Saiu no NP

SAIU NO NP: Terremoto arrasa Cidade do México

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O terremoto de magnitude 8,3 que atingiu o Chile na última quarta-feira (16) —e que até o momento provocou a morte de 13 pessoas, deixou cinco desaparecidos, 14 feridos e um rastro de destruição— traz à tona outros desastres similares ocorridos no continente americano. A seção "Saiu no NP" de hoje (23) relembra o sismo de 19 de setembro de 1985 que devastou a Cidade do México. Uma tragédia que os mexicanos e o mundo nunca esquecerão.

Parecia uma manhã de quinta-feira como todas as outras, mas algo estava para acontecer... Eram exatas 7h19 quando um grande abalo de 8,1 graus na escala Richter —com epicentro no mar de Michoacán, no oceano Pacífico— arrasou a maior cidade do México.

O "Notícia Populares" de 20 de setembro de 1985 trouxe aos seus leitores as primeiras informações do incidente com destaque em sua capa: "Terremoto estraçalha o país da Copa do Mundo". O jornal trazia informações de agências de notícias internacionais sobre os estragos causados pelo tremor. De acordo com o que elas haviam apurado até aquele momento, ao menos 300 pessoas haviam morrido sob as toneladas de escombros dos edifícios que desmoronaram na capital e em outros Estados também atingidos.

Ainda no dia 20, 36 horas depois, o México sofreu com outro terremoto, desta vez com magnitude de 7,3. Resultado: mais mortos e desaparecidos entre os destroços e maior dificuldade nos trabalhos de resgate das vítimas.

Crédito: Matuiti Mayezo - 20.set.1985/Folhapress
A atriz Rosi Campos beija seu filho, de 3 anos, pelo vidro que separa a alfândega do saguão do aeroporto de Guarulhos

Em sua manchete de 21 de setembro de 1985, o "NP" trouxe uma notícia importante para nosso país: "Milagre: Deus salva 25 brasileiros no terremoto". Na edição, o diário contou como foi a chegada ao Brasil destas mais de duas dezenas de pessoas, sobreviventes do hotel Hilton Continental, onde morreram 300 hóspedes.

Durante o desembarque no aeroporto internacional de Guarulhos (SP), o jornal ouviu Pedro Pereira da Silva, um dos integrantes do grupo de teatro Ornitorrinco que estavam hospedados no hotel. "Acordei após ouvir um grande estrondo. Pensei que fosse um bombardeio. Quando constatei o que estava acontecendo, corri para a escada de incêndio. Do quinto andar, onde eu estava, a cidade parecia Beirute. Os prédios desabavam e pegavam fogo".

Ainda sobre a chegada dos brasileiros, uma cena emocionou a todos. A atriz Rosi Campos, uma das sobreviventes, beijou o filho de três anos pelo vidro que separa a área da alfândega do saguão do aeroporto. Naquele momento, os presentes foram às lágrimas.

Segundo o Itamaraty, até então não havia qualquer notícia de morte de brasileiros, apesar de não saber informar com certeza quantos viviam ou estavam no México quando a tragédia aconteceu.

Crédito: Matuiti Mayezo/Folhapress
A atriz Rosi Campos segura o filho no saguão do aeroporto, após ter sobrevivido ao terremoto no México

No dia seguinte, o "Notícias Populares" estampou em sua 1ª página: "Os gritos do terror dos soterrados vivos - Capital do México já é o maior cemitério do mundo". A edição de 22 de setembro de 1985 mostrou fotos do que havia restado na cidade e contou relatos sobre a situação dos trabalhos de resgate. O número de mortos já ultrapassava 3.000, os feridos eram tantos outros milhares e ainda se ouviam gritos e gemidos dos soterrados. O cheiro de morte pairava no ar.

A cada dia que se passava, eram cada vez menores as chances de se encontrar algum sobrevivente embaixo das várias toneladas de concreto. Eis que a esperança foi acesa novamente com o salvamento de um recém-nascido, 55 horas após o terremoto. Ele estava entre os escombros de uma maternidade —outros 57 bebês também foram retirados dali com vida, e, apesar de muitos não terem resistido, a confiança em prosseguir com os salvamentos ressurgia com força.

Várias equipes de diferentes países, como França e EUA, por exemplo, participaram dos salvamentos. O Brasil foi representado por bombeiros e policiais enviados de São Paulo, com mais de 350 kg de equipamentos.

No dia 25 de setembro, o "NP" contou a história de luta pela vida do mexicano Rubem Vera Rodrigues, na época com 29 anos, que bebeu a própria urina durante dias para se manter vivo até ser resgatado. Dois dias depois, foi a vez de um bebê com apenas dez dias de vida —sendo 8 destes passados sob os destroços— ser resgatado.

Especialistas da área da saúde diziam que o fato de haver cadáveres em decomposição em meio aos escombros poderia provocar surtos epidêmicos entre a população, e que seria necessária uma remoção mais rápida de todo aquele concreto. Porém, o presidente do México, Miguel de La Madri, recusava-se a usar dinamite ou qualquer outra medida do tipo enquanto houvesse a possibilidade de resgatar pessoas.

O terremoto que praticamente dizimou a capital Cidade do México matou mais de 10 mil pessoas —há divergências entre autoridades e especialistas, que afirmam que esse número pode ter sido próximo de 40 mil—, feriu cerca de 30 mil, destruiu mais de 400 edifícios e deixou aproximadamente 100 mil desalojados. Sem contar os efeitos psicológicos que a tragédia trouxe aos que presenciaram o desastre e o seu desenrolar, os empregos perdidos e os prejuízos culturais e financeiros. O povo mexicano e o mundo nunca esquecerão.


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