Érika Januza celebra 10 anos na TV e diz que fama diminui o racismo, mas não acaba com ele
Em 2012, ela trocou o emprego de secretária em uma escola pelo de protagonista da Globo
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Neste mês de novembro, faz uma década que a mineira Érika Januza, 37, trocou o emprego de secretária em uma escola em Contagem, na região Metropolitana de Belo Horizonte, pela oportunidade de estrear como atriz no seriado "Subúrbia" (Globo). De lá para cá, ela não parou mais de emendar trabalhos na televisão, no cinema, no streaming e no teatro.
"Passei no teste [para ‘Subúrbia’] e tinha muito medo, porque tive que abrir mão do emprego", lembra em entrevista ao F5. "Eu nunca tinha feito isso e era completamente sem experiência. Eu falei: ‘Deus será que vai dar certo?’."
Com o tempo, ela transformou a insegurança inicial em mola propulsora para conquistar mais espaço na profissão. Érika diz que precisava honrar a oportunidade que recebeu e começou a se dedicar ainda mais à carreira. Ela começou a pedir dicas para colegas de profissão, estudar muito e fazer sessões de fonoaudióloga para perder o sotaque mineiro.
A dedicação aos papéis é tanta que ela acaba, muitas vezes, tomando gosto pelas habilidades que aprende para a ficção, como as aulas de violino que fez para a novela "Em Família" (2014, Globo) e de tênis para a personagem Marina na novela "Amor de Mãe" (2019, Globo). "Aprendi a jogar tênis, virou o esporte da minha vida", conta a atriz, que acabou desistindo do instrumento musical. "No final das contas, eu só carregava o violino (risos). É difícil."
Hoje, ela se orgulha dos papéis maravilhosos que nem sempre teve a possibilidade de escolher, mas que teve a sorte de interpretar. Érika diz saber que nem todos os atores negros tiveram as mesmas oportunidades e aponta que ainda falta mais diversidade na televisão.
Apesar disso, aponta que os negros estão ganhando mais papéis de destaque, mesmo que tardiamente e não tanto quanto proporcionalmente deveria ter a maior parcela da população brasileira. A atriz citou a série "Arcanjo Renegado" (Globoplay), cuja terceira temporada ela acabou de gravar, que tem dois terços de elenco negro, e a novela "Todas as Flores", com um núcleo de negros e outros em posição de destaque. "Eu fico muito feliz porque sempre foi mais da metade de elenco branco, então está tudo bem ter mais da metade de elenco negro."
Ela também comemora a nova versão da Disney do clássico "A Pequena Sereia", que terá uma protagonista negra. Segundo ela, isso traz a esperança de acabar com o pensamento de uma minoria de que os negros só podem estar em determinados lugares. "Que bom que, aos poucos, está mudando. E não falo só da população negra, falo também do estereótipo de corpos e gêneros."
Sobre racismo, Érika disse que, como toda pessoa negra no Brasil, já passou por inúmeros episódios de preconceito antes da fama, que deixaram marcas. Ela ainda lembra da forma que foi recebida em agências de modelos com as pessoas a olhando de cima a baixo. "Era tipo: 'Você está querendo ser modelo?'. Hoje, eu enfrento isso e consigo identificar muito melhor [o preconceito]."
Ela admite que a fama diminuiu um pouco as situações de racismo e que percebe pessoas mudando de comportamento quando a reconhecem. "Às vezes, as pessoas me recebem de um jeito e ,quando entendem quem eu sou, mudam. Isso é uma coisa nítida que já aconteceu", disse. "Temos que enfrentar o racismo, e eu incentivo todo mundo a fazer isso, porque abaixando a cabeça isso nunca vai parar."
A atriz, que não costuma falar sobre política, também diz que espera mudanças na área de cultura com a troca de presidente no Brasil, a partir de janeiro. Na opinião dela, a democracia tem que estar à frente de qualquer rivalidade. "As pessoas têm que entender que o candidato já foi eleito e feita uma escolha pela maior parcela da população do país", disse. "Acho que as pessoas têm que se conformar e torcer, todo mundo torcer e ficar atento, de olho."