Revendo os DVDs da "TV Pirata", o ator Ney Latorraca diz ter-se surpreendido.

"Não tinha a consciência do nível do programa. A qualidade, o bom gosto, a cenografia, o trabalho dos atores, a direção do Guel [Arraes]. A proposta tem até uma delicadeza. Porque, quando se pensa no humor, [o senso comum diz que] tem que sempre ser aos berros. O programa apostava na inteligência do público."

O ator fala com carinho dos 25 anos do programa de esquetes cômicas, que muitas vezes tendiam ao absurdo, que começou a ser exibido pela Rede Globo em junho de 1988.

Nesta terça-feira (18), às 12h30, o ator participa, ao lado do ator Antonio Calloni e do roteirista Marcelo Madureira, de um debate sobre as bodas de prata do programa que representou uma inovação do humor televisivo que se produzia à época.

O debate faz parte das programações da quarta edição do festival de humor Risadaria, que começou na última sexta-feira (14) e se estende até o próximo dia 23, com uma extensa grade de programação.

"Foi um grande sucesso e provocou um movimento dentro do humor. [Para o programa,] foram escalados atores de teatro, o que dava uma linguagem diferente. Nós adorávamos compor dentro dos personagens, o que é difícil de se fazer na televisão. Era uma delícia", relembra.

O ator --que, dentre outros personagens, encarnou o muito lembrado Barbosa, cujas falas restringiam-se à repetição do próprio nome-- aponta a troca de energias entre o elenco como uma das razões do sucesso. "A temperatura do humor nasce dessa troca", diz.

GERALD THOMAS

O ator diz que atualmente trabalha, com Gerald Thomas e o ator Edi Botelho, no desenvolvimento do texto de "Entredentes", quarta colaboração dele com o diretor, que tem previsão de estreia em janeiro de 2014.

"Na peça, eu 'recebo' vários personagens. Como um garoto, que desenvolvi a partir de uma criança grosseira que vi reclamando com a avó. Eu comecei a imitar o menino para o Gerald e ele me disse: 'Esse garoto vai aparecer na peça'. Tem também um camelo que, uma vez, me olhou de uma tal maneira... Eu interpreto esse camelo. Para valer", adianta.

"O espetáculo trata de duas pessoas que se encontram e inclui um flashback de tudo que aconteceu comigo", diz, referindo-se aos problemas de saúde que enfrentou no segundo semestre de 2012.

"Eu não sabia que eu era realmente tão querido. Virou uma comoção. Eu fui testemunha. O amor é um remédio", diz o ator, agradecido pelo apoio que recebeu durante o revés.

"No mundo inteiro, a palavra comediante no dicionario significa o ator que faz qualquer tipo de papel, que representa todos os papeis. Canta, dança", diz o comediante.

"Aqui a comédia é tratada como uma coisa menor, mas é a mais difícil de se fazer. [...] Eu tenho uma ideia um pouco exagerada. Prefiro agradar uma pessoa de nível a agradar um grupo grande de imbecis", finaliza.

TV PIRATA: BODAS DE PRATA
QUANDO: terça-feira (18), às 12h30
ONDE: teatro Eva Herz (Livraria Cultura do Conjunto Nacional; av. Paulista, 2.073; tel.: 0/xx/11 )
QUANTO: grátis (162 lugares; ingressos distribuídos meia hora antes)
CLASSIFICAÇÃO: livre