Em entrevista à "Folhinha" deste sábado (23), Xuxa reclama da falta de espaço que os programas infantis têm na TV aberta.

Xuxa parecia 'professora bem ranhenta e chata'; releia texto de 1984

Mas nem sempre foi assim. No fim dos anos 1980, Xuxa, Mara Maravilha e Angélica dividiam a grade da televisão com suas gincanas e desenhos animados para crianças.

Na edição de 14 de fevereiro de 1988, a "Folhinha" conversou com as três apresentadoras. Releia abaixo a entrevista feita por Thales de Menezes e Heloísa Fernandes.

Três estilos parecidos marcam as apresentadoras Xuxa, Mara e Angélica. Elas comandam programas que alternam desenhos com brincadeiras.

Xuxa é a campeã de audiência, e as outras seguem atrás. Xuxa, 24, que recebeu a Folhinha durante a filmagem de "Super Xuxa Contra o Baixo Astral", no Rio, atinge 9% de audiência na Grande São Paulo, segundo o Ibope. Mara, 19, que deu entrevista em São Paulo, alcança 4% com o "Show Maravilha". Angélica, 14, e seu "Clube da Criança", atinge apenas 1%.

Folhinha - Qual a imagem que você passa para as crianças?

Xuxa - Essa é a pergunta mais difícil que alguém já me fez. Na primeira vez que fui convidada a fazer um trabalho para os baixinhos, as pessoas disseram "põe essa roupa aqui". Eu disse que não, e botei um lacinho aqui, outro ali, botei pulseira. Quero ser sempre um presente para as crianças. Já fiz trabalho com baixinhos que não veem, e eles falaram que minha voz levava alegria. Já perguntei para baixinhos que não ouvem, e eles disseram que minha imagem era gostosa de olhar.

Angélica - As crianças estão se maquiando mais novas. Não devem fazer isso sempre, se vestir como adultas. A criança tem que ser criança, brincar, usar rabinho de cavalo, mas quando ela quer imitar o que viu na TV, deve fazer; ela também tem a vaidade dela.

Mara, seu programa é do jeito que você quer?

Mara - Faço programa infantil desde os oito anos, na Bahia. Todo mundo diz: "Seu programa é igual ao da Xuxa". É igual mesmo. Que eu posso fazer? A televisão não é minha. Mas Mara não é parecida com Xuxa. Quem encuca com a comparação são as pessoas que não assistem ao meu programa e não compram meu disco. Criança é uma coisa linda, e não faço programa pra elas por demagogia.

O que você acha dos programas infantis da TV?

Xuxa - Fico chateada porque a criança vai ligar a televisão e não vai ter opção, a não ser uma cópia e isso é ruim. É chato ver pessoas talentosas copiando a gente. Tem alguns programas bons; eu acho gostosos muitos desenhos que existem, mas na realidade, todo mundo há de convir que são cópias.

Mara - É a Mara, o Sérgio Mallandro, o Bozo, a Xuxa. Chega uma hora em que a criança liga a TV no Sérgio Mallandro e vê a mesma coisa que vê na Xuxa; liga na Xuxa e vê a mesma coisa que na Mara, e assim por diante. Eu acho isso prejudicial. No meu programa quero fazer brincadeiras das quais todo mundo participe. Porque é assim: duas crianças brincam, as outras olham, acaba a competição, vem um desenho e depois o comercial.

Xuxa, como você lida com sua imagem nos produtos, especialmente na boneca?

Xuxa - Com a maior vontade de que os produtos sejam bem aceitos, porque eles só saem com a minha autorização. E eu quero saber todos os detalhes. A boneca foi um estudo de quase quatro anos. Uma menina e sua mãe fizeram uma boneca de pano que a menina dizia que era eu e fazia de travesseiro. Foi aí que eu tive a vontade de que a boneca fosse de pano no corpo para as crianças poderem dormir com ela.

Xuxa, fale sobre o filme "Super Xuxa Contra o Baixo Astral".

Xuxa - O que a gente quis passar ali é que as pessoas precisam curtir mais as coisas bobinhas da vida, passar perto do mar e pensar "Puxa, o mar está azul hoje". Se a gente não fizer isso, vai cair no baixo astral.

Angélica, você tem tempo de estudar?

Angélica - Eu falto à metade das aulas de segunda e a todas de terça para gravar no Rio. Mas nos outros dias pego a matéria com minhas amigas e faço as provas que perdi.

Quais são as novidades para esse ano?

Xuxa - Eu tinha vontade de fazer uma campanha grande contra a droga, o cigarro, a bebida, poder botar profissionais explicando a fundo como essas coisas fazem mal. O meu ídolo, Michael Jackson, está fazendo a campanha "say no" para droga, e eu já falo "diga não" com as crianças há muito tempo. Ele está escolhendo uma pessoa em cada parte do mundo para apresentar o "say no" e eu fui uma das escolhidas.

Mara - Eu vou lançar o livro infantil "Uma Aventura Maravilhosa no Planeta Tron". Acho que no final do ano vai dar para montar uma peça infantil legal. E eu montei uma grife minha, chamada A Pata do Gato.

Angélica - Eu quero continuar fazendo o programa, vou gravar um disco pela CBS e quero também lançar produtos com meu nome, como uma boneca.