas realmente só querem ver você interpretar a mesma coisa, até que você possa mostrar algo diferente", ele disse. Ele sabe que tem talento para o romance, o que explica a maioria de seus papéis anteriores e atuais. "Se eu tivesse que me elogiar por um momento, uma coisa que faço bem é criar uma sensação de química", ele disse. E é verdade. Ele teve química com cada ator e atriz com quem contracenou. Provavelmente ele poderia ter química com o meio-fio.

Ele já havia saído do hotel e estava na periferia do parque, desviando gentilmente os olhares dos fãs que o reconheciam. Eles podem ter ficado desapontados ao ouvi-lo dizer que não interpretará mais príncipes. "Estou me afastando dos papéis de protagonista romântico", ele disse.

Durante a maior parte de sua vida, Galitzine nunca pensou que estaria se aproximando deles. Filho de uma mãe grega e um pai inglês, ele cresceu principalmente em Londres. Durante as férias nas ilhas gregas, sua irmã mais velha costumava convencê-lo a encenar peças, mas em sua escola só para meninos, ele se dedicava aos esportes —futebol e atletismo, além do rugby. No campo, ele tinha um lugar para colocar o que ele se referia como sua "energia caótica de TDAH" (ele foi diagnosticado com transtorno de déficit de atenção com hiperatividade quando criança).

Esses esportes resultaram em muitas lesões: concussões, distensões de isquiotibiais, problemas no manguito rotador. "Eu estava perdendo completamente a fé na confiabilidade do meu corpo", ele disse. Ele também estava perdendo a fé na cultura machista dos esportes. "Eu estava me tornando um jovem sensível, e estava batendo de frente com esses ideais arcaicos."

Deixar os esportes criou um vácuo que a academia não conseguiu preencher. Seus pais esperavam que ele fosse para a universidade, mas ele não estava tão certo. À medida que se aproximava da formatura, ele tinha planos vagos de comprar uma motocicleta e viajar por um tempo quando uma garota de quem gostava sugeriu que ele fizesse um teste para uma peça, "O Despertar da Primavera".

Essa peça foi para o Festival Fringe de Edimburgo, onde Galitzine quase imediatamente chamou a atenção de agentes. Pouco depois, ele conseguiu um papel principal em um filme, "The Beat Beneath My Feet" (2016), uma comédia sobre um cantor e compositor de voz doce que chantageia o deus do rock que mora na casa ao lado.

Muitos atores passam por períodos de luta ou de pagar as dívidas, mas a ascensão de Galitzine foi relativamente constante. Mais papéis no cinema se seguiram, muitos deles românticos. Ele afirma estar perplexo por ter sido escalado tantas vezes como garotos bonitos.

"É tão engraçado, porque nunca me senti bonito na vida", ele disse. O que é ainda mais engraçado? Parecia que ele estava falando sério. Esses papéis não eram necessariamente artisticamente gratificantes, mas Galitzine havia entrado na profissão principalmente por acidente e não necessariamente pela arte. "Só porque você é bom em algo não significa que encontre propósito nisso", disse ele.

No entanto, à medida que amadurecia, ele se tornava mais consciente da arte de atuar e dos tipos de papéis pelos quais era e não era visto. Escalado por seu rosto e bíceps, ele admitiu sentir ocasionalmente ciúmes profissionais e se sentir criativamente mal nutrido. Ele fez o que pôde com os papéis disponíveis, o que nem sempre era muito.

"Você não percebeu a escuridão implícita que eu impregnei no príncipe Robert?", disse sobre seu papel na versão de 2021 de "Cinderela", da Amazon. "Isso é tão estranho."

Nos últimos anos, ele começou a sentir mais agência e seus colegas de elenco agora costumam ter um ou dois Oscars por aí. Em "Mary & George", ele contracena com a ardilosa Julianne Moore. E se George é outro garoto bonito, ele usa esses belos looks de forma maquiavélica.

Ele sempre quis interpretar personagens sombrios, disse, mas também gosta de outras nuances. "Uma Ideia de Você", no qual seu melancólico pop star conquista a mãe solteira boêmia vivida por Anne Hathaway, não é exatamente sombrio.

"Não sou uma dessas pessoas que precisa passar por tormento emocional em cada papel que faço", disse ele. Mas há momentos de obscuridade até em uma comédia de realização de desejos como "Uma Ideia de Você", e a qualidade em seu personagem, Hayes, que mais o fascinou, ele disse, foi "a claustrofobia da fama".

Até agora, a fama ainda não parece muito confinante. "O pior que tive que lidar foi as pessoas descobrirem em qual hotel estou hospedado e aparecerem, pessoas gritando meu nome para mim, me filmando sem meu consentimento", disse ele. Ainda assim, nem sempre é confortável. No início de março, ele fez uma postagem já excluída de seu Instagram que o mostrava segurando uma mão feminina, e a internet ficou um pouco louca. "O mundo online é um lugar engraçado e as pessoas são muito, muito curiosas", avaliou.

Como ator, Galitzine está apenas começando a recompensar essa curiosidade. De muitas maneiras, ele é um exemplo inteiramente típico, ou no máximo um pouco disperso, de um homem da classe criativa na reta final de sua segunda década de vida.

Ele está começando a se interessar por vinil (seu gosto? "eclético"). Começou a trabalhar com madeira e quer experimentar cerâmica. Ainda não decorou sua nova casa e, embora tenha iniciado uma produtora, ainda não a nomeou. Mas em seu melhor trabalho ("Bottoms", "Mary & George"), há insinuações de profundidade, ousadia, de um senso de brincadeira.

Galitzine gostaria de assumir trabalhos mais significativos, disse, e explorar diferentes gêneros —faroestes, ficção científica. Ele acredita que "Mary & George" já está mudando a forma como Hollywood o vê, porque os papéis pelos quais está sendo abordado atualmente são mais complexos e exigentes do que eram no passado. "Estou conseguindo conviver com os cineastas que não teriam se interessado por mim antes", disse ele. "Isso me deu um senso de legitimidade que nunca senti que tive."

Isso é um sinal de sua maturidade, ele acredita, embora, quando fala sobre isso, ainda soe como um príncipe. "Há muito mais em oferta para mim agora", afirmou. "Estou um pouco como uma criança na loja de doces."