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Chapa de Paulo Betti no Sindicato dos Artistas diz que denúncia de racismo é 'manobra eleitoreira'

Betti duela com Milton Gonçalves pelo comando da categoria

Milton Gonçalves e Paulo Betti: ação na justiça com acusação de racismo - Reprodução/Agnews
São Paulo

A chapa de Paulo Betti, 66, pela disputa da presidência do Sindicato dos Artistas do Rio de Janeiro qualifica como ataque desonesto e manobra eleitoreira a denúncia de racismo feita pelos atuais dirigentes do sindicato, os atores Milton Gonçalves, 85, e Jorge Coutinho, 85.

“A acusação é baseada em interpretação distorcida e equivocada de uma frase em que Paulo Betti elogia os companheiros Milton Gonçalves e Cosme dos Santos. A atual direção tentou pedir o indeferimento da candidatura da chapa 2, mas a manobra não obteve sucesso, e culminou na volta da chapa ao processo eleitoral após determinação liminar da 81ª Vara da Justiça do Trabalho”, diz em carta aberta a chapa de Betti.

Na defesa de Betti, a chapa diz que o ator possui uma “história de integridade e de luta democrática, desde a época da ditadura militar, é conhecida por todos, é artista e cidadão respeitado Brasil afora, e sua trajetória fala por si”: “Não às calúnias e aos atalhos desonestos. Um processo eleitoral legítimo só pode se dar num contexto de respeito, transparência e democracia”.

A eleição da presidência do Sindicato dos Artistas acontecerá em três datas: 29 e 30 de junho, e 1º de julho. Os Estúdios Globo, no Rio de Janeiro, é um dos locais de votação. Ao lado de Betti, a chapa 2 tem Tonico Pereira, Zezé Polessa e Júlia Lemmertz.

Por meio de sua filha, Milton Gonçalves disse que não vai comentar mais o episódio. Jorge Coutinho, por meio de sua secretária, disse que, por orientação de seu advogado, também preferiu o silêncio.

Entenda a acusação de racismo

Como a Folha revelou, os atores Milton Gonçalves e Jorge Coutinho estão processando Paulo Betti por racismo. A ação está na 33ª Vara Criminal do Rio de Janeiro. Segundo os autos do processo aos quais a reportagem teve acesso, Betti faz parte de uma chapa criada com intuito de concorrer contra Gonçalves e Coutinho no próximo pleito pela presidência do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Rio de Janeiro. Atualmente, eles ocupam os cargos de presidente e diretor-geral, respectivamente.

Todos os três atores estão no grupo de WhatsApp “Profissão Artistas”. No dia 16 de abril deste ano, Betti publicou a seguinte mensagem: "a atual diretoria do sindicato está lá há muito tempo e tem uma forte representação negra com Jorge Coutinho e o grande Milton Gonçalves, além do querido Cosme, isso complica bastante a luta, pois pode confundir as coisas". ​

Todos os três atores estão no grupo de WhatsApp “Profissão Artistas”. No dia 16 de abril deste ano, Betti publicou a seguinte mensagem: "a atual diretoria do sindicato está lá há muito tempo e tem uma forte representação negra com Jorge Coutinho e o grande Milton Gonçalves, além do querido Cosme, isso complica bastante a luta, pois pode confundir as coisas". ​

Milton Gonçalves e Jorge Coutinho querem que Betti esclareça em juízo o que quis dizer com suas declarações e responda a pelo menos três perguntas: "Que complicador seria o levantado por Betti diante o fato de Milton e Jorge terem forte representação negra? O que poderia “confundir as coisas”? Que coisas seriam essas? Que luta seria essa?"

"Embora não reste dúvidas quanto à hostilidade das palavras prolatadas por Betti, há real possibilidade de se aferir a prática de crime de injúria preconceituosa, dependendo do que declarar o interpelado”, diz a petição inicial.

O juiz Daniel Werneck Cotta determinou que Betti apresente sua defesa em 15 dias, a contar do último dia 13 de junho. A defesa se apoia no artigo 144 do Código Penal, no qual diz que, se Betti se recusar a dar explicações em juízo, ou o juiz entender que as explicações não são satisfatórias, ele deve responder pela ofensa. Caso condenado, Betti pode pegar de um a três anos de prisão, mais multa.

Betti diz que mensagem é fruto de vazamento

Paulo Betti, 66, afirmou que a mensagem que motivou a ação judicial movida contra ele por racismo é fruto de um vazamento e está fora do contexto da disputa pela presidência Sindicato dos Artistas do Rio de Janeiro.

Mensagem de Paulo Betti que motivou a ação judicial de Milton Gonçalves - Reprodução/WhatsApp

À Folha, o ator afirmou ainda que Milton Gonçalves, que move o processo, não estava no grupo. "Interpelação é uma coisa muito vaga, mas que tem uma gravidade para mim, e vou responder judicialmente. A mensagem está dentro do contexto da disputa sindical e foi enviada há quatro meses."

Ele afirma que as trocas de mensagens ocorreram dentro de um grupo de WhatsApp que discutia a eleição e que haviam outras ideais sendo debatidas no mesmo círculo. "O contexto era o de montarmos uma chapa para concorrer com a do Milton [presidente atual do sindicato]. E estávamos falando de como iríamos nos preparar para enfrentá-la. É uma questão muito delicada. Minha primeira peça profissional como diretor foi com Ismael Ivo, ele ator. Meu filme 'Cafundó', com Lazaro Ramos", disse, referindo-se aos dois artistas negros.

Para Betti, o diálogo tinha como objetivo a escolha de nomes para compor sua chapa, que conta com a composição de Tonico Pereira, Zezé Polessa, Júlia Lemmertz entre outros. O ator, contudo, diz não ter mais a sequência da conversa, pois já teria deletado de seu celular.

O ator disse ainda que não sabia quem ou o motivo que teria levado alguém de seu grupo a compartilhar esse diálogo com integrantes da chapa concorrente. O pleito para a presidência do Sindicato dos Artistas acontecerá em três datas: 29 e 30 de junho, e 1º de julho.