Novela 'Amor à Vida' sofre patrulha de categorias profissionais
Sempre que um profissional surge em cena, na novela "Amor à Vida", um conselho se forma do outro lado da tela. São médicos, enfermeiros, advogados etc., que esperam uma falha do colega fictício para apontar o que não ocorreria na vida real.
A trama das 21h da Globo chama a atenção pelo volume de queixas que recebe.
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No caso mais recente, psiquiatras reclamaram da cena em que a mocinha Paloma (Paolla Oliveira) foi tratada com eletrochoque.
"A grande preocupação é com a repercussão que cenas tão agressivas possam causar", manifestou-se a Associação Brasileira de Psiquiatria. "Temas como este devem ser levados ao conhecimento da população, mas com o devido cuidado."
Antes, advogados questionaram a ética da personagem Silvia (Carol Castro), laboratórios reclamaram da facilidade com que exames de DNA foram trocados e enfermeiros protestaram contra frases ditas por personagens.
"Daqui a pouco, do jeito que a população se influencia com as tramas novelescas, estaremos sofrendo as consequências na pele", diz Pedro de Jesus Silva, presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Rio.
"Parece haver uma tentativa de fugir de temas polêmicos que poderiam, ao serem debatidos, elevar o nível profissional", disse à Folha o autor, Walcyr Carrasco."Ao contrário, preferem escondê-los embaixo do tapete."
Maria Aparecida Baccega, estudiosa de telenovelas, acredita que uma novela sobre um mau profissional não tem o poder de afetar a percepção do espectador em relação a uma categoria.
"O público brasileiro está acostumado a distinguir realidade e ficção", avalia. "Existe uma base na vida real que leva à invenção desses personagens. É esse traço de realidade que incomoda."
SINTOMAS
Para a novela, cujo principal cenário é um hospital, Carrasco usa a assessoria de especialistas. Mesmo assim, houve quem questionasse a morte de Nicole (Marina Ruy Barbosa), vítima de linfoma de Hodgkin do tipo 4.
A Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular enviou carta à Globo alertando para o fato de a doença não ser letal: "Tememos por aqueles pacientes-espectadores que tenham a doença, pois podem ter sentido desconforto".
"Ficou claro que ela começou o tratamento tardiamente", rebate o autor. Segundo ele, os médicos deveriam ter gostado do merchandising social mostrando a importância de buscar tratamento ao primeiro sintoma.
Carrasco vê um viés autoritário nesse zelo. "Essas associações querem exercer um controle sobre o que a sociedade deve pensar. É atitude autoritária travestida de preocupação bem-intencionada."
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