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Jovens subvertem regras da sedução com 'não encontros'

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Talvez pelo fato de ter conhecido o rapaz no site de encontros on-line OkCupid, Shani Silver, uma administradora de mídia social e de um blog na Filadélfia, pensou que o "encontro" que eles tinham combinado seria algo a sós.

"Às 22h ele ainda não tinha dado notícias", contou Shani, 30. Finalmente, às 22h30, chegou uma mensagem de texto. "Oi, estou no Pub & Kitchen, quer vir pra cá tomar um drinque ou alguma coisa?" escreveu o músico, acrescentando: "Estou com um bando de amigos da faculdade."

Shani mandou um SMS de volta, recusando educadamente. "A palavra 'encontro' deveria ser eliminada do dicionário", comentou. "O que temos hoje é um ciclo de mensagens de texto. Para interpretá-las, é preciso ter a habilidade decodificadora de um espião da Guerra Fria."

Criados na era do "ficar", os jovens da geração do milênio (também conhecidos como geração Y), que agora estão começando a pensar em se assentar, vêm subvertendo as regras da sedução.

Crédito: Jennifer S. Altman/The New York Times Denise Hewett, 24, envia mensagens de texto na boate e espaço de performances The Box, em Manhattan, que ela frequenta
Denise Hewett, 24, envia mensagens de texto na boate e espaço de performances The Box, em Manhattan

Em vez de um encontro com jantar e cinema, algo que parece tão obsoleto quanto um telefone discado, eles entram em contato por mensagens de texto, posts no Facebook, MSN ou semelhantes e outras formas de "não encontros". Tudo isso vem deixando uma geração que não sabe como conseguir um namorado ou uma namorada.

"O novo encontro não é um encontro, é passar tempo juntos", comentou Denise Hewett, 24, produtora de TV em Nova York que está criando um seriado sobre essa nova paisagem romântica. Como um amigo lhe disse: "Não gosto de levar uma garota para sair. Gosto que ela me encontre em alguma coisa que estou fazendo -ir a um evento, um show, por exemplo".

Muitos estudantes nunca tiveram um encontro tradicional, comentou Donna Freitas, que deu aula de estudos de religião e gênero na Boston University e na Hofstra University, em Hempstead, em Nova York, e é autora do livro ainda inédito "The End of Sex: How Hookup Culture is Leaving a Generation Unhappy, Sexually Unfulfilled, and Confused About Intimacy" [O fim do sexo: como a cultura do ficar está deixando uma geração infeliz, sexualmente frustrada e confusa em relação à intimidade].

O problema, disse ela, é que "os jovens de hoje não sabem o que fazer além de 'ficar'. Eles perguntam: 'Se você se interessa por alguém, como faz para se aproximar da pessoa?'".

Especialistas em relacionamentos apontam para a tecnologia como um dos fatores que pôs a cultura dos encontros de ponta-cabeça. Para fazer a corte a alguém do modo tradicional --ou seja, pegar o telefone e convidar a pessoa para sair-- era preciso coragem, planejamento e um investimento considerável de ego (uma rejeição ouvida pelo telefone dói).

Não é o caso com as mensagens de texto, os e-mails, o Twitter ou outras formas de "comunicação assincrônica", como classificam os especialistas em tecnologia. No contexto do relacionamento, esses tipos de comunicação dispensam o charme, em grande medida.

Diante de um fluxo interminável de solteiros entre os quais escolher nos sites de encontros on-line, muitas pessoas têm medo de estar perdendo alguma coisa interessante, então optam pela abordagem "speed-dating" --ou seja, passam rapidamente por grande número de pretendentes.

"É como jogar dardos contra um alvo", disse Joshua Sky, 26, coordenador de "branding" em Manhattan. "Alguma hora uma das setas vai grudar no alvo."

Há outra razão que explica por que os encontros à moda tradicional tornaram-se obsoletos. Se o objetivo do primeiro encontro era saber um pouco sobre as origens do pretendente, seu grau de instrução, suas tendências políticas e seus gostos, hoje o Google e o Facebook cuidam de tudo isso.

"Hoje em dia, somos todos doutores em matéria de fuçar a vida das pessoas na internet", comentou Andrea Lavinthal, autora do livro de 2005 "Eu Fico, Tu Ficas, Ele Fica". "Quando se pesquisa a vida das pessoas on-line, o primeiro encontro parece desnecessário, porque cria um senso falso de intimidade. Você pensa que está sabendo de todas as coisas importantes, quando só sabe que a pessoa assiste a 'Homeland' (seriado de TV)."

Outro complicador é a mudança na dinâmica do poder econômico entre homens e mulheres, diz Hanna Rosin, autora do livro "The End of Men" [O fim dos homens].

"Nossa ideologia está adequando-se à realidade financeira", comentou. "Um homem pode dizer que levar uma mulher num encontro é ultrapassado, uma relíquia de uma era paternalista, porque ele não tem dinheiro para levá-la a um restaurante".

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