Factoides

HUMOR: Opressor ou Oprimido, o jogo

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2014 já começou frustrando expectativas: achávamos que o Brasil testemunharia o primeiro enterro de anão da história até descobrirmos que o grande Nelson Ned escolhera ser cremado, no que pareceu uma espécie de trollagem póstuma (o que não impediu a POROROCA de piadas horríveis envolvendo anões nas redes sociais –pode chamar de nanohumor).

Em compensação, o ano também vem confirmando o que esperamos de pior. Os comentaristas de internet, por exemplo, continuam sendo uma forma de vida abaixo dos reinos fungi, protista e monera (o Bananão seria um país melhor se o aumento do IOF incidisse apenas sobre babacas que avaliam o "grau de gostosura" de uma presidente de 66 anos que vai à praia).

Além disso, o capitalismo continua sendo uma ideia que não pegou muito no país: vide a ministra ameaçando as empresas aéreas de TER COMPETIÇÃO se "cometerem abusos" durante a Copa. E a violência é encarada como parte da paisagem –o Brasil é tipo aquele ônibus circular entre barbárie e decadência que não passa nem perto da civilização.

Enfim, como dizia o poeta: uou, uou, uou, uou, nada mudou. Mas nunca devemos deixar de achar que um mundo melhor é possível. Eu mesmo passei as férias pensando num jogo de tabuleiro (sim, tabuleiro: sou vintage, me deixa) que, além de instruir e divertir, fará de todos nós seres humanos melhores enquanto pessoa A NÍVEL de gente: "Opressor ou Oprimido?".

Crédito: Danilo Verpa/Folhapress A presidenta Dilma (de boné branco) dentro mar na Praia de Viracao em Salvador
O fotógrafo clicou a Dilma na praia, mas esqueceu de enquadrar o PIB brasileiro morrendo afogado ali pertinho.

O objetivo de "Opressor ou Oprimido" é saber com quem a gente deve fazer piada (o opressor) e com quem gracinhas estão terminantemente proibidas (o oprimido). Tudo o que você precisa é de um dado de seis faces pra avançar pelas casas do tabuleiro, cujos pontos extremos são o Eike Batista gargalhando e um craqueiro sem teto. Exemplos de lances:

1. O número do dado fez você cair na casa de João, que é operário (ou cortador de cana, ou sem-terra). Oprimido, com certeza: pode avançar cinco casas. Opa, caiu na casa em que João bate na mulher e ainda a trai com outras duas? Opressor, volte 15 casas.

2. Outro lance: você cai na casa de Maria, que é empregada doméstica e trabalha mais de 12 horas por dia sem carteira assinada. Avance dez. Ih –caiu na casa em que se descobre que Maria, que é evangélica, detesta gays e vota no Feliciano? Volte 20 o mais rápido possível.

"Mas assim ninguém chega a nenhuma ponta do tabuleiro!", dirá você, oh sagaz leitor. Não tem importância: bem ali no meio existe o círculo LIMBO DA CLASSE MÉDIA. Se João ou Maria caírem ali, passam a ganhar a fortuna de mais de R$ 300/mês; podem, portanto, apanhar mais que todos os Judas do Brasil no sábado de Aleluia. Tá liberado esculhambar sem dó.

Vou lutar pra que o governo torne esse jogo obrigatório para cada brasileiro antes da emissão de uma piada (minha proposta, aliás, inclui a criação de cargos de Fiscal de Piada, gerando emprego e cidadania para milhares de pessoas). Se não der certo, oferecerei cursos de como disfarçar preconceito com "progressismo". Afinal, o que pode ser melhor que passar por amigo da senzala preservando todos os privilégios da casa-grande?


RUY GOIABA concorda com o cartunista Arnaldo Branco, que uma vez disse que a base do humor brasileiro era "bicha escandalosa e pobre que fala errado". Mas sonha (I have a dream!) com o dia em que não haverá mais párias que não possam ser tocados nem zoados.

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