Lucinha Lins: 'Não sou mais uma gatinha mas isso não é problema'
Atriz está em cartaz com peça que debate o etarismo
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Envelhecer pode ser uma barra. Lucinha Lins, 69, sabe disso mas diz que não é o seu caso. "Claro que minha pele não é mais a mesma, não sou mais a gatinha, mas para mim, o melhor momento é o hoje, o agora", afirma a atriz, atualmente em cartaz em São Paulo com a peça "As Meninas Velhas". O espetáculo usa do humor para trazer a questão do etarismo ao debate.
A menção à gatinha tem sua razão de ser e vai além do adjetivo usado para classificar as mulheres jovens que se sobressaem esteticamente na multidão: nos anos 1980, Lucinha estava no elenco do musical "Os Saltimbancos Trapalhões", cantou "História de Uma Gata" ("Nós gatos já nascemos pobres / Porém já nascemos livres...") e o Brasil se apaixonou.
"Até hoje pedem para eu cantar, é uma loucura", conta. Musa de uma geração, ela demorou dois anos para ceder aos insistentes apelos da revista "Playboy". Posou em 1984, do seu jeito: sem nu frontal, num ensaio inspirado em fotos de Marilyn Monroe.
A década foi especialmente proveitosa profissionalmente para Lucinha, então onipresente em filmes, especiais da Globo, musicais, e até como apresentadora do infantil Lupu Limpim Clapa Topô, na Rede Manchete, em parceria com o ator, cenógrafo, figurinista e ex-integrante do grupo Dzi Croquettes Cláudio Tovar. Os dois são casados até hoje.
Em entrevista ao F5, Lucinha - mãe de quatro filhos (Luciana, Cláudio e João, de seu casamento com Ivan Lins, e Beatriz, com Tovar) e avó de três meninos - lembra com orgulho dessa época, mas diz não ser nostálgica. "Agora sou a gatona, caminhando para a gata velha. E tudo bem. Tenho meus momentos espetaculares hoje em dia, beirando os 70 anos".
Como as personagens da peça envelhecem e o que elas têm em comum com a Lucinha da vida real?
São quatro mulheres aposentadas, amigas da vida toda. Fiéis, se encontram todos os dias e se interessam umas pelas outras, se preocupam. Elas são uma lição de alegria e esperança. Eu também sou assim. O que passou, passou. Eu vivo o hoje. O melhor momento do mundo é o agora.
Você não tem saudades dos anos 1980, quando viveu o auge da carreira?
Não tem aquilo de 'Ah, como era bom ter 30 anos'. Agora estou com quase 70 e são outros tempos, igualmente maravilhosos. Até hoje me pedem para cantar 'História de Uma Gata' e isso me deixa emocionada, mas não sou nostálgica. Envelhecer faz parte da natureza, não é uma problema. Já a menopausa...
O que tem ela?
Se tem um desastre na vida de uma mulher chama-se menopausa. Mexe demais com a gente. Eu fiquei com insônia, vivia irritada, perdia a paciência por qualquer coisa. Cheguei a um ponto em que um dos meus filhos perguntou: 'Mamãe, está tudo bem? Você não está está mais falando com a gente. Está latindo.'
Como é estar casada há tanto tempo?
Quando penso que eu e Cláudio estamos juntos há 39 anos, penso: 'É muita coisa'. Mas é mais simples do que parece quando existe admiração, paixão. A gente conversa bastante, gosta de estar junto. Minha mãe sempre pergunta: 'Como vocês têm tanto assunto?'. Acho que isso conta muito.
E a libido?
Eu estou com 69 anos, ele tem 78. A vida nessa idade muda muito mas, pelo amor de Deus, não venha me dizer que sexualmente acabou tudo. Não é assim. As coisas vão se modificando e a gente vai se adaptando.
Um vídeo que você gravou em apoio à Operação Lava Jato e ao então juiz Sergio Moro viralizou em 2018. Nele, você dizia, entre outras coisas, que não tinha medo "de cara feia". Ainda pensa assim?
Eu não me arrependo. Acho lamentável o que estamos vivendo hoje. Como nós somos ignorantes! Como o brasileiro é ignorante! E não estou falando só do Bolsonaro não, querida. Também não gosto do Lula, de jeito nenhum, e acho essa terceira via um engodo. A Lava Jato foi um momento magnífico no país e não consigo entender como todos os que foram presos àquela época já estão soltos. É um absurdo.