Com projetos adiados, Allan Souza Lima passou parte de isolamento social estudando plantas
Ator que estará em filme sobre Suzane Ritchthofen pode ser visto atualmente em 'Novo Mundo'
O papel mais recente de Allan Souza Lima, 34, na televisão foi em "Órfãos da Terra" (2019), novela da Globo na qual ele interpretou Youssef. No entanto, o ator é mais reconhecido atualmente no corpo do Cacique Ubirajara, na trama de "Novo Mundo" (2017), atualmente reprisada pela emissora; e por integrar o elenco principal do polêmico “A Menina que Matou os Pais”, filme sobre Suzane Ritchthofen que ainda será lançado.
Com o filme adiado, por causa da pandemia do novo coronavírus, Lima revê seus trabalhos. Ele também precisou pausar projetos paralelos grandes que vinha desenvolvendo, como uma peça que reestrearia, e uma série para uma plataforma de streaming não divulgada, da qual ele seria o protagonista.
Para respeitar o momento, o ator decidiu fugir da hiperconectividade, promovida durante o isolamento social, e descobrir mais sobre si mesmo. "Fiquei um tempo isolado na mata. Venho cuidando muito da terra, estudando sobre plantas, lendo, cuidando de plantação, estudando o significado da terra. Isso para mim está sendo o maior aprendizado", diz. Abaixo, ele comenta sobre o período de quarentena, seus novos projetos, e como é estar no ar novamente em "Novo Mundo".
SOBRE A VOLTA DE 'NOVO MUNDO'
Acho interessante porque essa novela fala sobre a história do Brasil e é sempre bom relembrar o início de como tudo aconteceu na época do império. É um retrato do que a gente vive hoje. Falando de minorias, posso representar o núcleo que eu fiz, o índio, nossos povos originários, representando esse povo que é tão desvalorizado.
E desde aquela época a gente vive esse reflexo até hoje. E é perceptível o que a gente vive. É cíclico. Falam de política, se é direita, esquerda, postei um vídeo falando sobre isso. A situação que a gente vive não é de agora. As pessoas colocam que o Brasil começou na descoberta do Brasil, esquecendo que existiam povos ali antes dos portugueses chegarem. E esse berço dessa nova civilização, o que nos deixa principalmente é a corrupção. Isso é um reflexo do que a gente vive hoje, atual. E é muito difícil a gente hoje não envolver política falando sobre a história do que a gente vem vivendo. Então acho importante por esse ponto.
Sobre os bastidores, a novela teve um set muito gostoso. Dentro no nosso núcleo era incrível. Eu, Rodrigo Simas, Jurema Reis, Giullia Buscacio, era uma loucura. Temos várias cenas icônicas que a gente entrava em crise de riso e os diretores ficavam malucos com gente, mas eu falava que não era culpa nossa. A gente ria muito, se divertia. Daniel Dantas se divertia com a gente. Virou uma criança com a gente.
O CACIQUE UBIRAJARA
Foi lindo, foi um trabalho que apesar de ter sido bem cansativo, por conta das pinturas que eu fazia diariamente no decorrer da novela, mas em termo de aprendizado do personagem foi maravilhoso. Porque quando a gente embarca numa história, dá vida a algo, pelo menos eu na minha, da forma que eu acredito, é necessário a gente entender a história, tentar viver um pouco.
A arte do ator é essa. Tentar viver um pouco do que aquele personagem tem, o mínimo. E tentar entender a vida daquelas pessoas, principalmente o processo de preparação e a oportunidade que eu e outros atores tiveram. Fomos pra Amazônia, ficamos em uma aldeia indígena. Foi maravilhoso. Uma das grandes experiências que eu tive.
O que eu levo dessa experiência toda? Eu tenho uma ligação muito forte com a natureza. Sempre tive. Tanto que eu estava nesse período de isolamento isolado, perto da natureza. E uma coisa que eu levo e que ouvi de um cacique da aldeia parkateje, a aldeia que fizemos o processo de laboratório, ele falava que todo índio é um só. O espírito de coletividade que é o que o ser humano, como eles falam, que o homem branco não tem. Isso foi a maior lição que eu tive durante esse período da novela. Somos todos um só.
ISOLAMENTO SOCIAL
Nesse período pela primeira vez na minha vida, depois de quase 18 anos, coloquei de lado minha vida artística e quando entrou esse processo de quarentena não fiquei na preocupação de tentar desenvolver projetos como muitos nessa loucura vem buscando, fazendo lives. Eu fui pra um caminho oposto. Fiquei um tempo isolado na mata. Venho cuidando muito da terra, estudando sobre plantas, lendo, cuidando de plantação, estudando o significado da terra. Isso pra mim está sendo o maior aprendizado.
Ontem mesmo falei que existe a religião dos jardins, que é isso, na mesma potência, o valor de cuidar da planta não é só o amor à natureza, é cuidar do ser humano, da nossa psique selvagem. Então estou mais nesse processo, sendo bem sincero. Está sendo incrível, mas claro que há dias em que, como para todos, não é tão fácil. Mas está sendo um período muito transformador pra mim.
Agora que cheguei à minha casa, vou começar a entender essa volta e como a gente vai viver isso, como vou me adaptar a isso. Nós vamos nos adaptar, essa é a transformação artística né? Provavelmente vai mudar muita coisa. E o que eu falar, fora isso, vai ser mero "achismo", porque ninguém sabe o que vai acontecer.
PROJETOS ADIADOS
Eu ia estrear o filme da Suzane Ritchthofen, “A Menina que Matou os Pais”, em que eu faço o Cristian Cravinhos. Íamos estrear dia 3 de abril e como muitos outros projetos foi adiado e não tenho ideia de quando vai lançar o filme.
Também estava com uma peça que eu ia reestrear, pois eu tinha estreado na Fundição Progresso em outubro e a gente ganhou um edital do Teatro Glaucio Gil e ia reestrear no dia 2 de abril com direção e produção minha. “Ao anoitecer”, com texto de Juli Disla, que também foi adiada.
Não sei como vai ser essa volta dos editais de 2020. Se a gente vai refazer, se vai valer para 2021... Eu estava com uma série também engatilhada de uma plataforma de streaming, como protagonista, mas caiu por terra nesse período e estava começando a escrever meu monólogo, mas acabei parando também porque, como falei, acabei respeitando esse momento e resolvi buscar outras coisas, outros horizontes na minha vida.